Home Cultura Festival IndieLisboa 2021 mostrará quase todo o cinema da francesa Sarah MaldororLusojornal·28 Fevereiro, 2021Cultura [pro_ad_display_adzone id=”46664″] O Festival Internacional de Cinema IndieLisboa, marcado para a primavera, vai mostrar quase todo o cinema da realizadora francesa Sarah Maldoror, que morreu em 2020, revelou a direção. Sarah Maldoror “deixou um legado de filmes que refletem as questões que atravessaram toda a sua vida e pensamento: das guerras coloniais ao movimento da negritude, passando pelos retratos de artistas que influenciaram a sua criação”, sustenta o festival, em comunicado. Depois de uma edição atípica em 2020, realizada em finais de agosto por causa da pandemia da Covid-19, o IndieLisboa quer retomar o calendário habitual, com a 18ª edição agendada de 29 de abril e 09 de maio. A primeira programação anunciada é uma retrospetiva, “plena de revolução e de esperança”, do cinema de Sarah Maldoror, que o IndieLisboa exibirá com a Cinemateca Portuguesa. O festival sublinha que esta é uma retrospetiva “quase integral”, porque alguns dos filmes de Sarah Maldoror “permanecem ainda por localizar”. Filha de pai antilhano e mãe francesa, Sarah Ducados nasceu em 1929 em França e morreu a 13 de abril de 2020, aos 90 anos. Sarah Maldoror foi o apelido que escolheu enquanto artista, em homenagem ao poeta surrealista Lautréamont, autor dos “Cantos de Maldoror”. A carreira de Sarah Maldoror começou pelo teatro, tendo fundado, em 1956, a companhia Les Griots, pioneira por incluir atores africanos e afro-caribenhos, por ter dado a conhecer artistas e escritores negros. O primeiro filme de Sarah Maldoror, a curta-metragem “Monangambé”, data de 1959, e é uma adaptação do conto “O Fato Completo de Lucas Matesso”, do escritor angolano José Luandino Vieira. Mais tarde, em 1972, seria “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, de Luandino Vieira, a inspirar a longa-metragem “Sambizanga”, considerada uma das maiores obras do cinema africano. Filmada no Congo, “Sambizanga” aborda a guerra colonial portuguesa, desde o início, em Angola, e teve como coargumentista o sociólogo e poeta Mário Pinto de Andrade, fundador e primeiro presidente do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), e companheiro da cineasta. O filme fala de uma mulher que procura o marido, preso pela polícia política, e toma o nome do bairro operário Sambizanga, de Luanda, no qual se localizava a prisão do regime colonial, cujo assalto, em 1961, desencadeia a luta armada pela independência, contra a ditadura. Com esta obra, Sarah Maldoror “abriu caminho para que fosse mostrada a guerra de libertação de Angola pela perspetiva da mulher”, escreveu a investigadora norte-americana Beti Ellerson, fundadora do Centre for the Study and Research of African Women in Cinema. A formação de Sarah Maldoror em cinema foi feita em Moscovo, para onde se tinha mudado em 1961, para frequentar a Academia de Cinema de Moscovo, com bolsas concedidas na Guiné Conacri, tendo trabalhado com o cineasta senegalês Ousmane Sembène, precursor do cinema africano. “Depois desta estadia soviética junta-se aos pioneiros dos movimentos de libertação africanos, na Guiné, Argélia e Guiné-Bissau, ao lado do seu companheiro Mário Pinto de Andrade”, recordaram as filhas da cineasta, aquando da morte. O cinema de Sarah Maldoror teve por palco a Guiné-Bissau e o Sahel, a Ilha do Fogo (Cabo Verde), a Tunísia, o Senegal, abordando o racismo, questões de género, o papel da mulher na luta pela libertação e o património cultural africano. A sua cinematografia inclui documentários como “Máscara das Palavras”, dedicado ao poeta Aimé Césaire, e ao líder senegalês Leopold Senghor, poeta da negritude e membro da Academia Francesa. Numa entrevista publicada no Fórum Itinerante do Cinema Negro, Sarah Maldoror defendeu a importância do cinema e dos cineastas africanos na História de África. “A História tem sido escrita por outros e não por nós”, disse então a Beti Ellerson, professora da Universidade de Howard, nos Estados Unidos. “Se eu não me interesso pela minha própria história, quem vai se interessar?”, interrogava-se Sarah Maldoror. “Creio que é necessário defendermos a nossa própria história, dá-la a conhecer, com todas as nossas qualidades e defeitos, as nossas esperanças e desesperos”, afirmou nessa entrevista de 1997, à investigadora norte-americana. “As mulheres africanas devem estar em todo o lado no cinema. Devem estar nas imagens, atrás da câmara, na sala de montagem e envolvidas em todas as fases de produção de um filme. Devem ser elas a falar sobre os seus problemas”, afirmou. Sarah Maldoror foi a cineasta homenageada no primeiro FIC Luanda (Festival Internacional de Cinema), em 2008, e nessa altura pôde revisitar Angola, país que ocupou grande parte da sua obra. “Sou de Guadalupe, faço parte dos escravos que foram enviados para lá. Sou Africana”, disse então a realizadora ao Novo Jornal de Angola, quando esteve presente em Luanda. Em 2011, o Cine Lumière de Londres, sala do Instituto Francês, na capital britânica, exibiu as primeiras obras de Maldoror, com a presença da cineasta. [pro_ad_display_adzone id=”37509″]