“Labirintos da Memória” começou ontem em Sabugal

Está a decorrer atualmente a segunda edição do seminário “Labirintos da Memória”, que começou esta sexta-feira no Sabugal e continua este sábado no Fundão. A primeira edição do evento teve lugar no Fundão, há dois anos, e este ano, o município do Sabugal também se associou à iniciativa.

“Em boa hora o meu amigo Paulo Fernandes, Presidente da Câmara Municipal do Fundão, me propôs de associar o Sabugal a esta reflexão. Tenho a certeza que ele também sabia que nós não diriamos que não” disse na sua intervenção de ontem, o Presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo.

“Quando organizámos a primeira edição dos ‘Labirintos da Memória’, ficou decido que fariamos este evento todos os dois anos” explicou Paulo Fernandes. “Mas ficou também decidido que iriamos alargar a outros municípios que têm as temáticas da emigração na agenda”.

O Seminário, que dura dois dias e no qual participam cerca de 20 oradores, tem também na organização o Coletivo francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes, baseado em Bordeaux e dirigido por Manuel Dias. “Manuel Dias foi um parceiro importante logo desde a primeira edição desta iniciativa” disse o Presidente da Câmara do Fundão. “É a ele que se deve a escolha do painel de oradores de qualidade excecional que temos aqui”.

António Robalo quer acolher o Museu Nacional da Emigração Portuguesa no Sabugal. “Nós temos cerca de 12.000 almas neste concelho, mas durante o verão, com a chegada dos emigrantes, triplicamos os habitantes”. Por isso criou a rede “Sabugal Primus”, com elementos do concelho do Sabugal espalhados pelo mundo.

Paulo Fernando lançou o conceito de “população vinculada”. “Podem não ser de cá, nem ter aqui património, mas podem estar muito vinculados ao nosso concelho” explica o Presidente da Câmara do Fundão.

Tanto o concelho de Almeida como o do Sabugal, ficaram marcados pelas rotas do contrabando. As mesmas pessoas que “passavam mercadoria” transformaram-se depois em “passadores de pessoas” porque já conheciam os caminhos e já tinham contactos do lado de lá, na Espanha. “Por isso, justifica-se aqui um Museu” garante António Robalo.

“Uma parte da história recente de Portugal foi feita pelos Portugueses que, pelas razões que sabemos, tiveram de sair do país” confirma o Deputado Carlos Gonçalves (PSD). “Até aqui havia alguma dificuldade em abordar estas questões em Portugal, mas hoje aborda-se de forma descomplexada”.

“Quando se fala de emigração, fala-se de funcionários consulares, de ensino de português, de apoio às associações… Tudo isto é importante, mas é necessário ir mais longe. É necessário repensar a relação dos Portugueses que residem no estrangeiro com os Portugueses de Portugal” conclui o Deputado Paulo Pisco (PS). “O Estado tem de ter uma atitude diferente em relação aos Portugueses fora, não só aos mononacionais, como também aos lusodescendentes”.

A socióloga Maria Beatriz Rocha Trindade, que desde os anos 60 tem trabalhado sobre questões relacionadas com a emigração, fez uma intervenção de fundo sobre mobilidade – “prefiro falar de mobilidade do que de emigração / imigração”, explica – e disponibiliza-se para apoiar a Câmara Municipal do Sabugal na criação do Museu Nacional da Emigração.

 

Emigração

Durante o primeiro dia do Seminário, foi apresentado o livro “Le passage clandestin des Portugais par la frontière du Pays basque” da autoria de Rosa Arburua Goienetxe, com perfácio de Manuel Dias. O livroconta como os passadores bascos ajudaram os Portugueses.

O historiador Vítor Pereira falou da emigração portuguesa para França desde o início do século XX. “Até 1965, a PIDE deixou os Espanhóis controlar as fronteiras e capturar os Portugueses que passavam a salto” explicou. Mas depois, a Espanha mudou de ideias. “Por um lado porque a PIDE foi assassinar Humberto Delgado em Espanha, sem informar as autoridades espanholas, e em segundo lugar, porque a própria Espanha deixava sair os seus cidadãos, então não havia razões para bloquear a saída dos Portugueses” explica o historiador da Universidade de Pau.

Nos anos 1969, 70 e 71, chegavam à fronteira de Hendaye cerca de 400 Portugueses por dia.

A historiadora Marta Nunes da Silva trabalhou na região de Almeida e do Sabugal e entrevistou passadores e contrabandistas e comparou as notícias dos anos 50 e 60 com as notícias sobre os refugiados que atravessam atualmente o mar Mediterrâneo. “Nos dois casos, os intermediários são os culpados. Mas serão eles efetivamente os exploradores, ou apenas estão a responder com um serviço a quem dele necessita?” interroga.

Durante a tarde houve testemunhos da emigrantes, como o de Glória Martins, originária de Quadrazais, a residir em Tours, e o de Abílio Laceiras, há muitos anos radicado na região parisiense. “Muita gente enriqueceu graças à emigração” diz.

Adérito Tavares, da Universidade Católica Portuguesa, emocionou a assistência, quando falou da Guerra colonial e o professor catedrático da Universidade da Beira Interior, José Ramos Pires Manso, traçou a situação económica da região entre os anos 60 e o pós 25 de abril.

Antes da projeção do filme “Portugais de France et d’Ailleurs” – filmado aquando de um colóquio organizado pelo Comité Aristides de Sousa Mendes em Hendaye, em 2013 – Norberto Manso, Assessor do Presidente da Câmara Municipal do Sabugal, lamentou a fraca assistência local a este seminário, esperando que esteja mais gente este sábado no Fundão, “porque as intervenção que ouvi aqui são de excelência, são de grande qualidade”.

Este sábado, o Seminário continua, no Centro cultural A Moagem, no Fundão.

 

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LusoJornal