Saúde: A importância dos amigos de longa data


O termo “red flag” é muitas vezes usado para designar um possível sinal de alerta de que algo pode não estar a correr bem numa relação ou num comportamento.

No caso das amizades, não ter amigos de longa data pode não ser interpretado isoladamente como motivo de alarme. A mobilidade geográfica, as mudanças de fase de vida ou até transformações pessoais e profissionais podem fazer com que as redes de amizade se renovem.

Pode levantar questões, sim, se for acompanhado de isolamento persistente, dificuldade em criar laços de confiança ou padrão repetido de conflitos que impeçam relações duradouras. Para isso, é essencial considerar o contexto e a história de vida.

Existe uma forte valorização da ideia de lealdade e estabilidade nas relações de amizade e é quase um ideal cultural ter amigos “para a vida toda”. Assim, a ausência de laços antigos pode ser interpretada como sinal de instabilidade, conflitos frequentes ou falta de empatia. No entanto, esta leitura ignora contextos de vida cada vez mais móveis e complexos.

Na prática, muitas pessoas renovam as suas amizades de forma saudável, sem que isso signifique qualquer problema psicológico.

Do ponto de vista funcional, é comum que mudanças de residência, emprego ou estilo de vida afastem pessoas, assim como diferenças de valores e interesses que surgem com o passar dos anos. É natural que algumas amizades cumpram o seu ciclo e se transformem ou terminem sem que isso indique falha pessoal.

Por outro lado, em alguns casos, pode haver fatores internos que dificultam vínculos mais duradouros: dificuldades de comunicação, medo de intimidade emocional, baixa confiança interpessoal ou padrões de conflito que se repetem. Quando estas dificuldades existem ou se tornam persistentes e geram sofrimento ou isolamento, pode ser útil procurar apoio psicológico para trabalhar competências relacionais.

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As amizades duradouras são fundamentais

De forma geral as amizades são muito importantes para o bem-estar emocional e saúde mental. Relações de amizade de qualidade, sejam longas ou mais recentes, são um fator de proteção importante para a saúde mental. Funcionam como rede de suporte, oferecem pertença, partilha emocional e ajudam a reduzir sentimentos de solidão.

No entanto, a qualidade da relação é mais determinante do que a duração em si. Ter poucas amizades, mas sólidas e autênticas, pode ser mais benéfico do que manter laços antigos que já não trazem significado ou que se tornaram tóxicos.

Quando uma pessoa tem dificuldade em manter amizades duradouras pode ser motivo de atenção devido a comportamentos como isolamento social extremo, dificuldade constante em confiar nos outros, sucessivos conflitos que levam ao afastamento de amigos ou ausência de investimento na manutenção de laços.

Quando estes padrões se repetem ao longo do tempo e afetam negativamente a vida social, profissional ou familiar, é sinal de que pode existir uma dificuldade relacional mais profunda que merece ser acompanhada por um profissional.

Algumas características individuais podem dificultar a construção de amizades estáveis. Por exemplo, rigidez nas opiniões, dificuldade em lidar com diferenças, baixa tolerância à frustração ou tendência para evitar intimidade emocional podem interferir na manutenção de vínculos.

Além disso, experiências de rejeição, traição ou relações traumáticas podem tornar a pessoa mais desconfiada ou receosa em criar laços profundos.

É importante sublinhar que estas dificuldades não são imutáveis. As competências relacionais podem ser desenvolvidas em qualquer fase da vida com Psicoterapia.

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Dra. Ângela Rodrigues

Psicóloga

Clínica da Mente, Porto