Législatives’24: Yaël Braun-Pivet avisa Comunidade portuguesa para temer extrema-direita


A Presidente cessante da Assembleia Nacional francesa afirmou à Lusa que a Comunidade portuguesa residente em França deve temer um Governo da União Nacional, salientando que o partido propõe um projeto que discrimina os cidadãos com dupla nacionalidade.

“O Rassemblement National (RN), propõe hoje uma política de divisão, xenófoba e que separa as pessoas entre os que detêm a dupla nacionalidade e os que só têm a nacionalidade francesa. É muito grave”, afirmou Yaël Braun-Pivet em declarações à Lusa à margem de uma ação de campanha no centro de Paris.

A Presidente da Assembleia Nacional francesa – a câmara baixa do Parlamento – aludia a uma proposta do RN para impedir que os cidadãos franceses que têm uma segunda nacionalidade acedam a certos empregos da função pública. Segundo o partido, seriam “muitos poucos casos”, reservados a setores “extremamente sensíveis” do Estado, como a diplomacia, a segurança ou a defesa.

Para a Presidente cessante da Assembleia Nacional francesa, esta proposta “de certeza que é inconstitucional”, porque viola o princípio, consagrado no primeiro artigo da Constituição francesa, que estabelece “a igualdade, perante a lei, de todos os cidadãos, sem distinguir a origem, raça ou religião”.

É uma proposta “a nível intelectual, ético e filosófico, contrária a toda a história da França e à identidade do nosso país”, acrescentou ainda a quarta figura do Estado francês.

Questionada assim se considera que a Comunidade portuguesa residente em França deve temer um Governo do Rassemblement National, Yaël Braun-Pivet respondeu: “Acredito que sim”.

Nestas declarações à Lusa, a Presidente da Assembleia Nacional avisou ainda que um eventual Governo extremista em França seria “muito problemático” a nível europeu, e em particular no apoio à Ucrânia, por implicar uma “tensão entre os dois líderes do executivo: o Presidente da República e o Primeiro Ministro, assim como os respetivos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa”.

“Nestes momentos de tensão, é preciso que a França fale a uma só voz e o Presidente Macron tem representado a voz da França a nível internacional de uma forma extremamente brilhante e reconhecida. Seria de evitar que agora um Governo de outra cor política viesse interferir com essa mensagem”, salientou.

Yaël Braun-Pivet é a primeira mulher a desempenhar o cargo de Presidente da Assembleia Nacional francesa, depois de ter sido eleita em junho de 2022, na sequência das eleições legislativas daquele ano que deram uma maioria relativa à coligação presidencial, com a eleição de 245 Deputados.

Inicialmente militante do Partido Socialista francês, Yaël Braun-Pivet aderiu em 2016, ano da sua fundação, ao partido criado por Emmanuel Macron, Republique en Marche.

Em 2017 e 2022, Yaël Braun-Pivet conseguiu ser eleita Deputada no 5° círculo eleitoral dos Yvelines, nos arredores de Paris. Este ano, apesar de ser crítica da decisão de Emmanuel Macron de dissolver o Parlamento, decidiu recandidatar-se no mesmo círculo eleitoral e já se manifestou disponível para voltar a assumir o cargo de Presidente da Assembleia Nacional.

Tiago Almeida, Lusa

LusoJornal