O soldado Albino de Sousa está provavelmente enterrado em Saint Venant

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No cemitério de St Venant “3 unknown soldiers of the great war” são provavelmente 3 soldados portugueses da Grande Guerra, um deles será Albino de Sousa.

Nem todos os militares portugueses do Corpo Expedicionário Português (CEP) falecidos em França estão sepultados no Cemitério Militar Português de Richebourg. Já aqui abordamos o tema diversas vezes.

Quando comecei a pesquisar, para tentar encontrar a sepultura do tio-avô dos meus pais, há cerca de 2 anos, entrei em contacto, em Portugal e em França, com associações locais de veteranos, com serviços de arquivo, com administrações locais, etc. Todos me responderam que os soldados portugueses estavam todos sepultados em Richebourg.

Para mim, esta questão é como uma lenda: sempre se disse que os Portugueses estavam em Richebourg e toda a gente acabou por acreditar, sem conferir, sem se colocarem mais perguntas.

Possuímos documentação sobre a primeira sepultura e até hoje, talvez a única, em nome de Albino de Sousa.

Albino de Sousa foi sepultado numa campa individual na localidade onde faleceu, em Saint Venant

Houve evidentemente muitos soldados portugueses falecidos que foram transladados, de diversos cemitérios da região para o Cemitério Militar Português de Richebourg. Não podemos contudo esquecer e não ter em consideração que entre o fim da guerra, em novembro de 1918, e a chegada da Comissão Portuguesa das Sepulturas de Guerra (CPSG), no verão de 1919, certos elementos de identificação das campas podem ter-se degradado ou terão mesmo desaparecido.

A CPSG, caso não houvesse elementos formais de identificação na campa, considerava que o soldado que ali estava sepultado era “desconhecido”.

Dos documentos a que tivemos acesso, Albino de Sousa não faz parte dos soldados desconhecidos sepultados em Richebourg.

Albino de Sousa nasceu no dia 22 de janeiro de 1894, na freguesia de Pelmá, concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Era filho de Luísa das Neves e de Manuel de Sousa. Teve 3 irmãs – Maria Rosa, Albina e Virgínia – e 3 irmãos – Manuel, António e José.

Foi recrutado em 1914 com 20 anos. Embarcou, três anos depois, no dia 21 de abril de 1917, de Lisboa para França. Foi-lhe atribuído nesse momento o número de placa 55.345.

Albino de Sousa, embarcou solteiro e não voltou mais a Portugal, pelo que não deixou descendência.

Tanto nós, como outros membros da família de Albino de Sousa (1), desde 2018 que tudo temos feito para encontrar vestígios deste nosso antepassado que participou, integrado no CEP, na I Guerra Mundial.

Inicialmente incorporado no Regimento de Artilharia n°8, passou para o Batalhão de Pontoneiros em 1915, tendo sido promovido a 1° Cabo condutor no ano seguinte, com o n°224.

No seguimento da extinção desta Companhia, Albino de Sousa foi colocado no Depósito misto e a seguir na Secção de engenharia. No website do Centenário da Grande Guerra, podemos consultar mais informações relativas a este Batalhão pouco conhecido (2).

Um ano depois de ter embarcado de Lisboa, foi ferido. Aconteceu no dia 8 de abril de 1918, véspera da Batalha de La Lys, em manobras de preparação para o ataque do dia seguinte, efetuadas pelos Alemães, na retaguarda, e com a finalidade de cortarem as ligações telefónica. Por coincidência, Albino de Sousa viria a falecer precisamente no dia em que começou a Batalha de la Lys.

Coisas de vida e de morte: o dia 9 de abril devia ser o último dia de serviço do nosso familiar, afinal foi o seu último dia de vida, no Hospital militar português de Saint Venant. Diz-se em Pelmá, sua terra natal, que Albino teria sido amputado de uma perna na véspera de morrer.

De todas as pesquisas por nós feitas, o que é certo é que Albino de Sousa foi sepultado no Cemitério comunal de Saint Venant, na cova n°19, segundo a sua ficha individual, ao lado de soldados ingleses, juntamente com 9 outros Portugueses. Aí foram sepultados, entre 27 de julho de 1917 e 09 de abril de 1918. Pudemos confirmar estes dados através dos boletins individuais. Existe mesmo uma fotografia do funeral de um ou dois destes dez soldados portugueses (3).

Albino de Sousa faz parte dos soldados, juntamente com outros dois Portugueses, que não foram transladados para os cemitérios de concentração ingleses, antes de serem novamente transladados para o Cemitério Militar Português de Richebourg. Esta afirmação podemo-la justificar através dos arquivos ingleses.

