LusoJornal | Carlos PereiraCampanha do Bloco de Esquerda acaba hoje em ParisCarlos Pereira·Política·16 Maio, 2025 Teresa Soares, professora aposentada, residente na Alemanha e Bruno Fialho, residente em França, os dois candidatos do Bloco de Esquerda pelo círculo eleitoral da Europa nas eleições Legislativas, acabaram a campanha eleitoral em Paris. Numa longa entrevista ao LusoJornal, os candidatos abordaram os mais diversos assuntos de campanha, nomeadamente o da representatividade dos Portugueses residentes no estrangeiro. “Os Portugueses residentes no estrangeiro têm de ter mais representatividade na Assembleia da República, com mais Deputados, pelo menos devemos ter uns 5 Deputados pela Europa e outros 5 por fora da Europa” começa por dizer Teresa Soares. Mas Bruno Fialho completa dizendo que devem ser aplicadas no estrangeiro as mesmas regras que há em Portugal. “As normas têm de ser as mesmas. A proposta é de termos mais equidade. Mesmo se tomarmos em conta apenas os votantes, o número de votantes aqui é praticamente o mesmo da área de Setúbal, ora nós elegemos 2 Deputados e Setúbal tem direito a 19! Há uma diferença abismal” assume Teresa Soares. “A nossa opinião, enquanto membros do Bloco, é que devia ser aplicada a mesma regra. Não devia haver nenhuma diferença entre Portugueses no estrangeiro e Portugueses residentes em Portugal. Por que razão, com tantos Portugueses residentes no estrangeiro, temos uma representatividade tão fraca?” As mesmas metodologias em todas as eleições Quanto às metodologias de voto, Teresa Soares afirma que “ainda não é seguro. Ainda não há garantias, basta ver o que acabou de acontecer agora, com este apagão em Portugal, o país ficou paralisado, se acontece numa altura de voto…” A proposta principal dos candidatos do Bloco de é a da uniformização das metodologias de voto. “Temos de votar da mesma forma em todas as eleições” e a coabitação de várias metodologias. “As pessoas devem poder escolher se preferem votar presencialmente ou então pelo correio e até pelo voto eletrónico quando ele for seguro” diz Teresa Soares ao LusoJornal. Mas sobretudo querem mais mesas de voto para facilitar o voto presencial. “As mesas de voto podem não estar unicamente nos Consulados, devem ser utilizadas as associações e em França sabemos que há muitas, mas também escolas, locais municipais, universidades onde há aulas de português, até em hotéis, porque não?” e Bruno Fialho acrescenta que em França já assim acontece com outras comunidades “por exemplo nas eleições Turcas”. Podemos não cobrir todo o território, mas é importante aumentar os pontos de voto. “A prioridade tem de ser sempre voto pelo correio e quem quiser deve poder ir votar nas urnas de voto”. Teresa Soares considera também que devia haver mais informação sobre o voto em mobilidade “porque ainda é pouco conhecido”. A candidata assume que todos estes problemas “estão detetados há muito tempo, mas ninguém faz nada e em cada eleição voltamos a listar os mesmos problemas. Isso também desmobiliza as pessoas de votar”. . Melhor serviço consular e mais apoio às associações A questão dos serviços consulares tem dois aspetos, o atendimento e as pessoas que lá trabalham, as condições de quem lá trabalha. “Nós temos poucos Consulados e o atendimento deixa a desejar porque agora tudo é marcado pela internet. Ora, nem toda a gente tem internet, nem toda a gente tem a literacia necessária” diz a candidata bloquista. Quanto aos trabalhadores, “são eles que fazem a ligação com Portugal e continuam a ser bastante mal pagos, exatamente como os professores. Por vezes têm até de se dirigir a serviços sociais” diz a candidata bloquista. Quanto aos apoios ao movimento associativo e ao orçamento atual de cerca de um milhão de euros, Teresa Soares considera que “vem tarde demais” e explica que “a Pandemia de Covid-19 acabou com muitas associações. Os subsídios de agora já não vão salvar as associações que acabaram”. Os candidatos consideram que é importante apoiar as associações “tal como os órgãos de comunicação social portugueses no estrangeiro. São três elos essenciais nas Comunidades e na sua ligação com Portugal”. Bruno Fialho considera ainda que o Fundo de Relações