Saúde: Proteja-se da gripe_LusoJornal·Saúde·14 Dezembro, 2025 A gripe ou influenza é uma infeção respiratória aguda causada pelos vírus influenza A ou B, comum na época outono/inverno. Uma nova variante do vírus influenza A H3N2 Kansas circula em Portugal e está a provocar sintomas mais intensos que a gripe comum. O nome H3N2 referem-se a proteínas especificas de superfície do vírus – hemaglutinina tipo 3 e neuraminidase tipo 2, sendo estas proteínas que permitem o vírus infetar as nossas células e multiplicar-se no organismo. O subtipo H1N1 também pertence a esta classe de vírus do grupo A. Esta variante já circula em todos os continentes e na europa já chegou a metade dos casos analisados e já demonstrou a capacidade de se propagar rapidamente e de manifestar-se de forma mais intensa, especialmente nas primeiras 48 horas. Em Portugal é esperado um aumento significativo de casos nas próximas semanas e com impacto nos serviços de saúde por ausência de memória imunitária, dado tratar-se de uma variante recente. A vacina desta época não foi concebida para este subgrupo reduzindo a proteção natural da população, acrescido que nas últimas épocas gripais a circulação do H3N2 teve pouca expressão. A taxa de incidência segundo o INSA e a DGS subiu na última semana (1 a 7 de dezembro) dos 10,5 casos por 100.000 habitantes para os 12,5 e com um excesso de mortalidade em semana de epidemia da gripe de mais 121 mortes, com predomínio no norte do país e na faixa etária dos 75 aos 84 anos e com doença crónica associada. . Sintomas mais comuns Os sinais de infeção pelo H3N2 são semelhantes aos da gripe sazonal, no entanto esta variante apresenta sintomas mais intensos: febre alta súbita, dor de cabeça, dores musculares, fadiga e fraqueza extremas, tosse seca e persistente que pode durar até 2 semanas, dor de garganta, congestão nasal e um mal-estar generalizada que impede o doente da realização das suas tarefas diárias e de sair de casa. Por vezes sintomas gastrointestinais como vómitos, diarreia e perda de paladar e olfato. Deve causar preocupação cima de tudo nos designados grupos de risco – idosos, imunodeprimidos, grávidas, doentes crónicos porque pode evoluir para complicações como pneumonia viral primária, sobreinfeção bacteriana, descompensação de comorbilidades, ou até síndroma respiratória aguda com necessidade de cuidados intensivos onde apresenta uma mortalidade elevada. . Quando ir ao hospitalar Os sinais de gravidade que levam à procura de um atendimento médico especializado e até hospitalar são: a falta de ar (dispneia), aumento da frequência cardíaca (taquipneia), falta de oxigénio no sangue que faz o transporte até aos tecidos/órgãos (hipoxemia), hipotensão, sinais de choque ou de falência multiorgânica. Em suma uma instabilidade hemodinâmica com insuficiência respiratória que necessita destes cuidados hospitalares urgentes. A triagem com a identificação de casos ligeiros e que podem ser orientados em ambulatório nos cuidados de saúde primários, a definição de protocolos de encaminhamento e tratamento com decisões rápidas e coerentes ajudam nesta orientação. A criação de espaços dedicados com áreas específicas dos casos respiratórios e educação à comunidade com informação sobre as diferentes dúvidas levantadas e na acessibilidade à linha do SNS 24. Como última linha, o reforço de equipas e de emergência médica (INEM), planos de contingência com abertura de camas para internamentos adicionais e possível redução da atividade programada (consultas e cirurgias não urgentes) para a concentração de recursos na doença aguda. . Fazer testes A realização de testes para o diagnóstico de uma infeção são sempre uma condição ideal, pois permitem dirigir o tratamento e acima de tudo perceber o seu prognóstico e estabelecer diagnósticos diferenciais com outras infeções respiratórias víricas e que nesta altura do ano circulam com maior incidência; exemplo do vírus sincicial respiratório, SARS-CoV-2 e mesmo os outros vírus responsáveis pela gripe. Consistem numa simples zaragatoa no nariz. Apesar da vacina atual da gripe não incluir especificamente a estirpe H3N2 K, a vacinação continua a ser fundamental porque confere sempre alguma proteção e pode evitar quadros clínicos graves. . Para evitar o contágio – Vacinação anual contra a gripe; – Higiene das mãos e etiqueta respiratória com o uso de máscara; – Distanciamento físico quando em contacto com alguém doente; – Ventilação de espaços físicos fechados; – Não partilha de objetos pessoais e desinfeção de superfícies; – Isolamento do doente cerca de 7 a 10 dias; – Reforço do sistema imunitário (alimentação, hidratação, sono adequado e gestão do stress). Os grupos de risco identificados são os idosos, 65+, as crianças com menos de 5 anos, especialmente nos primeiros 24 meses de idade; grávidas, doentes crónicos (asma, DPOC, insuficiência cardíaca, respiratória, renal e hepática, diabetes, residentes em lares e obesos. Nestes grupos a indicação para vacinação anual, higiene respiratória, evitar aglomerações e tratamento precoce com antivirais tende a reduzir as complicações. . Tratamento em casa O tratamento caseiro refere-se apenas a medidas sintomáticas e de suporte: hidratação, repouso, alívio sintomático com antipiréticos (paracetamol) e anti-inflamatórios (ibuprofeno), alimentação leve, desobstrução nasal e ventilação dos espaços onde se encontra o doente. . Dr. Luís Rocha Pneumologista OM 33389 Sociedade Portuguesa de Pneumologia Fundação Portuguesa do Pulmão