LusoJornal | Carlos Pereira

Carmen Lima da Quercus: “A França é um modelo para Portugal em matéria de remoção do amianto”

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A ambientalista Carmen Lima, coordenadora do Centro de informação de resíduos da Quercus e fundadora da SOS Amianto – Grupo de Apoio às Vítimas de Amianto, esteve em Paris, integrando uma delegação que visitou o Salão dos Profissionais do Amianto e falou ao LusoJornal sobre a remoção do amianto em Portugal.

Responsável pelos conteúdos da rubrica da Quercus na revista “O Instalador” e da rubrica da Quercus “Folha Verde” no jornal da Fenprof, Carmen Lima é membro da Comissão do Amianto do IPQ e secretária da Comissão Técnica 214 –SC 2 – Remoção, descontaminação e gestão de resíduos, com o objetivo de criar normalização para a identificação e remoção do amianto em Portugal.

Também é autora do livro “Não há Planeta B: dicas e truques para um Ambiente Sustentável”, da editora Chá das Cinco.

 

O Lusodescendente Sylvain Gonçalves, da empresa Remove, disse numa entrevista ao LusoJornal que em Portugal não se faz um bom diagnóstico antes da remoção do amianto. Também é a sua opinião?

Exatamente, principalmente pelo facto de nós acompanharmos a realidade francesa há alguns anos e sabemos que o diagnóstico é fundamental. Em Portugal, ver que está a ser feita remoção sem o diagnóstico, custa-nos um bocadinho, porque sentimos que a casa está a ser construída pelo telhado. Não estão a ser adotadas as medidas adequadas para garantir que a intervenção que está a ser feita em Portugal garanta que o risco desapareça. Há dinheiro que está a ser gasto para a remoção do amianto, mas na prática não é o que está a acontecer e para a população portuguesa passa a imagem de que os edifícios estão a ficar livres de amianto, mas não é realmente o que está a acontecer. Isto deixa-nos muito preocupados porque verificamos que podíamos estar a aprender um pouco com os exemplos que estão a ser implementados principalmente em França – que é o país que nós estamos a usar como modelo -, e apesar de toda a sensibilização que nós temos feito, o facto é que na prática não é isso realmente que está a acontecer.

 

Na sua opinião, não chegou o momento de haver uma uniformização europeia? Existe uma Diretiva europeia mas não é aplicada da mesma forma em todos os países…

Efetivamente, há uma distância abismal entre as exigências aplicadas em França e aquelas que são aplicadas em Portugal. Eu penso que em Portugal – e isto é uma preocupação que nós sentimos – há alguma falta de conhecimento e de sensibilização sobre este tema do amianto. Algumas pessoas que falam sobre este tema, falam sem conhecimento suficiente, e continua a passar a mensagem de que há um amianto não perigoso. Outra situação que nós também verificamos, é que a parte da identificação não é uma prioridade ou seja todas as obras que são feitas, nunca é exigido que haja realmente esse levantamento. Aquilo que nós sentimos é que o amianto é usado por questões de propaganda política, por questões de interesse e principalmente ao nível de ganhar votos junto da população, muitas vezes passando uma mensagem alarmista e que não corresponde à realidade daquilo que é o amianto e com isso nós assustamos a população e levamo-la a exigir uma intervenção que não é aquela que na prática deveria ser feita. A intervenção que nós deveríamos exigir em Portugal é que todos os edifícios sejam sujeitos a um diagnóstico e em segundo lugar, que as situações que sejam identificadas enquanto prioritárias, tenham uma atuação mais urgente do que as outras que na prática não são as prioritárias.

 

Um dos problemas relacionados com a remoção do amianto tem a ver com o tratamento dos resíduos. Esta situação também a preocupa em Portugal?

Preocupa-nos primeiro a questão dos resíduos que são produzidos pelas atividades associadas à remoção do amianto, tanto na fase de diagnóstico, como na remoção, por exemplo os fatos, máscaras, luvas, etc. Tudo isto está contaminado, claro. Outra questão que nos tem vindo a preocupar é que Portugal tem escassas respostas ao nível da eliminação. Em Portugal só se faz deposição em aterro e não existe uma diversidade de aterros que estejam autorizados a receber amianto. Também não temos projetos para implementar, por exemplo, uma unidade de vitrificação. Portanto, estas respostas escassas que nós temos, temos que as gerir de uma forma muito sustentável. O que nos tem preocupado é que esta gestão tem sido feita de uma forma economicista. Nós estamos inclusivamente a importar resíduos de amianto que vêm de outros países, estamos a falar de Itália, Espanha e até de outros países mais longínquos. Esta gestão é pouco sustentável e nós temos que pensar que não é só a questão financeira que tem que ser analisada, mas também a questão social e a questão ambiental e portanto, nestas respostas, devia haver uma maior estratégia que do nosso ponto de vista não está a ser implementada como deveria ser.

 

A França é um exemplo?

A França é, sem dúvida – quer no diagnóstico, quer na remoção, quer também na resposta em termos de solução de vitrificação – um exemplo que nós usamos como o nosso modelo, aquilo que nós gostaríamos de ter em Portugal no futuro.

 

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