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Adega Ponte da Barca: Uma nova estratégia para conquistar novos mercados

Se usássemos a linguagem do setor vinícola diríamos que 2019 é um ano “excecional” para a Adega Ponte da Barca (APDB). A empresa comemora 50 anos de atividade e lançou quatro novos produtos: o vinho premium “APDB 500”, o vinho “Reserva de Sócios Loureiro” e duas cervejas vínicas – a Cervejola e o Cervejão.

Fundada em 1963, a APDB exporta, atualmente, 50% dos vinhos, espumantes e aguardente para mercados tão diferentes como Estados Unidos, Rússia, Brasil, Polónia, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Suíça, Japão, Equador… para citar apenas alguns entre os 20 onde marca presença.

O volume de faturação da Adega PDB em 2018 foi de perto de 4 milhões de euros. A França é um mercado importante, mas ainda em crescimento, que representa apenas 3 a 4% do total de faturação.

Para evocar esta nova fase, entrevistamos Amândio Brito Lago, Presidente da Adega Ponte da Barca desde 2005.

 

Durante alguns anos, a Adega manteve a gama de produtos inalterada. Agora, num ano lançou quatro produtos novos. Pode explicar-nos a nova estratégia da Cooperativa?

Esta estratégia está inserida num projeto de inovação e no nosso plano de deslocalização da Adega. Estes novos produtos têm um conceito diferenciado daquilo que é o tradicional Vinho Verde. Os novos vinhos têm capacidade de envelhecimento, ou seja, são produtos que podem ser consumidos a dois, três e vários anos após a colheita, devido ao estágio cuidado em barricas de carvalho francês. O objetivo é, também, chegar a novos mercados, onde os Vinhos Verdes não têm tanta aceitação. Com estes vinhos de alta qualidade e imagem cuidada queremos chegar a consumidores que têm poder de compra, mas que estão, eventualmente, afastados dos Vinhos Verdes de perfil mais tradicional e entrada de gama. Temos de recordar que, durante anos, houve a ideia de que os Vinhos Verdes eram vinhos muito simples. Os próprios críticos defendiam essa ideia, mas as mentalidades estão a mudar e a realidade prova isso. Estes novos vinhos conquistaram a crítica nacional e internacional permitindo que cheguemos a esses consumidores mais exigentes. Em relação a outros produtos, como as cervejas vínicas, o objetivo é chegar a consumidores mais jovens que consomem mais cervejas e gravitam no mundo cervejeiro. Estas novas propostas podem ser uma alavanca para começarem a enveredar no mundo dos vinhos. Pelo menos é o que esperamos.

 

Cerveja e vinho, não é uma associação muito comum e, no mercado, são produtos concorrentes. Além disso, na região dos Vinhos Verdes a tradição ainda é muito importante. Como nasceu a ideia de uma cerveja vínica?

A ideia de uma cerveja vínica nasceu de contactos entre a Cervejeira Letra e a nossa equipa de enologia e inovação. Mas isso integra-se na nossa estratégia de criação de novos produtos. Aquelas que lançamos já têm muita aceitação no mercado.

 

Então o mercado reagiu bem a esta cerveja?

A primeira cerveja que lançamos, o Cervejão, uma cerveja do estilo IPA que fermentou com mosto e uvas da casta Vinhão, esgotou logo no dia da sua apresentação pública, tal foi o interesse que despertou, pela experiência sensorial inusitada que gerou em quem a provou. Cerca de dois meses depois, lançamos outra cerveja, o Cervejola, esta com mosto de vinho branco. Tem tido uma excelente aceitação. A produção é ainda um pouco limitada, perto de 4.000 garrafas de meio litro, mas está já em aberto a possibilidade de produzir uma segunda edição.

 

Qual é, neste momento, o grande desafio da Adega de Ponte da Barca?

O grande desafio é mesmo a mudança de instalações. Ao longo destes seis, sete anos, temos crescido a um ritmo acima dos dez por cento ao ano, e, segundo as previsões do mercado, o crescimento vai manter-se na ordem dos dois dígitos. No entanto, a atual adega não tem capacidade suficiente para dar resposta às necessidades.

 

É Presidente desde 2005. Durante estes 14 anos, a conjuntura económica não foi a mais favorável. Que balanço é que faz destes anos?

Desde 2005, houve várias conjunturas nos Vinhos Verdes. Podemos falar de uma conjuntura até 2008, que esteve relacionada com a crise económica, e outra pós-2008. Em 2008, a Adega de Ponte da Barca, junto com outras adegas, criou uma empresa para fazer a comercialização dos vinhos. O projeto não correu como previsto, embora fosse apadrinhado pelo Ministro da Agricultura e pela Secretário de Estado, que nos prometeram mundos e fundos. Mas, no momento de dar o passo importante, a tutela tirou-nos o tapete. No final, foi a Adega Ponte da Barca que foi o motor. A empresa foi criada e começou a trabalhar com a estrutura existente da Adega, tanto que ela está sediada nas nossas instalações. As coisas não correram como previsto. Fomos resilientes e avançamos com o projeto sem os meios financeiros prometidos. Isso levou a que a Adega passasse por um período difícil em termos de tesouraria. No final, ultrapassamos nas dificuldades. No pós-2008, a Adega Ponte da Barca lançou-se no mercado externo. Já tínhamos exportação, mas para o chamado “mercado da saudade”, para mercados onde estavam emigrantes portugueses. Depois de 2008 começamos a fazer os mercados externos, o que levou alguns anos. Para vender vinho não é apenas estalar os dedos. Trabalhamos muito. A partir de 2012, consolidou-se o trabalho e começamos a ter crescimentos muito interessantes, na ordem dos dois dígitos. Este período foi interessante, porque apreendemos muito. Tivemos períodos bons e outros menos bons, mas penso, que neste momento, se fizéssemos a comparação com um navio, estamos em velocidade de cruzeiro rumo ao futuro.

 

Qual é o seu grande sonho para a Adega Ponte da Barca?

O sonho, neste momento, está assente na construção de uma nova adega. Temos de ter consciência que a construção das novas instalações é um ato arrojado. Antecipamos algumas dificuldades, como é normal em todos os projetos. Mas, se tudo correr bem, esperamos transferir para os nossos sócios uma grande parte da mais-valia dos produtos que vendemos, ou seja, espero que possamos valorizar as uvas que nos entregam. Esse seria o meu grande sonho e é para isso que luto, porque eu também sou produtor.

 

E em relação ao mercado francês?

Por forma a aumentarmos a nossa presença no mercado francês, estamos a prever algumas ações de promoção no mercado, nomeadamente com provas harmonizadas de Vinho Verde com cozinha francesa e a participação em duas feiras, a principal das quais será Wine Paris & Vinexpo Paris 2020 no início de fevereiro 2020.

 

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