Entrevista a Paulo Cafôfo: “Quero ser um Secretário de Estado de proximidade”

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O novo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas disse ao LusoJornal que pretende ser um Secretário de Estado de proximidade, quer organizar fórums de debate nas Comunidades, defende o voto eletrónico e quer convocar eleições para o Conselho das Comunidades. Paulo Cafôfo deu a primeira entrevista ao LusoJornal.

O novo governante com a pasta das Comunidades tem 50 anos, nasceu no Funchal, licenciou-se em história em Coimbra e lecionou no arquipélago. “Sou um amante da história, mas acima de tudo da história contemporânea, da história do século 19 e do século 20, diria da história mais próxima de nós, que nos ajuda a compreender determinados fatores que acontecem agora, no presente”.

Paulo Cafôfo foi eleito Presidente da Câmara municipal do Funchal em 2013 e depois em 2017. Tem esse ponto comum com José Luís Carneiro, que presidiu a Câmara de Baião, e com Berta Nunes, que presidiu a de Alfândega da Fé, ambos Secretários de Estado de António Costa. “Acho que é essencial e fundamental poder conhecer quem lidera a até porque as políticas fazem-se de pessoas para pessoas” começou por dizer, justificando esta primeira entrevista ao LusoJornal.

Considera que o facto de ter sido autarca o ajudará nestas novas funções. “Este percurso autárquico é uma vantagem. Um autarca tem mais proximidade com as pessoas. Eu considero que o mais importante em política é ouvir as pessoas, os seus problemas, as suas necessidades, mas também as suas sugestões para melhorar a sua vida e é nesse sentido que este cargo que agora inicio tem essa vantagem”.

 

Um Secretário de Estado de proximidade

Enquanto autarca, Paulo Cafôfo foi contactando com algumas Comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo. Esteve na Venezuela e na África do Sul, as duas maiores Comunidades madeirenses no estrangeiro, e também nas ilhas do canal e em Londres. “Eu diria que há Madeirenses espalhados por todos os cantos do mundo”. Em França também, com comunidades em Nantes e em Cholet, em Nice e em Ormesson, na região parisiense onde aliás está o grupo folclórico Flores da Madeira.

“Nestas funções que estou a exercer, espero poder visitar estas Comunidades, mas a minha perspetiva é muito mais do que viajar, é de contactar com as Comunidades, não só aqueles que têm a importância em termos da representatividade, como por exemplo os Conselheiros das Comunidades, os líderes de associações desportivas, sociais ou culturais, mas conhecer também a vida real dos Portugueses que são uma inspiração nós” disse ao LusoJornal. “Realmente somos o povo que, se calhar, melhor se adapta em contextos diferentes. Temos esta capacidade humana de acolhimento, porque sabemos acolher, mas também sabemos integrar-nos nos destinos que escolhemos para viver”.

Paulo Cafôfo diz que quer ser “um Secretário de Estado de proximidade, muita proximidade. Aliás quem me conhece, na Madeira, e particularmente do Funchal, essa é a minha principal característica”. Conhecer a vida real de quem mora no estrangeiro parece ser importante para o novo titular da pasta. “Ouvir o povo, as pessoas, não só as entidades… sentir a vida real, ouvir as opiniões, é isso que eu espero neste mandato” diz com convicção. “Estes Portugueses não estão a residir no território nacional, mas não são menos Portugueses por isso”.

Falando “da coragem que é preciso para abandonar a sua terra, para deixar as pessoas que mais amam, que mais gostam e aventurarem-se em territórios muitas vezes distantes, com outras culturas, outras línguas”, Paulo Cafôfo diz que “estas pessoas são para mim uma inspiração, uma inspiração de humildade, uma inspiração de capacidade de trabalho, de visão, porque conseguiram não só estabelecer-se, mas também inovar e perspetivar, até contribuir, não só para o desenvolvimento das terras ou das regiões e dos países para onde foram residir, mas também acabaram por nos dar, não só em termos económicos, uma importância acrescida ao nosso país. Não só com as remessas, mas também com os investimentos que fazem”.

 

Consulados devem ser as “salas de estar” de Portugal no mundo

O novo Secretário de Estado assumiu as funções esta semana. Na semana passada encontrou-se com Berta Nunes e reconheceu “a amabilidade pela forma muito cordial e gentil com que fez esta transição de pasta, pela disponibilidade total que agradeço e não esqueço”.

Agora tem pela frente problemas tão diversos e difíceis de resolver como a saturação dos Consulados. “O problema tem muito a ver com os recursos humanos, com a falta de funcionários nos nossos Consulados” e acrescenta que a situação “passa muito pela urgência da valorização das suas carreiras, pela valorização do seu próprio estatuto remuneratório, pela dignidade que têm que ter no exercício da sua função”.

Mas a resolução dos problemas consulares passa também pela acessibilidade e pela simplificação em termos de procedimentos. “Vivemos hoje num mundo tecnológico e temos de pôr essa tecnologia ao serviço da vida dos cidadãos e na qualidade do serviço que nós prestamos. O serviço tem de ser eficiente, tem de ser eficaz. Esta simplificação tem de servir para a proximidade, para aproximar os Portugueses espalhados pelo mundo”.

