Um jovem angolano que vive em França desde 2014 está ameaçado de expulsão pela segunda vez depois de ter recebido há poucas semanas um diploma de excelência do Governo, mas a Administração francesa alega que não está integrado.
As famílias de acolhimento, amigos e professores deste jovem angolano tentam agora travar a ordem de expulsão que lhe dá apenas 30 dias para permanecer em território francês, difundindo a sua fotografia com o Ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, que lhe atribuiu o diploma, nas redes sociais e nos meios de comunicação franceses.
“Estamos a tentar uma reunião com a nossa Deputada na Assembleia Nacional para que ela intervenha junto da Prefeitura de Bouches du Rhône, porque queremos uma verdadeira leitura do processo. Enviámos também o processo ao Ministro Blanquer e pedimos recurso da decisão de expulsão”, disse Hélène Nicolas, mãe de acolhimento do jovem, em declarações à Lusa.
Uma petição também já foi lançada, recolhendo quase cinco mil assinaturas em três dias.
O jovem chegou sozinho a França em 2014, quando tinha apenas 14 anos, fugido de Angola devido à perseguição da família naquele país. Chegou com um passaporte de adulto, com um nome que não era o seu e um visto de turista, tendo-se entregado à polícia e assinalado que era menor.
Foi então enviado para um centro de acolhimento de menores em Arles, no Sul de França, onde foi sujeito a testes médicos e onde lhe foi dito que tinha 20 anos, apesar de os documentos pedidos de urgência a Angola mostrarem que o seu certificado de nascimento confirmava a idade de 14 anos.
O jovem não tinha outros documentos de identidade em Angola e trouxe consigo apenas o seu dossier escolar com fotografias.
Considerado pelas autoridades francesas como maior de idade, o jovem foi obrigado a deixar o centro de acolhimento e recolhido por duas famílias que o ajudaram a inscrever-se primeiro na escola básica e depois no liceu. “As autoridades francesas dizem que os papéis de Angola são falsos e que ele é mais velho, mas nós somos famílias de professores, nós sabemos reconhecer a diferença entre um jovem de 14 anos e um jovem de 20 anos. Sabemos que tudo que nos conta é verdade”, assegurou Hélène Nicolas.
O angolano foi distinguido várias vezes pelas suas notas e empenho nos estabelecimentos escolares por onde passou, surpreendendo pela velocidade com que aprendeu o francês.
Em agosto de 2018, foi detido pela polícia numa operação de rotina, enviado para um centro de detenção e alvo de um pedido de abandono do território francês, mais conhecido como OQTF – Obligation de quitter la France -, pela Prefeitura de Marseille.
Após uma ação que reuniu cerca de 100 pessoas à porta do tribunal, incluindo as famílias de acolhimento, os amigos, os professores da escola, associações locais e meios de comunicação, o pedido de expulsão foi anulado por um juiz.
Apesar de já ter constituído várias vezes o seu dossier para se legalizar em França, o facto de ter entrado com um nome que não é o seu tem levado a problemas burocráticos, com os papéis provisórios a mostrarem o nome original de entrada no país e não o seu nome. Assim, ao completar 18 anos no dia 15 de novembro, o jovem angolano recebeu a notícia que a decisão de anulação foi revogada, desta vez, pela Prefeitura de Bouches du Rhône e voltou a ser detido.
Segundo a mãe de acolhimento, o processo do jovem angolano conta com mais de 50 cartas das famílias que o acolheram em França, dos professores, mostrando o seu aproveitamento escolar e outras atividades como estágios e ações de voluntariado.
“O tribunal alega que ele não está integrado socioeconomicamente, é normal porque é um adolescente, ainda não trabalha. E pior, dizem que não criou laços familiares aqui em França, desde logo tem-nos a nós, as duas famílias de acolhimento com quem pode sempre contar, mas ainda não tem a sua própria família, tem 18 anos, não é casado. A incompreensão é grotesca e ninguém nos quer ouvir”, disse Hélène Nicolas.
Depois de ter tornado público este caso, as famílias têm estado a receber ofertas de apoios de empresas que querem ajudar a pagar as despesas judiciais, que podem ir até dois mil euros cada vez que é preciso submeter um novo processo.
O jovem angolano está agora num centro de detenção durante a semana, conseguindo ir à escola porque as famílias de acolhimento e os amigos se revezam para que ele não tenha de apanhar transportes públicos, onde pode ser sujeito a novos controlos de rotina pela polícia.
O jovem disse à Lusa que preferia que o seu nome não fosse mencionado, já que, tratando-se de um meio de comunicação em português, tem receio das represálias à sua família que ainda vive em Angola. Afirmou também que caso consiga resolver a sua situação, preferiria ficar em França devido à insegurança que se vive em Angola.
[pro_ad_display_adzone id=”17510″]