Novo romance de Lobo Antunes chega a França

O mais recente romance de António Lobo Antunes, publicado pela editora Christian Bourgois e traduzido por Dominique Nédellec, acaba de chegar às livrarias francesas e foi recebido com estrépito por muitos críticos franceses que já o consideram uma das melhores obras do autor de “Os Cus de Judas” (1979).

Florence Noiville, no jornal “Le Monde”, diz que ao ler este romance “o maravilhamento é o mesmo que sentimos quando nos deparamos com uma peça de ourivesaria muito rara ou com um vitral sumptuoso: o casamento estrondoso da arte e do savoir-faire”.

Lembre-se que António Lobo Antunes integrará dentro de pouco tempo “La Bibliothèque de la Pléiade”, sendo, depois de Fernando Pessoa (poeta fortemente criticado pelo primeiro numa recente e controversa entrevista), o segundo português a alcançar tal distinção. Distinção essa que o próprio escritor, atreito a polémicas, considera “ser bem mais importante do que o Nobel”.

Longo de 576 páginas, “Jusqu’à ce que les pierres deviennent plus douces que l’eau”, o título francês do original português “Até que as pedras se tornem mais leves do que a água” (2017), retoma uma das temáticas prediletas do autor de 77 anos, a Guerra Colonial, cujas vivências e consequências marcaram o espírito da sua geração.

Este romance, como é habitual nas obras de António Lobo Antunes, e de muitos escritores portugueses posteriores que nele se inspiram, centra-se mais na narração do que na narrativa. A preocupação com o estilo e os artifícios da linguagem, tendência facilitada pelo virtuosismo do autor, é premente, embora, é este o reverso da medalha, secundarize o enredo que, como quase sempre, é simples, lento e algo repetitivo. Demasiado, dirão alguns.

Graças a uma linguagem prodigiosa e a um estilo singular, Lobo Antunes narra a história de um alferes que, ao regressar da Guerra Colonial, traz consigo um pequeno órfão, acabando por adotá-lo. Quarenta anos depois, o órfão, o militar e as respetivas famílias visitam a aldeia para assistir à matança do porco. A obra (que desvenda o seu desfecho logo nas primeiras páginas) é no fundo uma grande analepse, que recua aos tempos da guerra, revelando toda a sua crueldade.

 

LusoJornal