Opinião: Portugal perante o seu destino – responsabilidade, escuta e ambição_LusoJornal·Opinião·5 Junho, 2025 As eleições legislativas de 18 de maio de 2025 representam mais do que uma simples alternância. São o reflexo direto de uma transformação no estado de espírito do povo português – um povo que quer ser ouvido, respeitado e protegido. Que continua a confiar na democracia, mas que exige dos seus representantes clareza, resultados e coragem. A vitória da Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, traduz uma escolha por responsabilidade, estabilidade e seriedade. É um voto de confiança, mas também de exigência. A AD governa sem maioria absoluta, num Parlamento fragmentado, onde o equilíbrio político exige não só firmeza, mas também sentido de Estado e inteligência estratégica. A ascensão do Chega, que se torna a segunda força parlamentar, não deve ser encarada como um risco para a democracia. É, acima de tudo, a expressão legítima de um descontentamento que não foi ouvido durante demasiado tempo. Muitos portugueses sentem-se esquecidos, inseguros ou simplesmente deixados para trás. O voto no Chega é um voto democrático e deve ser tratado com respeito. Não nos cabe estigmatizar eleitores – cabe-nos compreendê-los, escutá-los e apresentar soluções concretas e credíveis. Este fenómeno não é exclusivo de Portugal. Manifesta-se em quase todos os países europeus. A nossa sociedade, como outras, vive os efeitos da imigração desregulada, da crise na habitação, da insegurança urbana, da instabilidade económica e de uma perceção crescente de distância entre elites políticas e realidade quotidiana. Quando a política tradicional falha em dar respostas, surgem novas vozes. Ignorá-las ou desqualificá-las seria um erro. O verdadeiro antídoto é agir: com verdade, com propostas e com compromisso sério. Luís Montenegro tem demonstrado essa maturidade. Ao optar por um caminho de centralidade responsável e governabilidade estável, sem se encostar a soluções fáceis ou ao populismo, confirma que liderar é saber escolher. A estabilidade exige mais do que alianças numéricas – exige visão de médio prazo e legitimidade política. A atual Assembleia da República reflete um país mais plural. E é nessa diversidade que devemos construir entendimentos, com respeito mútuo e sem arrogância. Não podemos repetir erros de outras latitudes: em 2002, a chegada de Jean-Marie Le Pen à segunda volta das presidenciais em França foi ignorada por muitos. Alguns recusaram debater com a extrema-direita, achando que bastava excluir para vencer. Hoje, todos reconhecem que foi um erro. O silêncio e o desprezo só alimentam o ressentimento. Devemos escutar mais, julgar menos e compreender melhor. . Dar voz aos portugueses da Europa A eleição de Carlos Gonçalves, pelos portugueses da Europa, é um sinal claro da importância crescente da nossa diáspora. Os portugueses no estrangeiro são parte viva da nossa identidade. Representá-los é reconhecer que o futuro de Portugal também se constrói fora das nossas fronteiras. Carlos Gonçalves, com a sua dedicação e proximidade, continuará a ser um elo essencial entre Portugal e as suas comunidades. . Aos deputados e a todos os responsáveis políticos A política faz-se no terreno. Não se faz apenas nos gabinetes nem nos debates televisivos. Faz-se a ouvir, a dialogar, a compreender as realidades diversas do nosso povo. A missão é clara: reforçar os serviços públicos, recuperar a autoridade do Estado, dar esperança à juventude, proteger os que trabalham e criar uma economia dinâmica, com oportunidades para todos. Prometer já não basta – é tempo de concretizar. Portugal atravessa um momento crucial. As eleições foram apenas o ponto de partida. O verdadeiro desafio começa agora: governar com lucidez, firmeza e espírito de abertura. Sem medo da escuta. Sem medo da crítica. Com uma só bússola: o interesse nacional. A história olha para nós. Sejamos dignos da grandeza de Portugal! . Mickaël Fernandes