LusoJornal / Luísa Semedo Home Cultura Mathieu Dosse ganha prémio Gulbenkian-BooksLuísa Semedo·11 Abril, 2018Cultura Ontem, teve lugar na Delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian a cerimónia de atribuição do prémio Gulbenkian-Books, uma parceria entre aquela instituição e a revista literária Books. Este prémio, bianual, recompensa a melhor tradução em francês, de uma obra literária de língua portuguesa editada em França, com o objetivo de desenvolver o trabalho de difusão da literatura em língua portuguesa. A primeira edição teve lugar em 2016, e o prémio havia sido atribuído a Dominique Nédellec pela tradução de «Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?» / «Quels sont ces chevaux qui jettent leur ombre sur la mer?» de António Lobo Antunes (Éditions Christian Bourgois, 2015). Este ano, o prémio foi atribuído a Mathieu Dosse pela sua tradução de «Essas histórias» / «Mon oncle le jaguar et autres histoires» de João Guimarães Rosa (Éditions Chandeigne, 2016). A obra estava em concorrência com duas outras finalistas, selecionadas a partir de trinta obras concorrentes: «La confession de la lionne» / «A confissão da leoa», de Mia Couto, traduzida por Elisabeth Monteiro Rodrigues (Éditions Métailié, 2016) e «O Mestre» / «Le Roi de pierre», de Ana Hatherly, com tradução de Catherine Dumas (Anne Rideau Éditions, 2016). O júri foi composto por Jean-Pierre Langellier, Maria-Benedita Basto, José Manuel Costa Esteves, Jacqueline Penjon e Helena Vasconcelos. O júri atribuiu, ainda, uma menção especial de estímulo à tradução das grandes vozes da literatura afro-brasileira a Paula Anacaona pela tradução de «Becos da memória» / «Banzo, mémoires de la favela» de Conceição Evaristo (Anacaona Éditions, 2016). No seu discurso de agradecimento, Mathieu Dosse, nascido em 1978 em São Paulo, de mãe portuguesa e pai francês, mostrou-se emocionado com o reconhecimento, elogiou o trabalho rico do autor, famoso pelo recurso recurrente a neologismos, e o seu humor subtil que resultou numa tradução que lhe deu muito prazer. No fim, citou uma outra tradutora de Guimarães Rosa, que ouvira alguns anos antes também na Gulbenkian em Paris dizer que era fácil matar um texto como o deste autor, e Mathieu Dosse disse esperar não o ter feito com a seu trabalho. O tradutor fez estudos em Letras Modernas tendo-se especializado em tradução literária. Diplomado pela Universidade Paris 8 – Vincennes – Saint-Denis com uma tese sobre a poética da leitura das traduções cruzadas de James Joyce, Vladimir Nabokov e João Guimarães Rosa. Anne Lima, responsável das Edições Chadeigne, que publicou o livro, referiu no seu discurso que o tradutor tinha enviado em 2012, de forma espontânea, as traduções de dois contos de Guimarães Rosa e que a qualidade da tradução levou a Editora a contactá-lo de imediato. Entretanto, a colaboração entre o tradutor e a Editora já teve como resultado a publicação, em francês, de autores como Graciliano Ramos e Luiz Ruffato. Anne Lima sublinhou ainda a dificuldade em lutar contra a hegemonia da literatura americana e de conseguir levar para as estantes de literatura de língua portuguesa nas livrarias, outros autores que não somente Paulo Coelho, José Saramago ou António Lobo Antunes. E que Guimarães Rosa faz parte daqueles autores que deveriam estar sempre disponíveis como Eça de Queiroz ou Miguel Torga. [pro_ad_display_adzone id=”9774″]