E esta, hein? Roubaix teve corridas de touros

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E esta hein?

Esta expressão é uma das mais famosas da televisão portuguesa, empregada pelo jornalista Fernando Pessa no final das suas reportagens para a RTP, jornalista que nos deixou em 2002.

Quem diria que em Roubaix, de 1893 até 15 de junho de 1914, houve corridas de touros?

Nesta cidade industrial, capital mundial da lã, os operários necessitavam de alguma distração. Contudo, nas primeiras corridas poucos obreiros faziam parte da assistência, os bilhetes sendo demasiado caros para as suas posses.

A primeira corrida espanhola terá lugar a 21 de setembro de 1893, nada mais, nada menos que treze touros, sim, treze touros.

De notar que outras cidades não sudistas francesas realizaram corridas de touros, são disso exemplo Lyon, Limoges e até Paris.

As primeiras corridas realizaram-se na rue de Hem, em Croix, no Manège.

Mais tarde, em 1899, é inaugurado logo ao lado, perto do Velódromo, no Parque Barbieux, uma arena com 12 mil lugares, bem mais que o atual Campo Pequeno em Lisboa que pode acolher um máximo de 9 mil espectadores.

Vinham a Roubaix, por vezes em viagens organizadas, em comboios cheios, «aficionados» vindos da vizinha Bélgica e mesmo de Paris. De realçar que com a abertura desta praça, os preços para assistir às corridas baixam, o povo operário passa a poder assistir, as corridas de touros em Roubaix democratizam-se.

Realizou-se numa das primeiras corridas do Torodrome, algo dramático e estranho: a 14 de julho de 1899 colocou-se na arena um jovem touro para lutar com… um “leão selvagem” – demonstração muito distante da verdadeira natureza das touradas. O velho leão Golias é morto num instante pelo touro. A plateia revoltada e enjoada manifesta-se ruidosamente, o Préfet da Região acaba por proibir este tipo de espetáculo entre animais.

No jornal “Grand Echos du Nord” do 9 de setembro de 1899, anunciando a corrida do dia 10, em Roubaix, escrevia: “Os nossos colegas de Roubaix Toros, dedicam seu número de amanhã à corrida de domingo”. E continua: “sabemos pouco em França sobre o trabalho dos cavaleiros na praça de touros, isso deve-se à extrema raridade dos artistas que a praticam. Há muitos matadores, mas apenas alguns cavaleiros na praça. Quando se os quiserem contratar, é necessário datas fixas programadas de longa data e pagá-los, para competirem, a altos preços. Diga-se em primeiro lugar que esta maneira de tourear é de origem portuguesa, exige um conhecimento profundo da equitação, e que envolve a retirada dos picadores da praça. O cavaleiro faz todo o trabalho… montado num cavalo andaluz maravilhosamente bem treinado, arrojado e ligeiro, armado na mão direita com uma bandarilha de um metro e 25, terminado em ferro duplo, avança ao encontro do touro no momento em que este corre em direção do cavalo… entendamos o lado perigoso de tal trabalho… também em Portugal e como foi feito nas Arènes de la rue Pergolèse, em Paris, em 1889, este trabalho é feito apenas com touros com cornos embolizados. Em Roubaix o cavaleiro trabalhará com cornos nus, e para precaver qualquer acidente terá três cavalos à sua disposição”.

As corridas de touros incomodavam alguns habitantes de Roubaix, incluindo os sócios das ZPE, associações protetoras dos animais. Estes ganham a causa e em 1904 a arena foi destruída. No entanto, as corridas de touros não foram suprimidas, mudaram simplesmente de local para o estádio velódromo, logo ao lado.

A partir desse momento, por proibição do Préfet, não será autorizada a morte do touro na arena , por várias vezes a polícia teve que intervir para fazer cumprir a ordem e a lei.

A 15 de junho de 1914 realizou-se a última corrida… que não terminou normalmente: interrompidos por uma tempestade, os matadores não mais puderam retomar o espetáculo. A 28 de julho inicia-se a I Guerra mundial e a região de Lille cai na escuridão por quatro anos. A guerra terminada, as touradas não retomaram.

 

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