Novo livro de Eunice DM “Lunes et Sang”: “O género fantástico é um fenómeno cultural e social que vai para além do literário”

Eunice DM é o pseudónimo de Eunice dos Santos Martins, escritora nascida em Portugal, no Ribatejo, na região de Santarém, mas que vive em França há mais de vinte anos. Escreve poesia e livros infantis e juvenis em francês, nomeadamente no campo do fantástico e já tem no seu ativo várias obras publicadas.

«Lunes et Sang» é o seu último trabalho, um livro para o público juvenil que conta a história de Valentina, uma jovem de dezassete anos que se pensava amaldiçoada e de uma comunidade de lobos que vive próximo da sua aldeia na montanha em Portugal.

O LusoJornal quis saber mais um pouco sobre a autora e o seu novo livro.

 

Fale-nos um pouco do seu percurso e de como chegou à literatura juvenil?

Passei muitos anos na minha infância com os meus avôs. Recordo-me quando ao serão o meu avô me contava histórias que ele conhecia ou inventava e eu adorava. Cresci com esta paixão pelos mundos imaginários que achava engraçados. Já adulta vim a conhecer os contos de Sophia de Mello Breyner e fiquei definitivamente adepta dos contos maravilhosos. Durante alguns anos em França lecionei o português em associações e sempre fiz questão que os alunos lessem durante o ano uma obra literária. Na maioria das vezes eram de Sophia de Mello Breyner, de Alice Vieira ou de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. A minha paixão por este género literário levou-me a fazer um Doutoramento sobre a fantasia e literatura juvenil e tem como título: «La fantasy, phénomène littéraire, éditorial et social en littérature jeunesse».

 

E porquê esta paixão pelo fantástico?

Porque gosto de fugir das tristezas do quotidiano para um mundo imaginário onde depois de ter ultrapassado todos os obstáculos com o herói, regresso à realidade mais forte e mais serena.

 

Como indica na sua tese, o fantástico moderno é um estilo recente que foi somente reconhecido no início do século XX mas as suas origens já remontam às antigas narrativas mitológicas e contos populares. Mas, como explica o recente fenómeno de sucesso deste estilo literário que atrai tanto a(o)s jovens como a(o)s adulta(o)s?

Sim, quando comecei a interessar-me pelos livros de fantasia reparei que obedeciam à mesma estrutura que os contos maravilhosos, com um personagem principal adolescente em busca de algo, que tem de ultrapassar obstáculos, e é ajudado por um personagem mais velho e no fim da aventura fica mais forte. Depois do Senhor dos Anéis e principalmente de Harry Potter, o fenómeno explodiu, e os editores começaram a interessar-se pelo fenómeno, e sobretudo houve uma mudança de paradigma, de repente os autores também entraram no jogo da promoção dos livros. Começaram a comunicar diretamente sobre os livros, a falar diretamente com os fãs. Os jovens ao identificarem-se com os personagens encontraram nos autores alguém que os compreendia e ousavam colocar perguntas que por vezes não colocavam em casa, como por exemplo sobre a sexualidade. E o jovens gostaram dessa interatividade. Criou-se um fenómeno de grupo em que os jovens e também os menos jovens organizam convívios e mascaram-se como os personagens dos livros e encontram-se como se fossem uma grande família. O género fantástico é um fenómeno cultural e social que vai para além do literário.

 

E quais são as suas referências literárias?

Harry Potter e Narnia para os livros estrangeiros mais conhecidos. Em Portugal, gosto imenso dos livros de Sophia de Mello Breyner, A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca, A Floresta assim como os livros da coleção Uma Aventura de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

 

No seu último livro «Lunes de Sang» a história passa-se em Portugal, numa pequena aldeia perto de Chaves. A impressão que tive é que a escolha do local não é só puramente afetiva ou circunstancial, mas que tem uma real incidência na história, como se também fosse um personagem…

Efetivamente, foi a sua localização e a sua história que me fizeram escolher São Vicente da Raia. Para este romance necessitava de um sítio onde ainda houvesse lobos e eles estão presentes no Parque Natural de Montesinho. Além disso, São Vicente da Raia é uma pequena aldeia, mas ainda com uma certa população. Também fica situada perto da fronteira espanhola por onde passaram muitos emigrantes e onde se efetuaram muitas transações de contrabando. Sem contar que não fica muito longe de Chaves, uma cidade maior onde a personagem principal se pode deslocar para fazer compras, ver amigas ou fazer investigações na biblioteca.

 

Gostei muito da ideia da antropomorfização dos lobos, que são verdadeiros personagens e falam como os humanos, para além do contributo que pode dar para a defesa da proteção dos animais, também a nível literário é um exercício muito interessante. Foi difícil pôr-se na pele destes animais?

Os lobos têm uma vida bem organizada e para eles a noção de família e de hierarquia é importante. Há regras, há amor, há carinho e desde pequenos aprendem a lutar para sobreviver ou para se imporem. É também a minha noção da vida e por isso não foi difícil meter-me na pele de um deles. Até gostei de gozar a liberdade de correr pela montanha.

 

E voltando à questão da proteção dos animais. A Eunice quando escreve para este público infanto-juvenil tem em atenção as mensagens que pode passar através da literatura? A formação das novas gerações é uma preocupação na sua escrita para além do divertimento?

Sim, nos meus livros, além do divertimento, tento sempre que posso passar mensagens aos jovens. Acho que a literatura é uma boa maneira de o fazer.

 

Pelo que sei, já está a terminar o segundo volume de «Lunes de Sang», já nos pode revelar alguma coisa sobre esse novo livro?

Neste segundo volume, a relação entre a Valentina e o Tim vai ficar, de novo, comprometida.

 

Gostaria de ver os seus livros traduzidos em português? Qual é a ligação que ainda tem com Portugal?

Sim gostaria imenso que os meus livros fossem traduzidos em português e que o meu trabalho fosse reconhecido no meu país porque sou portuguesa, mas estou consciente que é muito difícil encontrar uma editora interessada no meu trabalho e disposta a investir na tradução e publicação da minha obra. Tenho uma casa e família em Portugal e regresso pelo menos uma vez por ano ao meu país.

 

Datas dos próximos encontros e sessões de autógrafos:

Sábado, 26 de maio, Cultura Pince Vent, avenue de l’Hippodrome, 94510 La Queue-en-Brie, das 14h00 às 17h30

Sábado, 16 de junho, Centre commercial Leclerc, 156 rue Alexandre Fourny, 94500 Champigny-sur-Marne, das 10h00 às 17h00.

www.eunice-dm.com

 

 

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