Nuno Gomes Garcia conversa com… Leonardo Tonus: «A minha ideia não é somente divulgar a literatura lusófona, mas fazer com que seja lida»

No dia 14 de março, terá início em Paris a quinta edição do Printemps Littéraire Brésilien, um festival literário idealizado por Leonardo Tonus, professor da Sorbonne e seu grande dinamizador.

Quando, em 2014, Leonardo Tonus começou este festival, ele focalizava-se essencialmente na literatura brasileira. Mas, depois, nas edições seguintes, alargou-se a toda a literatura lusófona. Além disso, esta primavera literária alastrou-se para além das fronteiras francesas.

Esta edição decorrerá entre os dias 14 de março e 10 de maio em França, claro, mas também na Bélgica, no Luxemburgo e na Alemanha. A grande novidade desta edição de 2018 é a entrada dos Estados Unidos na equação.

Assim, durante 2 meses, nestes 5 países, acontecerão debates, leituras, saraus literários, ateliês de escrita criativa e lançamento de livros, tudo isto em livrarias, centros culturais e espaços institucionais. De salientar, a participação importante deste festival no Salon du Livre de Paris.

 

Leonardo, o Printemps Littéraire tem vindo a crescer de ano para ano e serve, na verdade, para colmatar um vazio gritante no que diz respeito à promoção, em França, da literatura feita em português. Como surgiu esta ideia?

Olha, esta ideia surgiu em 2013. Eu sou professor na Sorbonne desde os anos 2000 e sempre tive por hábito receber autores brasileiros ou portugueses em sala de aula. E visto essa presença maciça, cada vez mais importante, de autores de passagem por Paris, eu decidi então criar uma semana que fosse unicamente voltada para a cultura brasileira, inicialmente, e cada vez mais para a cultura lusófona, para que os estudantes dos meus cursos descobrissem a nova produção literária feita no Brasil e em Portugal. Desde então, como o Nuno mesmo mencionou, o festival tem sido bem recebido e está se exportando para outros espaços além do espaço francófono, visto que, desde 2015, nós temos viajado por países limítrofes aqui pela Europa.

 

Sendo esta a quinta edição, podemos então dizer que o balanço é francamente positivo…

O balanço é positivo, sim. Por um lado, a questão do formato do festival, que é um formato pedagógico, a proposta é trazer autores, escritores e escritoras para dentro da sala de aula para que os estudantes tomem conhecimento dessa nova produção literária. E, também, de certo modo, o balanço é positivo no que diz respeito à divulgação e visibilidade da nossa literatura pelos espaços europeus. Alguns autores que participaram nas anteriores edições estão sendo publicados em francês, como é o caso do Julián Fuks, que virá este ano, do Henrique Rodrigues ou da própria Lúcia Hiratsuka.

 

O Festival serve também como rampa de lançamento para autores lusófonos aqui em França.

Essa é também uma das ideias. Como o próprio Nuno evocou, há uma espécie de vazio na questão da divulgação da literatura lusófona nos países francófonos. Então, uma das propostas é estabelecer esse contacto pelos vários atores do livro, sejam os editores, mas também os bibliotecários ou um dos atores quase sempre esquecido que é o professor. A minha ideia não é somente divulgar a literatura, mas fazer com que seja lida, que conquiste novos leitores para a nossa literatura contemporânea.

 

Leonardo, ao contrário do que aconteceu o ano passado, este ano o festival não passa por Portugal.

No ano passado, nós estivemos em Lisboa e em Óbidos. Fomos muito bem acolhidos, mas infelizmente este ano não estaremos em Portugal devido a questões de calendário. Não estaremos em Portugal, mas Portugal estará connosco, cada vez mais presente e cada vez melhor representado, quer seja em França, na Bélgica ou no Luxemburgo.

 

Quantos autores vão participar? E são essencialmente brasileiros e portugueses?

