Opinião: O meu milésimo artigo no LusoJornal digital

No dia 16 de junho de 2011, escrevemos o nosso primeiro artigo no LusoJornal, editado, na altura, semanalmente em papel, contabilizando 312 artigos sob aquele suporte. O primeiro artigo dava a informação de que o FC do Porto tinha terminado em terceiro em Juniores no torneio de futebol de Saint André-Lez-Lille.

Princípios de junho de 2017, LusoJornal muda de formato, passa a ser difundido digitalmente. O primeiro artigo sob esta forma tinha por título : «No dia 25 de abril, floriram os Cravos da Liberdade e da Democracia na Casa de Portugal em Paris!», sendo António Oliveira o seu autor.

No momento em que escrevemos, o LusoJornal conta 20.170 artigos editados, ou seja, uma média de 7,6 artigos por dia desde princípios de junho de 2017.

É obra, não ?

Com que apoios ? Poucos, não suficientes.

Escrevemos aqui o nosso milésimo artigo sob forma digital. O primeiro, neste formato, tinha por título «Associação Sócio-Cultural dos Antigos Combatentes das Ex-Colónias Portuguesas festejam os seus 20 anos», foi editado em francês no dia 11 de junho de 2017.

Carlos Pereira, Diretor-fundador deste jornal dá a possibilidade, a escolha, de escrevermos em português ou em francês, talvez único jornal nas Comunidades a nível mundial a dar esta opção.

As nossas vidas são feitas de fases. Para nós houve os primeiros anos na aldeia, seguidos de dois anos por França, regressámos a Portugal onde fomos até o 7° ano, tínhamos 18 anos quando viemos juntarmo-nos a nossos pais em França, seguem-se os estudos universitários durante os quais efetuamos a nosso trabalho de fim de estudos sob o tema : “A emigração portuguesa na vila de Roubaix”. Paralelamente criámos uma das primeiras emissões – “A voz de Portugal” – em língua portuguesa, em rádios livres em França, na rádio Boomerang. A canção de Dino Meira “Zum, Zum, Zum” indicava o início do programa semanal. Estávamos em setembro de 1981. Criámos aulas na associação Amicale Luso-Francesa de Roubaix e na Associação de Cooperação Franco-Portuguesa de Tourcoing, aulas da 4a Classe e exame ad-hoc do 5° ano.

Durante 40 anos, exercemos como bancários, o atletismo sendo o nosso passatempo preferido.

Há três anos mudamos de profissão: reformado.

Será também da idade? Passámos a ter uma agenda.

Porquê escrevermos no LusoJornal?

Colocámo-nos a pergunta, por vezes há mesmo vontade de fazermos uma pausa. Será que é útil escrevermos, será que somos lidos, será…? Ou será, por vezes, a dúvida, as dúvidas, que nos fazem avançar, escrever?

Penso que antes de tudo, temos vontade de partilhar a informação que chega até nós, de partilhar as nossas pesquisas, os nossos centros de interesse.

É-nos pedido para descrevermos, sermos sucintos. Será que o conseguimos? Queiramos ou não, algo de nós nos artigos é transcrito, pelo tipo de artigos, pela escolha dos temas…

Escrever para o jornal tornou-se como uma droga para nós. Uma droga que esperamos seja salutar, mas também salutar para vocês que nos leem.

Que temas abordamos nos nossos artigos? Um pouco de tudo, desde que haja algo de ligação entre França e Portugal, algo que se passe na Comunidade lusa de França, muito especialmente dos Hauts-de-France.

Temas que têm sido motivos de numerosos artigos são a I Guerra mundial e a participação do Corpo Expedicionário Português (CEP), ultimamente a II Guerra mundial e a participação dos Portugueses, embora Portugal tenha tido uma atitude neutra neste conflito.

Escrevemos para tentarmos ajudar Carlos Pereira, na sua obra do LusoJornal, cujo início da construção fez recentemente 20 anos.

Vinte anos de bons, mas também difíceis momentos para o LusoJornal, com o risco de desaparecer, risco que ainda prevalece, por falta de apoios institucionais e empresariais.

Escrevíamos há dias que, por detrás de cada artigo do LusoJornal, há um jornalista, há um trabalho.

A digitalização, a pandemia, veio dar um grande impulso ao LusoJornal. Durante aquele período tentámos ajudar a fazer viver o LusoJornal, houve um aumento enorme de leitores, contudo, será que a doença da dificuldade da edição do LusoJornal foi sarada, estabilizou, agravou?

O LusoJornal necessita, tem que ser apoiado, senão corremos o risco de se dizer: «era bom quando o LusoJornal escrevia sobre nós, dava informações que ninguém dava, eram formidáveis… eram… É importante o presente, o presente de LusoJornal é importante, como importante é contribuir para o seu futuro, para a sua sobrevivência.

Pessoalmente temos tentado ser factuais no que escrevemos, mesmo se assim sendo, já fomos ameaçados com tribunal, já nos foi dito por autoridade que “dávamos uma má imagem de Portugal”… é muito difícil de “agradar a gregos e a troianos”.

Escrevemos, damos notícias em função da atualidade, não em função dos ganhos que daí podem advir. Lembramo-nos, contudo, de um suplemento no LusoJornal papel que consagrámos à região Norte de França. Solicitámos apoio financeiro, eventuais mecenas, para ajudarem a pagar o papel do suplemento, empresas houve de quem tínhamos escrito artigos que nunca responderam à solicitação, foram empresas de que nunca tínhamos falado que ajudaram parcialmente a dita publicação do suplemento. E que dizer de certas instituições portuguesas?

Solicitámos arquivos em França para nos fornecerem elementos úteis para artigos, respondem sempre e por vezes no próprio dia. De Portugal: de instituições municipais, civis, a uma ou duas exceções, nunca respondem. Daí uma certa mágoa em nós, em vós… temos a impressão de que o nosso país de origem nos vai esquecendo, esquecendo os nossos filhos, netos que ainda ousam dizer-se serem lusodescentes. Passam a ser considerados como simples turistas no seu país de origem ou de onde são originários os pais ou avós.

Escrever para o LusoJornal tem sido um privilégio, uma aventura com belos encontros, belas descobertas… uma riqueza partilhada. Recebida?

Quantos artigos estão por escrever? Por quanto tempo ainda? Motivos para escrever?

Depende da saúde do LusoJornal, da nossa… depende de vós que nos leis.

Agradeço a quantos nos têm ajudado nas nossas pesquisas, nos temas aqui tratados, muito especialmente à Christine da Costa, João Carlos Durão, Lionel Delalleau, Luís Gonçalves, entre muitos outros.

LusoJornal