Home Cultura Momento de Poesia com Lurdes LoureiroLurdes Loureiro·2 Abril, 2019Cultura Nasci em casa da avó e muito cedo conheci o viver só (tempo em que sentada na manta via através do portão de tábuas desiguais passar algum vizinho enquanto o avô não chegava morava meia dúzia de casas mais além). O meu vale era paraíso e saudade nasceu quando ainda mal sabia falar e já dizia “não, eu não vou para Lisboa fico com a avó”. Pensava eu que Lisboa era o nome dum terreno que iam cultivar. Mas também eu conheci Lisboa e depois a alegria de voltar à minha aldeia símbolo de liberdade. Ir só para a rua correr pelos campos que felicidade Quinze anos e Paris passou a ser o meu segundo país e conheci racismo em menina pensava apenas ser palavra no dicionário sentimento que os homens há muito tinham banido e esquecido. E o tempo semeou em mim penas e raízes de cá e de lá. Lá o cantinho que chorei os avós que deixei morrer sós. Cá uma vida feita de cimento e alcatrão. Lá criança sonho, ilusão. Cá amigo que se vai. Lá amizades que a distância apaga. Cá realidade fria e crua. Lá, como ainda é bela a primavera. Cá quando o sol aperta é abafador cá também nascem lágrimas de amor. Lá, lá no cemitério brota a dor. Sou passagem e passageiro de cá e de lá emigrante que colhe o amor e a dor de lá e de cá. [pro_ad_display_adzone id=“23774”]