Grevistas da CGD França com novas manifestações e carta a Marcelo Rebelo de Sousa

Os trabalhadores em greve da sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos vão voltar a manifestar-se esta semana em Paris, pediram uma audiência urgente ao Presidente da República e querem submeter uma petição ao Parlamento.

A intersindical FO-CFTC e a Comissão de negociação dos trabalhadores em greve convocaram um protesto junto ao Consulado-Geral de Portugal, esta quinta-feira, e outro junto à Embaixada de Portugal em França, este sábado, depois de uma primeira manifestação, na passada sexta-feira, em frente à Embaixada de Portugal, em Paris.

Cristina Semblano, porta-voz da intersindical FO-CFTC, disse à Lusa que vai haver uma «intensificação do movimento», numa altura em que a greve, iniciada a 17 de abril, entrou na sétima semana. «Corresponde a uma intensificação do movimento. Os assalariados mantêm-se firmes e determinados em ir até ao fim e em assumir todas as consequências para que o movimento triunfe», afirmou.

As manifestações pretendem «protestar contra a alienação da Sucursal francesa da CGD», reivindicar «a salvaguarda dos postos de trabalho e do serviço da banca pública à imigração portuguesa em França» e denunciar «as degradadas condições de trabalho que têm levado a graves problemas com impacto na saúde física e mental dos trabalhadores».

Ainda de acordo com Cristina Semblano, os protestos «em lugares emblemáticos de Portugal em França» também têm como objetivo criticar «a gestão danosa na sucursal nos últimos seis anos», assim como «a gestão desastrosa da greve» e «todas as tentativas de intimidação».

«Por exemplo, a proibição do acesso aos locais da Comissão de trabalhadores, o facto de se fazer seguir os trabalhadores grevistas por seguranças e por oficiais de justiça e a ameaça da Direção da Sucursal em traduzir em justiça os trabalhadores em greve por delito de abuso do direito de greve», explicou.

Cristina Semblano, que é também membro da Comissão de negociação eleita pelos trabalhadores em greve, acrescentou que foi enviado, ontem, um pedido de audiência urgente ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para apresentar «a verdadeira situação da Caixa Geral de Depósitos em França e as soluções que urge adotar».

«É por estarmos conscientes da grande importância que o senhor Presidente dá à emigração que surge este pedido de audiência urgente. O que se tem passado na Sucursal de França da Caixa Geral de Depósitos envergonha os seus trabalhadores, os seus clientes, a Comunidade portuguesa em geral e dá uma péssima imagem do nosso país nesta praça, numa época chave para o financiamento dos investimentos de não residentes em Portugal», pode ler-se no documento.

A intersindical FO-CFTC e a Comissão de negociação dos trabalhadores em greve também estão a recolher assinaturas para uma petição a entregar na Assembleia da República «contra a privatização da sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos».

A petição também pede «a averiguação das condições em que o Estado português aceitou sacrificar a implantação internacional da CGD num país de suma importância pela concentração de emigração portuguesa que ali se verifica, mantendo a sua implantação em paraísos fiscais» e solicita que «se averiguem as despesas em consultores e em investimento nos últimos anos» que «dão lugar a graves disfuncionamentos, impactando a clientela, os trabalhadores e a imagem da instituição».

A greve na sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos neste país, onde há 48 agências e mais de 500 trabalhadores, foi apoiada pela intersindical francesa FO-CFTC, mas não foi seguida pelos sindicatos CGT e CFDT.

A redução da operação da CGD fora de Portugal (nomeadamente Espanha, França, África do Sul e Brasil) foi acordada em 2017 com a Comissão Europeia como contrapartida da recapitalização do banco público.

Na semana passada, o Governo aprovou os cadernos de encargos com as condições para a venda dos bancos da Caixa Geral de Depósitos na África do Sul e em Espanha, segundo comunicado de Conselho de Ministros.

Em 10 de maio, o Presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, afirmou querer manter a operação da CGD em França e adiantou que está a negociar isso com as autoridades, apesar de ter sido também acordada a sua venda, mas acrescentou que isso só acontecerá se a «operação for sustentável, rentável e solidária» com os esforços feitos pelo banco.

A Caixa Geral de Depósitos teve lucros de 68 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, o que compara com prejuízos de 38,6 milhões de euros do mesmo período de 2017, sendo que 30 milhões de euros vieram da atividade doméstica e 38 milhões de euros da atividade internacional.

Quanto aos contributos da atividade internacional, o BNU Macau contribuiu com 15 milhões de euros, a Sucursal de França com sete milhões de euros, o BCI Moçambique com sete milhões de euros e o Banco Gaixa Geral (Espanha) com 9,3 milhões de euros. Para a África do Sul não foram desagregados resultados.

Em 2017, a CGD encerrou as Sucursais de Londres, ilhas Caimão, Macau Offshore e Zhuhai (na China), segundo informação do banco.

 

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