Saúde: Rinosinusite crónica com pólipos


Cerca de 4% dos adultos sofrem de rinosinusite crónica, de inflamação crónica da mucosa nasal e dos seios perinasais. Destes, 20 a 30% têm pólipos que representam crescimentos anormais de tecido semelhantes a dedos de luva gelatinosos que bloqueiam a normal drenagem de secreções nasais e a entrada de ar no nariz.

A maior parte destes doentes são diagnosticados somente na terceira ou quarta décadas de vida, depois de anos e anos de sintomas não só locais, como a obstrução nasal, mas também gerais como alterações do sono e cansaço. Qualquer adulto com queixas de anósmia (perda do olfato), congestão nasal (obstrução e pressão nasal) e rinorreia (produção excessiva de secreções nasais) durante mais de três meses deverá consultar um médico otorrinolaringologista.

Durante a consulta desta especialidade, a endoscopia nasal permite o diagnóstico de rinosinusite crónica com pólipos ou polipose nasal (nome pelo qual ainda é conhecida por muitos).

Esta é uma doença que resulta de um tipo específico de inflamação, a inflamação tipo 2, responsável pela disfunção da barreira mucosa e alteração da flora nasal. Apesar de este tipo de resposta inflamatória ser desenhada como resposta face à exposição de certos agentes muito específicos, em algumas pessoas ela também acontece mesmo na ausência de um agressor. É o caso da rinosinusite com pólipos, da asma, da doença respiratória exacerbada pelos anti-inflamatórios não esteróides (tais como a aspirina) ou mesmo de doenças não respiratórias como o eczema atópico.

Nos casos em que os doentes apresentam simultaneamente rinosinusite com pólipos e outra doença inflamatória tipo 2, a doença é mais agressiva. Esta característica possibilita o diagnóstico mais precoce, mas a doença apresenta maior resistência ao tratamento.

O tratamento faz-se com corticóides, anti-inflamatórios muito potentes, administrados por via oral, injetável ou por via tópica nasal. O tratamento tópico nasal é diário e acompanha toda a vida do doente. Em casos mais graves, pode estar indicada a realização de cirurgia. Neste contexto, a cirurgia endoscópica naso-sinusal é uma técnica mais recente e que possibilitou não só maior segurança para os doentes, mas também melhores resultados a curto e a longo prazo.

No entanto, mesmo em doentes bem controlados através do uso diário e rigoroso de corticóides tópicos, as taxas de recorrência podem atingir os 20 a 60%.

O impacto na qualidade de vida para estes doentes é brutal, sendo comparável ao efeito de outras doenças crónicas tais como a diabetes mellitus, a doença pulmonar obstrutiva crónica ou mesmo a doença de Parkinson. A contribuir para isto está também a evidência de que estes doentes apresentam uma maior propensão para a depressão e para ansiedade. Por tudo isto, os custos diretos e indiretos contabilizados como estando associados a esta patologia são muito elevados atingindo mesmo o valor de 7.500 euros por ano.

Como explicado anteriormente, os doentes com mais do que uma manifestação de doença inflamatória tipo 2, por apresentarem maiores taxas de recorrência, necessitam de um maior número de cirurgias. Por esse motivo, um dos últimos avanços disponíveis para estes doentes é o tratamento biológico. Este corresponde à utilização de anticorpos monoclonais que são dirigidos especificamente aos mediadores da inflamação tipo 2. Os estudos mostram que a utilização destes agentes permite melhores resultados na congestão nasal, no olfato e na qualidade de vida.

Outra vantagem deste tratamento inovador é que, apesar de continuar a requerer um uso continuado ao longo da vida, permite que seja feito maioritariamente no domicílio. Contudo, devido ao seu preço elevado (cerca de 15.000 euros/ano) continua a estar reservado apenas para os doentes que apresentem quadros mais graves e com piores respostas aos tratamentos convencionais. Apesar dos desafios que levanta, é com enorme orgulho que podemos confirmar que este tratamento inovador e decisivo para o outcome destes doentes está disponível no SNS em Portugal, nomeadamente no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santa Maria.

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Professor Doutor Leonel Luís

Otorrinolaringologista

Diretor clínico do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santa Maria, Lisboa

e Hospital Lusíadas, Amadora