LusoJornal | Carlos Pereira

Livros: “Os temas e os poemas”, um livro bilingue de poesia de Emílio Morais

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Emílio Morais acaba de editar, nas edições Chiado, um livro bilingue de poesia intitulado “Les thèmes et les poèmes | Os temas e os poemas”. 70 anos depois de ter nascido no concelho de Bragança – e depois de ter aprendido a andar “com o pé descalço e as calças rasgadas atrás, nas ruas lamacentas e poeirentas, no verão, na pequena aldeia onde nasci, situada no nordeste Transmontano” – editou agora, pela primeira vez, um livro com poesia e prosa, com tradução de autor.

“Cheguei a França em 1970. Tinha 18 anos. Comecei a trabalhar, como grande parte dos Portugueses que chegávamos aqui nessa altura, nas obras públicas e na construção civil” conta ao LusoJornal.

Antes de vir para França, já tinha “emigrado”, com apenas 11 anos de idade, para Mem-Martins e Algueirão, na “linha de Sintra”, onde foi sucessivamente aprendiz de padeiro, merceeiro e vendedor de revistas e jornais. “Tão pobre cheguei aos 11 anos, como parti aos 14” escreve na biografia que publica no livro.

Passou então 4 anos a trabalhar no campo antes de emigrar para França. “Seguei feno com a gadanha, ceifei trigo com a foice, mas foi essencialmente para os serviços florestais que trabalhei durante 4 anos”.

Com 20 anos, depois de uma primeira experiência em França, regressou a Portugal, para cumprir o serviço militar obrigatório. “Estava em Abrantes quando se deu a Revolução dos Cravos, mas ainda fui mobilizado para Moçambique, durante 9 meses, já depois do 25 de Abril. Fui no mês de julho, portanto guardo uma muito boa recordação de Moçambique, porque o conflito armado estava terminado e, portanto, foi uma estadia de 9 meses em Moçambique bastante agradável” conta ao LusoJornal.

Os pais não queriam que Emílio Morais regressasse a França. “Fui trolha, mudei pneus em todo o tipo de veículos e fui Guarda venatório. Mas tinha saudades da França e em 1977 parti novamente”.

“Uma das razões por que a França chamava por mim, era o ordenado. O ordenado que ganhava em Portugal, no fim do mês não tinha tostão. Sabia que aqui em França se vivia um bocadinho melhor” conta.

Depois de ter trabalhado na construção civil e na Mairie de Rueil-Malmaison, já aposentado, tem mais tempo para alinhavar versos. “Quando comecei a escrever, estava muito longe de mim a ideia de um dia publicar o que quer que fosse” confessa.

Começou por escrever poemas em português, mas guardava-os. “Por volta de 2012/2013 comecei a pensar em traduzir alguns em francês e comecei então, realmente, a encontrar a rima bastante facilmente”. A ideia de publicar nasceu antes da pandemia, em 2019.

“Escrever, no meu caso, é pintar num dado momento, a paisagem efémera do pensamento” escreve na nota do autor que publica no início do livro. “Se não o faço no momento propício, a paisagem modifica-se e as cores perdem a magia que as animava”. E acrescenta: “Nem todos os quadros são dignos, evidentemente, de serem expostos num museu, mas quase todos os livros merecem a honra de uma biblioteca”.

Emílio Morais tem cerca de 300 poemas guardados, mas só escolheu uns 50 para esta primeira publicação. Cada poema surge nas duas línguas e com um texto curto, em prosa, a acompanhar, também nas duas línguas.

“Quando comecei, comecei só pelo poema. A ideia de associar uma parte em prosa, foi bastante tardia, talvez até quando a ideia do livro se começou a insinuar. Encontrei então a necessidade de, para completar o poema, acrescentar, por assim dizer, um cheirinho de prosa” explica ao LusoJornal.

Um segundo livro já está pronto, mas sem urgência de ser publicado. “Não tenho pressa nenhuma, mesmo se já está em fase de correção. Mas agora interessa-me primeiro divulgar este que acabo de editar”.

Agora escreve essencialmente em francês e afirma que “o francês é uma língua que permite brincar muito com as palavras”. Mas quando chegou a França, desconhecia completamente a língua. “Nem sabia como se dizia bom dia, nem como se dizia obrigado. Nada” confessa. Depois começou a aprender no dia-a-dia, no trabalho. “Sempre me interessei pela leitura. Desde que apanhava um bocado de jornal, começava a experimentar ler alguma coisa”. Frequentou um clube onde um grupo de pessoas francesas davam aulas de francês, voluntariamente, algumas vezes por semana. Emílio Morais inscreveu-se também, mais tarde, nas aulas à distância, através do CNED, durante 4 ou 5 anos e, já enquanto funcionário da Mairie de Rueil-Malmaison, seguiu várias formações de língua francesa.

Na introdução do livro refere-se ao bilinguismo dos poemas que publica. “Componho-os, indiferentemente, em português ou em francês e em seguida procedo à sua tradução. Tradução essa que não pode ser feita rigorosamente palavra-a-palavra porque, segundo o contexto em que as palavras se inserem, o significado nem sempre é o mesmo nas duas línguas. Mas também e sobretudo para respeitar a rima, essência primeira do poema”.

 

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