Na Cozinha do Vítor: Açorda Alentejana

Um pouco de história…

Parece inquestionável que a açorda é uma dádiva da presença dos árabes pelas nossas terras. Parece também que a açorda é um prato de subsistência, provavelmente na sequência de crises alimentares. E a sua chegada até nós deve-se à sua facilidade de confeção e sobretudo à mistura simples de produtos de base. O pão foi sempre, e ainda é, um alimento estruturante da nossa alimentação.

Quando analisamos as fontes, receituário, da presença árabe na península encontramos muitas sopas às quais se adicionava pão esfarelado ou cortado grosseiramente. Parece ser esta a origem das açordas. No entanto quase só na zona sul do país assumimos a designação açorda. Este termo nunca aparece associado às sopas de pão que ainda hoje se confecionam nas Beiras ou Trás-os-Montes.

E temos a grande variante da açorda, que já não é sopa, e que se transformou num prato de referência em Portugal. Ninguém abdica na zona costeira das variadas açordas de peixe e marisco.

Mas qual é a realidade das açordas na cozinha portuguesa? Primeiro temos a açorda/sopa de que a Açorda Alentejana é o melhor exemplo. Depois a glorificação das açordas como prato completo e a imensa variedade de receituário desde o Douro, toda a costa atlântica com peixes e mariscos, da Beira ao Alentejo com o bacalhau, e o Alentejo com as carnes de porco e enchidos. Temos ainda o conceito de açorda como guarnição, ou complemento, de que saboreamos o excelente exemplo com sável e respetiva açorda de ovas. E teremos sempre açordas maravilhosas enquanto mantivermos a qualidade do nosso pão. Podem-se criar novas receitas e mais inventivas. Pode molhar-se o pão com canja de galinha e misturar depois o marisco. O que não pode ser alterado é o nosso pão.

Forçados seremos a alterar pequenos comportamentos de acabamento de algumas açordas. O prazer de vermos misturar a gema de ovo crua não será mais possível por questões de segurança alimentar. Que pena!

Nota: Há outras receitas de Açorda como a de marisco, de bacalhau e outros, mas hoje ficamos com a tradicional. Bom apetite.

 

Ingredientes

(Para quatro pessoas)

– 4 ovos

– 4 dentes de alho

– 1 molho de coentros ou de poejos picados grosseiramente

– 4 fatias de pão alentejano

– 4 colheres de sopa de azeite

– 1,5 l de água

– Sal q.b.

 

Preparação

  1. Num almofariz, esmague os alhos. Aos poucos, junte os coentros e esmague tudo muito bem.
  2. Num tacho, leve ao lume a água. Tempere com sal e deixe ferver.
  3. Parta os ovos e junte à água um a um. Deixe escalfar os ovos durante 3 minutos. Depois dos ovos escalfados, com a ajuda de uma escumadeira, retire-os para um prato. Apague o lume.
  4. À água de cozinhar os ovos, junte a mistura dos coentros com o alho e o azeite. Misture.
  5. No fundo de cada prato de sopa, coloque uma fatia de pão e o ovo. Regue tudo com o caldo e sirva.

Dica: Em geral o prato é acompanhado por azeitonas temperadas com azeite, alho, limão e orégãos.

Vinho: Acompanhe com um bom vinho Alentejano, pois está claro!

 

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