No passado dia 18 de novembro, o Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões em Lyon recebeu a tradutora francesa Élodie Dupau, ex-aluna do Departamento Lusófono da Université Lumière Lyon 2.
A convite da Professora Cristina Beneito, no âmbito da disciplina de Linguística, dirigida às licenciaturas com vertente em língua portuguesa e ao mestrado em Estudos Lusófonos, Élodie Dupau conduziu um ateliê de tradução de dois poemas de Fernando Pessoa. A tarefa, proposta a alunos e docentes, permitiu compreender a constante exigência que um tradutor enfrenta e, sobretudo, apaziguar o sentimento perante a dificuldade que, certamente, todos sentimos quando procuramos expressar a mesma ideia em duas línguas, diga-se, português e francês.
Élodie Dupau apresentou várias das suas obras traduzidas, entre elas a publicação bilingue de “Message” (“Mensagem”) e ainda “Il y a toujours quelque chose d’absente qui me tormente”, uma recolha inédita de textos do brasileiro Caio Fernando Abreu. Além desses, outros nomes preenchem os seus trabalhos, desde Cesário Verde a Paulo Coelho.
Se “Mensagem” narra a épica viagem que tantos conhecem, onde “o Mostrengo rodou três vezes, três vezes rodou imundo e grosso”, a frase que dá título à tradução de Caio Fernando Abreu deixa a descoberto um outro caminho, num dos seus passeios por Paris até Notre Dame – o que leva à interioridade:
“Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: ‘Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente’ (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) – frase de uma carta escrita por Camille Claudel a Rodin, em 1886. […] Continua lá a placa, na fachada da casa número 19 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem, guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo” (Caio Fernando Abreu).
O evento terminou com um lanche descontraído, juntando todos numa confraternização animada, com direito a queijos e presunto. Um pedaço do que é nosso, já que “viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver ‘como um danado’, feito Pessoa” (Caio Fernando Abreu).
Élodie Dupau trouxe-nos mais do que esperávamos, trouxe-nos de volta, por um momento, ao lugar que sempre nos aguarda: o nosso. Que tenhamos sempre um livro ao alcance, onde quer que estejamos.
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Maria Luís de Matos Coutinho
Docente de Português ao abrigo do protocolo com a Universidade Lyon 2