LusoJornal | Carlos Pereira

Os Franceses de Portugal já votaram 7 vezes com voto eletrónico… e funciona!

Com a recente eleição legislativa intercalar no 5° círculo eleitoral dos Franceses residentes no estrangeiro, que inclui Portugal, Espanha, Andorra e Mónaco, os Franceses que residem nestes países completaram 7 eleições por voto eletrónico, mas alguns dirigentes políticos em Portugal continuam a dizer, erradamente, que a França vai parar com esta metodologia de voto, argumentando que “dá problema”.

Emmanuelle Afonso é lusodescendente, nasceu em França, mas mora em Portugal e explicou ao LusoJornal como se vota eletronicamente.
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Como se passa o voto eletrónico para os Franceses residentes no estrangeiro?

É um processo que tem vindo a mudar. Cada vez é mais fácil de utilização e mais rápido.

O eleitor escolhe a metodologia de voto?

Não, não tem que escolher antecipadamente, como é o caso de Portugal onde tem de escolher com vários meses de antecedência. Para as eleições francesas até à última da hora pode-se votar de forma eletrónica, como foi o meu caso. Aliás, desta vez, eu usei duas metodologias diferentes. Na primeira volta fui votar a uma mesa de voto, na Embaixada de França em Lisboa e na segunda volta, votei pela internet.

Se me esquecer de votar pela internet, posso ir à mesa de voto no domingo e voto presencialmente. Na verdade, pela internet o voto tem de ser feito até quarta-feira anterior ao voto.

Todos os eleitores recebem a propaganda dos candidatos, por mail, antes de começar o voto eletrónico, não é?

Todos recebem por e-mail, independentemente da forma como irão votar. Não falha essa publicidade. Todos os candidatos têm acesso à lista eleitoral consular, onde constam e-mails. Isso é muito interessante. Para cada eleitor há dois endereços de e-mails, portanto há sempre um que funciona. Recebemos sempre as informações dos candidatos que quiserem usar esse suporte. Nós nunca podemos aceitar que o funcionamento de um sistema eleitoral dependa dos correios de outros países. Pela internet é bem mais ecológico e bem mais barato. Quando se está a votar de forma eletrónica, tem-se acesso ao material de cada candidato, em PDF.

Os eleitores recebem todos um mail e um SMS?

Sim, recebemos tudo mais ou menos 15 dias antes do ato eleitoral, portanto há uma certa antecedência. O SMS também é um alerta para as pessoas pensarem: se o mail foi para spam, podemos procurar no anti-spam.

E o que chega por mail ou por SMS?

O SMS envia uma password, o mail envia uma outra password, e só com a composição dos dois é que se consegue votar. Até há uma tripla verificação, porque depois, mesmo no ato do voto, há umas letras e números para transcrever, para mostrar que não é um robô.

Depois, se o eleitor não votou até quarta-feira, pode ir votar à mesa de voto.

Qualquer eleitor pode ir votar à mesa de votos?

Na mesa de voto já indicam os que já votaram. Eu fiz exatamente esse exercício na última eleição: apesar de ter votado pela internet, passei pela mesa de voto para ter a certeza que, frente ao meu nome, estava inscrito que votei por internet, e estava.

Algum momento ouviu falar em dúvidas e até que esta metodologia de voto pode acabar?

Não. Eu sei que há esse rumor em Portugal, mas é completamente infundado. Eu faço parte do movimento “Também Somos Portugueses” (TSP) e quisemos ir mesmo à fonte. Temos informações fidedignas do responsável do Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros, que trata do voto dos Franceses residentes no estrangeiro – enquanto o Ministério do Interior trata dos votos dos Franceses em França – e ele disse é que é completamente infundado, não é verdade, vai-se manter a decisão do Estado francês. Não vai ser ampliado aos Franceses de França porque esses têm uma mesa de voto perto de casa, mas vai-se manter, sim, para os Franceses residentes no estrangeiro. Não há qualquer dúvida.

Se há uma coisa que tem de acabar um dia, vai ser o voto presencial, porque realmente mobiliza toda uma equipa, toda uma infraestrutura, não só física e humana, mas também ambiental pesada, com a impressão dos votos em papel…

Algo que também está em discussão em França, é a questão do voto por correspondência. Apenas uma taxa muito residual vota por correspondência, a esmagadora maioria vota mesmo pela internet.

Está confiante que o voto eletrónico pode funcionar em Portugal?

Eu falei com o CEO da empresa de software que faz o voto eletrónico em França, com quem troquei, obviamente, informações sobre os dois sistemas. Ele ficou perfeitamente abismado e surpreendido com o avanço tecnológico de Portugal em relação à França, por causa da Chave Móvel Digital que não existe em França e do caderno eleitoral desmaterializado. E ele diz que no dia em que Portugal avançar, obviamente não há qualquer problema tecnológico.