Home Opinião Opinião: As férias nem sempre servem para se refrescar na água…Manuel Maia Teixeira·11 Julho, 2025Opinião Regresso a Vilar e o Seixoso! Meu ninho de nascimento. Acabo de concluir mais uma das minhas habituais caminhadas de cerca de sete quilómetros pela freguesia de Macieira da Lixa. Em seguida, tomando um pequeno caminho de terra por entre árvores, subi a colina para, acompanhado de minha esposa, iniciar este passeio que nos conduz até à casa onde nasci. Um belíssimo prédio com arquitetura particular deixa-se avistar por entre a folhagem, em contorno deste sítio parecido com um paraíso encantado, uma vasta vinha que prosperou e ganhou renome na restauração portuguesa sob o nome de “Quinta da Lixa”. Há apenas uma semana, tive um jantar aqui pertinho e a escassas centenas de metros deste monumento, numa bela e recente moradia pertencente ao meu primo Paulo, um Maia de raiz profunda. Paulo jamais precisou de emigrar para vencer e construiu ali mesmo a sua vida, garantindo aos filhos uma formação universitária sólida e repleta de promessas. Do alto da varanda da sua casa, pouco antes de um jantar saboroso com aromas do passado, sabores herdados da nossa avó Delfina e da mãe do Paulo, minha tia Maria, lançámos um último olhar sobre o meu pequeno ninho natal. Um olhar doce e profundo, lançado entre o ontem e o hoje, selando um instante suspenso no tempo, onde as memórias dançavam ao som dos sinos da igreja que repousa sobre a colina em frente, o coração desta freguesia de Borba de Godim. Lá em cima aparece a casa de meus avós, os Maias da Igreja e recentemente muito bem restaurada por um casal com gostos do tradicional completado por um conforto de nossos dias. Nasci aqui, bem perto, a não mais que trezentos metros da Casa do Seixoso, numa casa muito simples, um ninho que acolheu um casal enamorado e recém-casado: os meus pais. O meu pai alugara aquele humilde abrigo, pousado sobre a colina verdejante de Vilar, desta freguesia de Borba, voltado a sul, com as costas viradas à imponente Casa do Seixoso, com o sonho de emigrar para o Brasil ou outro qualquer país da Europa. Para melhor conquistar a minha mãe, teve de lhe prometer que o seu objetivo seria de a tirar da dureza do cultivo da terra e assim o fez com a primeira residência nesta pequena casa e uma pequena loja de retalho perto de Belos Ares, para ganhar os primeiros escudos necessários para iniciar uma vida de casal. Tal como o meu pai e depois eu, esta imponente construção poderia contar mil vidas. Passou por diversos ciclos, entre dramas silenciosos e alegrias discretas. Erguida inicialmente como refúgio elegante da burguesia do Porto e de Lisboa, foi palco de receções sumptuosas, encontros estratégicos de dirigentes da antiga mina de estanho com o atual mineral do Seixoso, que, ainda hoje prova desta antiga atividade de exploração. Durante a grande pandemia de tuberculose, o palácio foi requisitado e transformado num sanatório. Centenas de doentes reencontraram ali uma promessa de esperança. No entanto, no imaginário coletivo, a sombra do vírus permaneceu colada às suas paredes. Muitos anos, mesmo décadas depois, ainda evitavam aproximar-se do parque, que, apesar disso, seguia vibrante, como se ainda guardasse alguns sopros de vida. Com os meus dois anos, os meus pais deixaram aquele lugar e a loja de retalho, mudando-se para uma quinta mais espaçosa, a poucos quilómetros dali. O meu pai rompeu temporariamente a promessa que fez à minha mãe e, por volta dos meus dez anos, chegou o grande momento: a partida para França. Escapei assim a essa hipotética contaminação, pois o vírus já estaria, na época do meu nascimento, extinto ou pelo menos exausto. Ainda assim, outras pandemias cruzariam o meu caminho: primeiro uma gripe ordinária que me deixou de cama por uma semana; depois e mais recentemente, a Covid-19, que, essa sim, me poupou por completo e através a qual tivemos um grande susto na nossa vida… . Uma lenda lá existe: Se um dia passarem por essa belíssima residência, não deixem de beber da fonte da juventude. Diz-se que ela promete juventude eterna. Talvez tenha sido ela, quem sabe, a devolver saúde surpreendente a tantos que ali se hospedaram, embalados pela ternura dos seus silêncios e pela serenidade do tempo. . Manuel Maia Teixeira