“Chanson Lointaine”: um livro de Cristina Branco que nos interroga sobre a lusodescendência

“Chanson Lointaine” é o último livro da escritora Cristina Branco, radicada em Paris, editado antes das férias pela Editions Lanore. Depois do romance “Quand vous lirez ces mots…”, na mesma editora, Cristina Branco conta-nos agora a história de Anna.

Anna é uma parisiense de 40 anos, que sempre viveu com a mãe, no seio de uma família burguesa. Mas agora descobre que afinal o pai era… português. E só com esta situação surgem inúmeras perguntas: como se comporta uma parisiense que descobre que afinal tem origens portuguesas? O que é exatamente o facto de ser lusodescendente? O que muda no olhar dos outros que descobrem que Anna é filha de um português e, sobretudo, o que muda exatamente na forma de Anna olhar para Portugal e para os Portugueses?

Só esta situação deixa-nos com vontade de ler o livro. Sabendo que Cristina Branco é portuguesa, mas nasceu em Paris e tem vivido entre os dois países.

Cristina Branco criou a situação: Pedro, um jovem português saiu de Portugal para não partir para a guerra colonial. Veio para Paris onde foi acolhido por uma professora de piano, que também era voluntária numa associação de ajuda aos clandestinos. Foi a professora que a apresentou a uma das suas alunas, Esther, que até ali nada sabia da situação política portuguesa, apesar de já ter ido de férias a Cascais, com os pais. Uma história de amor surge então entre Esther e Pedro. Mas na história entra também Nelson, um amigo que Pedro também mandou vir para Paris, mas que inventou uma mentira para que Pedro regressasse a Portugal de urgência, porque a mãe estava doente. A mãe nem sabia deste regresso precipitado de Pedro, mas Nelson encarregou-se de prevenir… a Pide. Pedro foi então para a Guerra colonial, mas nunca regressou!

Em Paris, Esther ficou grávida. Compreendeu a cilada montada por Nelson, mas nunca contou à filha, até agora, quem era efetivamente o pai.

Mal soube da história, Anna foi imediatamente a Portugal, e mais do que compreender a história do seu próprio pai, e do país durante a ditadura do Estado Novo, quis também compreender a “alma portuguesa” e interrogar-se sobre a sua própria “lusodescendência”.

“As minhas raízes portuguesas provocavam invariavelmente algumas piadas duvidosas e preconceitos ridículos, mas isso não me perturbava. Agora sei quem sou e quem são os meus. Sinto de repente surgir em mim o orgulho e começo a defender um país e uma bandeira, lembro-me das lições que este jovem chamado Pedro e que é meu pai, deixou nos seus textos” escreve Cristina Branco no livro, na voz de Anna.

Pelo meio, Cristina Branco recorreu a sonhos, a descrições de viagens, comenta a situação política portuguesa, deixa-nos com uma pitada de sebastianismo… mas a arquitetura do livro, que tem algumas particularidades, tem de ser uma descoberta do leitor.

Um livro para ler absolutamente, em língua francesa.

 

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LusoJornal