A minha última contagem vai nos 52 participantes. São romancistas, poetas, contistas, ilustradores, artistas plásticos, ensaístas e um coreógrafo. Sim, a grande maioria é composta por autores brasileiros, mas haverá também a participação de muitos autores portugueses, um holandês e um italiano. Esperemos que nos próximos anos possamos contar com a participação de autores dos países que visitamos.

 

Diga-nos alguns dos nomes dos autores presentes para aguçar o apetite das pessoas que nos leem.

Então, aqui em França iremos receber o Rafael Cardoso e o João Pinto Coelho na Fundação Gulbenkian de Paris. Na Bélgica, em Bruxelas, graças à parceria estabelecida com o Instituto de Camões, representado pela professora Maria Sofia Santos, iremos receber o Nuno Gomes Garcia…

 

Lá estarei com grande prazer.

Contaremos também com a presença da Dulce Maria Cardoso, do David Machado, do poeta José Paulo Pego e de um jovem autor de 20 anos chamado Gonçalves Naves.

 

Sim, o Gonçalo Naves, que vive em Sines.

Exato, que vem de Sines. E no Luxemburgo, também em parceria com o Instituto Camões, contaremos com a presença da professora e poetisa Maria João Cantinho e do Almeida Faria.

 

Referiu a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto Camões como parceiros institucionais. Que outros parceiros é que o festival encontrou?

São principalmente instituições de ensino. São 15 universidades que participam no festival. Sorbonne, Nanterre, Rennes, Lille e Montpellier. Na Bélgica, as universidades de Gand, Antuérpia e a Universidade Livre de Bruxelas. O Instituto de Teologia da Universidade do Luxemburgo. E nos EUA, a Northwest University, as universidades do Arizona, do Ohio e do Novo México. Para além das universidades também contamos com a colaboração de escolas do ensino secundário e primário em França e na Bélgica, escolas onde é ensinada a língua portuguesa.

 

Leonardo, esta entrada dos EUA na equação do festival não levanta problemas logísticos sérios?

Ela já levanta um problema logístico sério para o próprio organizador que é sobretudo professor universitário e deve lecionar aqui em França.

 

Está a falar de si próprio?

Estou a falar de mim próprio (risos). Mas, sim, levanta problemas logísticos. No entanto como é um festival itinerante, significa que os autores não participam no conjunto do festival. Ou seja, os que participam em França, não participarão nos EUA. De facto, a nossa presença nos EUA partiu de uma proposta da Universidade do Northwest e de Chicago que colaboram na vinda dos autores diretamente do Brasil. Mas a organização nos EUA é essencialmente organizada pelos professores dos EUA, sempre com o objetivo de trazer o escritor para dentro da sala de aula no contexto bastante específico do ensino do português como língua estrangeira.

 

Bem, chegou a altura de nos sugerir o livro que está a ler neste momento.

Na verdade, estou a ler três livros, já que eu leio vários livros ao mesmo tempo. Mas aconselho o livro do Julián Fuks, «Resistência», que recebeu o Prémio Saramago e que será publicado em França pelas Editions Grasset. É um livro belíssimo. Estou também a ler o Rafael Cardoso, «O Remanescente», que é uma longa saga da sua própria família. E, paralelamente, estou a ler dois poetas portugueses apaixonantes, a Maria João Cantinho e o José Paulo Pego.

 

O Printemps Littéraire decorre até ao final de março em Paris e na região parisiense, na Bélgica e no Luxemburgo. O programa pode ser consultado na página de internet da organização: www.printempslitterairebresilien.com

 

 

Entrevista realizada no quadro do programa “O livro da semana” na rádio Alfa, apoiado pela Biblioteca Gulbenkian Paris

Próximo convidado:

Andréa Zamorano, autor de «A Casa das Rosas»

Quarta-feira, 14 de março, 8h30

Domingo, 18 de março, 14h25

 

 

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LusoJornal