Internacionais (FRI), para onde vai a quase totalidade dos emolumentos consulares, deve servir para aumentar o apoio às estruturas das Comunidades”. “O Concurso de apoio às associações desmotiva um pouco as pessoas. Até porque num concurso há sempre alguns privilegiados” explica Teresa Soares. “Muitas associações não sabem responder ao concurso. O processo tem de ser o mais simples possível”. . No ensino, tudo está por fazer Teresa Soares foi professora, ainda é a Secretária-Geral do Sindicato dos Professores das Comunidades Lusíadas (SPCL) e foi uma opositora importante às Propinas do ensino de português no estrangeiro. Agora a Propina já não é cobrada mas a candidata ressalva que “não temos a certeza que a Propina não vai voltar. Não foi alterada a Lei, mesmo se já não é cobrada agora”. A bloquista defende a gratuidade do ensino, diz que os certificados “não servem para nada” e que os manuais não são adaptados para o ensino da língua portuguesa no estrangeiro. Mas sobretudo, considera que o ensino português no estrangeiro deve sair do Instituto Camões e regressar ao Ministério da Educação “de onde nunca deveria ter saído”. Teresa Soares defende a existência de dois ensinos de Português no estrangeiro. Um deles, o ensino de português enquanto língua estrangeira, deve ser da responsabilidade dos diferentes países de acolhimento. “Portugal deve negociar acordos bilaterais em matéria de ensino e o Ministério português da educação deve acompanhar a implementação de uma rede de ensino nos mais variados países, com a variante de língua estrangeira”. Mas a candidata considera que Portugal não deve desvincular-se do artigo 74 da Constituição portuguesa e tem de ensinar português aos filhos de Portugueses residentes no estrangeiro. E para tal, evoca várias possibilidades. “Por exemplo a abertura de escolas portuguesas nas cidades onde há muitos Portugueses, tal comos existem Escolas Portuguesas em certos países, como Moçambique, Macau ou Timor. Em Paris justifica-se, por exemplo, uma Escola Portuguesa”. Por outro lado, defende que Portugal devia ter uma rede de professores mais importante no estrangeiro para darem aulas de português língua-materna, ou “língua identitária” como prefere dizer, ou “língua segunda”, que podiam lecionar em escolas francesas, mas também em associações. “O ensino do português no estrangeiro nasceu com o 25 de abril, mas a palavra mais usada durante estes 50 anos é que é caro” assume a candidata. “Ora, nós temos apenas 340 professores de português no mundo inteiro, o que não é nada, e com vencimentos de 2009, porque o Instituto Camões recusa absolutamente aumentar os vencimentos”. . Muitas dúvidas no regresso Interrogada sobre o Programa Regressar de apoio ao regresso de Portugueses residentes no estrangeiro, Teresa Soares explica ao LusoJornal que “para que as pessoas regressem, Portugal tem de se tornar num país mais atrativo. Quem quer regressar para um país onde há precariedade no trabalho, onde os salários são muito baixos, onde a saúde está num descalabro total, onde as escolas são também um problema, tanto pela falta de disciplina como pela falta de professores, onde as rendas são altíssimas sobretudo nas grandes cidades de Lisboa e Porto e até no Algarve. Quem tem vontade de regressar?” questionada a candidata do Bloco de Esquerda. “As pessoas têm de ter boas condições para regressar. E quando estão reformados, o problema é a assistência médica e a tributação das reformas”. Para Teresa Soares “não faz sentido que as pessoas paguem mais taxas em Portugal sobre as reformas que ganharam no estrangeiro. É uma aberração” . Principal problema é o atual sistema sindicalista Bruno Fialho é militante da LFI em França e é filho de um Capitão de Abril que, entretanto, veio para Paris. Considera que é “um perigo” ver a Extrema Direita a subir. “Para termos a igualdade económica, temos de mudar de sistema. Este sistema capitalista não funciona, vamos morrer todos com as alterações climáticas, com a crise social e com a crise económica. Nós podemos ter liberdade, mas não temos direitos económicos e sociais. Então, temos de continuar a Revolução de Abril e isso só é possível com um voto no Bloco de Esquerda” afirmou.