Saúde: Sabe o que é a Ambliopia?


A ambliopia, conhecida como “olho preguiçoso”, afeta cerca de 1-5% da população.

Corresponde à baixa de visão de um dos olhos (raramente de ambos), por deficiente estimulação das áreas cerebrais associadas à visão nas fases precoces do desenvolvimento da criança. Afeta igualmente outras competências da visão como a sensibilidade ao contraste e a perceção dos contornos.

No fundo, para que a visão se desenvolva na sua plenitude é necessária uma relação saudável entre o olho e o cérebro na criança, pelo que a ambliopia corresponde não a um problema do olho, mas sim a uma disfunção de todo o processamento visual.

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Qual a importância da Ambliopia

Quando diagnosticada e tratada precocemente a ambliopia pode ser completamente reversível, pelo que é fundamental que todas as crianças sejam observadas em idade precoce, já que é uma doença silenciosa, não dando queixas ou sinais que os pais possam valorizar.

Para um diagnóstico, é essencial é a observação em consulta de Oftalmologia, por um médico oftalmologista com diferenciação na área da oftalmologia pediátrica por volta dos 3 anos de idade, mantendo observações seriadas em consulta após este primeiro momento de avaliação. Em alternativa, nas regiões e ULS onde esteja implementado o Rastreio de Saúde Visual e Infantil (RSVI) as crianças devem participar no mesmo. O RSVI através de uma metodologia muito simples permite detetar os casos suspeitos de ambliopia, sendo os mesmos referenciados para consulta hospitalar de oftalmologia.

Depois dos 8 ou 10 anos a possibilidade de recuperar/reabilitar a ambliopia é reduzida, mantendo-se o “preguiçoso” durante toda a vida.

Infelizmente a ambliopia ainda corresponde à causa de baixa visão unilateral mais frequente entre os 20 e os 70 anos, podendo comprometer não só a vida escolar, mas também a vida profissional e mesmo a capacidade de conduzir veículos.

Globalmente, em todo o mundo estima-se que em 2019 existissem 99,2 milhões de indivíduos com ambliopia.

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Principais causas

A principal causa é a existência de uma alteração refrativa (graduação) significativa, sobretudo de uma anisometropia (diferença de graduação entre os dois olhos) elevada.

A segunda causa corresponde à presença de um estrabismo, isto é, um desalinhamento dos eixos visuais que não conseguem manter o seu paralelismo.

O olho com mais graduação e/ou desviado do seu normal eixo (combinação destas causas) transmite ao cérebro uma imagem imperfeita, não conseguindo estimular as áreas cerebrais relevantes.

Raramente o olho preguiçoso acontece porque não há transparência dos olhos, não permitindo a formação de imagens, como no caso das cataratas congénitas.

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Quais os tratamentos para a Ambliopia?

O tratamento e o prognóstico variam com a idade do diagnóstico, a gravidade, a duração e a causa da Ambliopia.

O tratamento clássico envolve o uso de correção ótica (geralmente óculos) muitas vezes em associação à estimulação do olho preguiçoso, através da penalização do olho bom quer com recurso a oclusores, como pensos oculares, quer seja com recurso a gotas. Nos casos de ambliopia associada a estrabismo, além das dos tratamentos supracitados pode ser necessário intervir cirurgicamente.

Mais recentemente têm aparecido tratamentos usando a realidade virtual, jogos e filmes em que é apresentada uma imagem de diferente qualidade a cada um dos olhos.

Nas raras situações em que existem opacidades o tratamento é realizado de acordo com a causa.

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Uma última nota para reforçar que a reabilitação de uma Ambliopia é sempre um esforço conjunto da criança, dos seus pais e do médico oftalmologista que os acompanha.

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Dra. Ana Vide Escada

Médica oftalmologista

Coordenadora do Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Clínica ALM Primum Almada