Com efeito, os arquivos britânicos que podem ser consultados no site do Commonwealth War Graves Commission (CWGC) (4) comprovam que foram somente 7 Portugueses que foram transladados de Saint Venant (ver as 7 linhas em inglês “vacant portuguese sepultura exumada”). Neste cemitério, e ao contrário de outros nas proximidades, os arquivos britânicos não fornecem os nomes dos 10 Portugueses que foram inicialmente aí enterrados, entre os quais os 7 agora sepultados em Richebourg. As sepulturas aparecem estranhamente nominativas em Richebourg, talvez tenha havido cruzamento de ficheiros.

Por outro lado, através da consulta dos arquivos português e britânico, podemos deduzir que os outros 3 não foram transladados. É aí que chegámos à conclusão que – no condicional porque não podemos atestar firmemente – não tendo sido transladados, terão então ficado, provavelmente, no Cemitério de Saint Venant.

No que diz respeito a todas as interrogação que ainda temos de Saint Venant, no talhão português, soldados houve, aí sepultados, que eram de nacionalidade inglesa. Para além disso, ali se sepultaram soldados que vieram do hospital, enterrados sem farda militar, facto que veio dificultar a identificação. Estarão neste caso talvez os três soldados portugueses não exumados.

Em 9 de abril de 1918, Saint Venant teria sido bombardeado a partir das 4h15, o que veio criar alguma confusão, inclusivamente nos funerais. Dos 10 Portugueses de Saint Venant, 1 faleceu a 8 de abril, 4 faleceram a 9 de abril, os outros 5 morreram antes da Batalha de La Lys.

Albino Sousa, falecido a 8 de abril, assim como os outros dois soldados, permaneceram em Saint Venant e estariam em sepulturas de desconhecidos, muito perto dos locais atualmente sem lápides de 2 Portugueses falecidos nos dias 8 e 9 de abril. Numa das fotos podemos ver os lugares vagos. Por dedução e eliminação, 3 das vagas serão provavelmente de soldados portugueses desconhecidos.

No Cemitério de Saint Venant, logo ao pé dos três lugares agora vazios, estão algumas sepulturas igualmente de Britânicos desconhecidos… Todos os leitores podem presumir do desfecho desta história. Os detalhes estão no meu esquema do Cemitério, que aqui publico.

As dúvidas só seriam levantadas se, como aconteceu com os soldados australianos sepultados recentemente em Fromelle, um levantamento da ADN fosse feito.

Estou convencida que a Comissão Portuguesa das Sepulturas de Guerra fez, na altura, tudo o que podia ser feito para encontrar cadáveres de colegas e camaradas. Tratavam-se de antigos combatentes, mas as dificuldades eram imensas. Em certos casos, foi impossível saber qual era a identidade do militar e mesmo a nacionalidade, ficando o soldado como desconhecido.

Aqui deixamos um resumo das nossas pesquisas, que consideramos ainda não terem terminado. O nosso ascendente fará provavelmente parte das três vagas no Cemitério de Saint Venant – parte militar – onde estão as campas inglesas. Qual das três será a da Albino de Sousa?

A história do nosso familiar serve de exemplo das dificuldades que há em se apurar a verdade, por vezes, por falta de documentos, por dificuldades administrativas e por vezes também por incompreensão das autoridades da necessidade dos familiares encontrarem resposta às suas dúvidas.

Para informação dos leitores do LusoJornal, Saint Venant é uma aldeia do Pas-de-Calais, a cerca de 20 km de Richebourg, que ficava na retaguarda da frente do antigo setor português, ocupado pelo CEP (5). Nesta localidade, encontrava-se o Quartel General do CEP e também o Hospital de sangue n°2.

Neste dia do Armistício, passados que são 102 anos, queria prestar homenagem a todas as vítimas de todas as Guerras (6). Lembremos aqui todos quantos participaram no CEP na I Guerra mundial.

Há, fora dos cemitérios de Richebourg, de Boulogne-sur-Mer e de Antuérpia, alguns soldados portugueses que têm uma campa nominativa, disso publicámos já vários artigos no LusoJornal. Há também outros casos, mais complicados, como o do nosso familiar aqui descrito, e outros ainda mais complexos.

A pesquisa continua.

 

Christina da Costa

 

(1) Agradeço os meus pais – Maria e Manuel Costa – que me têm ajudado nas minhas pesquisas e que contribuíram para escrever o presente artigo.

(2) Website do Centenário da Grande Guerra: http://centenariograndeguerra.defesa.gov.pt/franca/mobilizacao/engenharia.html#engenharia-3

(3)

ttph://lapremiereguerremondiale.eklablog.com/saint-venant-gallery49334

(4) Website da CWGC (Commonwealth War Graves Commission): https://www.cwgc.org/visit-us/

(5) https://www.facebook.com/SectorPortugues

(6) Sugerimos aqui a história muito emocionante de Tom Rodgers e do irmão Georges, em St Venant: https://arham62.monsite

 

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LusoJornal