Para Paulo Cafôfo, “os Consulados são a sala de estar de Portugal no mundo e numa sala de estar nós recebemos bem as pessoas, recebemos os nossos amigos e tem que ser essa perspetiva de recebê-los bem, tratá-los bem, responder àquilo que são as suas necessidades, num tempo útil”.

 

Importância do voto eletrónico

Outra das questões que o novo Governo tem para resolver está relacionada com a participação cívica. As recentes eleições legislativas demonstraram, mais uma vez, que aqui está uma situação que urge trabalhar. “É uma matéria que extravasa um pouco o âmbito da minha ação, embora possa dar o meu contributo por ser uma matéria que há muito tempo se fala, mas pouco se tem feito no sentido de melhorar a questão os processos eleitorais”.

“Permita-me que diga primeiro que esta é uma matéria de grande importância porque estamos a falar não apenas de reforço da nossa democracia, mas também de ampliar a nossa cidadania” explica o novo Secretário de Estado.

Paulo Cafôfo defende o voto eletrónico não presencial. “Eu sei que isto será uma realidade, só não sei quando”.

“É preciso entendimentos, é preciso compromissos, mas eu veria toda a utilidade que isso pudesse acontecer. Como digo, é uma questão política mais vasta, mas esta é a minha opinião pessoal sobre essa matéria e digo isto por ser importante para a cidadania, para a participação dos cidadãos. É muito importante” confirma.

 

Organizar fóruns de debate

Mas Paulo Cafôfo não reduz a participação cívica às eleições. “Esta Secretaria de Estado tem essa vantagem que é de poder ter momentos, fóruns, encontros mais formais ou mais informais, no quadro da democracia participativa” explica ao LusoJornal, esperando que “os cidadãos espalhados pelo mundo possam vir a participar e intervir nos assuntos que dizem respeito ao país, à sua vida”.

“Felizmente estamos a sair da fase de pandemia que muito condicionou este tipo de iniciativas” diz o titular da pasta das Comunidades. “Esta é a minha perspetiva, de podermos organizar diversos fóruns, com os cidadãos espalhados pelo mundo”.

O antigo Deputado Paulo Porto, com origens na Madeira, mas residente no Brasil, é um dos Adjuntos de Paulo Cafôfo e vai coordenar a relação com o Conselho das Comunidades Portuguesas. Considerando que é um órgão “essencial”, o Secretário de Estado diz que já telefonou ao atual Presidente do Conselho Permanente do CCP, Flávio Martins. “Manifestei-lhe toda a minha disponibilidade para, com ele e com os restantes Conselheiros, podermos conversar. É importante a normalização institucional” e por isso quer marcar eleições para o órgão, mas quer marcar a data de acordo com os Conselheiros.

Paulo Cafôfo vai tutelar também o Instituto Camões e considera que o ensino da língua portuguesa no estrangeiro “é uma questão que me é muito cara, porque eu sou professor e como professor, compreendo bem a importância da língua portuguesa. A língua portuguesa no mundo é uma língua cada vez mais importante e tem de ser consolidada” e porque também “é fundamental para a afirmação do país no mundo”.

“Há aqui questões que necessitam de ser resolvidas, particularmente relacionadas também com a carreira dos docentes, mas tem uma importância estratégica e vejo o Instituto Camões como estratégico na questão da língua e na questão da cultura. Portanto, será uma área que darei também particular atenção pela minha formação profissional”.

 

Uma missão para 4 anos

Paulo Cafôfo renunciou ao mandato de Presidente da Câmara municipal do Funchal, onde tinha maioria absoluta, em 2019, para ser candidato a Presidente do Governo Regional. Fez uma boa campanha e obteve 19 Deputados para o PS contra 21 para o PSD. Este resultado fez com que, pela primeira vez, o PSD não tem a maioria absoluta no arquipélago e teve de negociar um pacto de governação com o CDS-PP.

Com este resultado, e tendo em conta que em 2023 haverá novamente eleições regionais na Madeira, impunha-se saber se Paulo Cafôfo poderia vir a abdicar das funções de Secretário de Estado para voltar a ser candidato. “É uma questão muito clara para mim. O meu compromisso é com o Governo do Primeiro-Ministro António Costa e com as Comunidades portuguesas” afirma ao LusoJornal.

“No que diz respeito ao Partido Socialista, essa é também uma situação perfeitamente clara. Temos um Presidente do Partido Socialista na Madeira, que é Sérgio Gonçalves, que será o candidato a Presidente do Governo regional e espero que esse meu amigo seja eleito Presidente do Governo regional e portanto eu não serei candidato em 2023” confirmou na entrevista. “Estou completamente focado e entusiasmado com esta missão que me foi incumbida e quero dizer aos Portugueses espalhados pelo mundo que estou nesta fase a estruturar uma série de políticas para a Legislatura e portanto para os 4 anos. Portanto terei todo o prazer em servi-los durante os próximos 4 anos”.

Antes da primeira visita ao estrangeiro – que ainda não tem destino, nem data marcada – Paulo Cafôfo está a organizar o Gabinete, a instalar-se, a planear políticas e a estabelecer prioridades.

 

Ver a entrevista AQUI.

 

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