Atentados do 13 de novembro de 2015: Précilia Correia foi assassinada no Bataclan


A lusodescendente Précilia Correia também foi uma das vítimas na sequência dos atentados em Paris no dia 13 de novembro de 2015. A jovem de 35 anos encontrava-se na sala de concertos Bataclan e foi ali que perdeu a vida juntamente com o namorado francês de origem espanhola.

Na altura, a mãe de Précilia aceitou prestar declarações ao LusoJornal, entrevistada pela jornalista Clara Teixeira, não só para partilhar a sua tristeza e solidão, mas também para “bater” de uma certa forma no Governo francês que “pouco tem feito para evitar este tipo de tragédias desumanas”. “Sinto-me terrivelmente mal, o que se passou foi uma autêntica barbaridade, atos odiosos aos quais nem tenho palavras para definir”, começou por referir Patrícia Correia.

Mas antes de tomar conhecimento da morte da filha, Patrícia Correia afirma com indignação que teve que “lutar contra a maré” para obter qualquer informação. “A minha filha tinha os documentos de identificação com ela, de modo que estava perfeitamente identificável. É incompreensível como é que que não conseguem dar os nomes das vítimas logo de imediato” opinou. Foi apenas dois dias depois que a má notícia veio confirmar o seu receio e pôde ver a cara da filha no Instituto Médico em Paris. “Não pude ver o corpo, estava coberta com uma toalha, mas suponho que estava cheia de balas” disse ao LusoJornal.

Patrícia Correia dirige-se com um tom feroz ao então Presidente da República e ao Primeiro-Ministro franceses, alegando que as promessas feitas não valem nada e sobretudo só veio confirmar que a França “não está suficientemente preparada” para enfrentar este tipo de dramas. “Não estamos em segurança em lado nenhum, agora perdi a minha filha, amanhã posso ser eu ou qualquer um de nós”.

Précilia Correia nasceu em 1980, em Asnières-sur-Seine, de pai português e mãe francesa. Os pais viviam divorciados há muito tempo, mas a mãe optou por guardar o apelido português e manteve desde sempre uma relação muito forte com Portugal. “Comprei casa em Almada e vou lá muitas vezes, ainda agora venho de lá e a minha filha devia ir-me buscar ao aeroporto no sábado à noite, mas como se enganou na data do concerto disse-me que não podia ir porque ia ao Bataclan no sábado, mas o concerto era na sexta e ela estava lá bem presente, toda contente” disse na altura.

Patrícia Correia apontou ainda para a normalidade no aeroporto quando chegou a Paris no sábado, sem algum controlo suplementar e um ambiente normal no aeroporto.

A jovem lusodescendente trabalhava na FNAC e vivia entre o domicílio da mãe e do namorado em Paris no mesmo bairro onde o drama ocorreu. Patrícia Correia evoca uma relação mãe e filha muito fusional, acrescentando ser uma mãe galinha e que andava sempre por trás em caso de problema. “O estúdio dela estava em obras e daí ela estar um pouco mais comigo ultimamente”.

Patrícia Correia acabou por enterrar a filha em Portugal. “Já tínhamos falado disso uma vez e ela preferia Portugal”. A jovem lusodescendente adorava Portugal onde ia regularmente, falava bem português e tinha muitos amigos lá. “Ela não foi comigo a Portugal agora por falta de dinheiro e se eu soubesse tinha-lhe comprado os bilhetes. Ouço constantemente na minha cabeça o barulho dos tiros e imagino o horror e o desespero da minha filha naquele momento”, disse com alguma emoção. Patrícia Correia perdeu a sua única filha e, na conversa com Clara Teixeira, na altura, concluiu tristemente já não ter mais medo de nada, “nem da morte, nem dos terroristas”.