LusoJornal / Ana Catarina Alberto

Carlos Henriques Pereira pede reformulação da candidatura “Equitação Portuguesa” ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

O Presidente de Institut du Cheval et de l’Équitation Portugaise, Carlos Henriques Pereira, também Maître de conférences na Universidade de Paris III Sorbonne Nouvelle, Diretor geral da Cavalgador – agência oficial de formação em equitação portuguesa e único organismo certificado a nível internacional, não foi implicado na proposta de inscrição da “Equitação Portuguesa” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

O processo encontra-se atualmente em consulta pública, como consta do anúncio publicado em Diário da República no dia 02 de setembro e Carlos Henriques Pereira apresentou um pedido de reformulação da candidatura.

A proposta de inscrição da “Equitação Portuguesa” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi apresentada ao Ministério português da Cultura pela Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL) e Carlos Pereira denuncia por um lado a “manifesta escassez de documentação que evidencie as bases científicas de suporte à candidatura” mas também a “incorreta associação exclusiva da Equitação Portuguesa ao Cavalo Lusitano, não considerando outras raças equinas autóctones e práticas equestres tradicionais”.

 

Garrano ausente da proposta

Carlos Henriques Pereira, que tem vários livros publicados sobre esta matéria, considera que “a Equitação Portuguesa não pode ser associada em exclusivo ao Cavalo Puro Sangue Lusitano, que é uma raça recente na história de Portugal. O cavalo dito Puro Sangue Lusitano é uma construção moderna, resultando do cruzamento de raças equinas de Espanha e berberes do Norte de África” diz na carta que enviou ao Ministério da Cultura e à qual o LusoJornal teve acesso.

Denuncia por exemplo a “desconsideração da raça garrana, a mais antiga raça equina portuguesa, conforme evidência dos mais atuais trabalhos de investigação”.

Sobre este tema, também esta semana se tomou conhecimento da reação do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo a inclusão do “Passo Travado” do garrano na candidatura da “Equitação Portuguesa” a Património Cultural Imaterial, para garantir “a justa representação da diversidade do património equestre português”.

 

Câmara de Viana do Castelo também reagiu

O Garrano é uma raça protegida devido ao risco de extinção, encontrando-se por isso muito poucos no meio selvagem ou na posse de criadores. Este animal tem membros e orelhas curtas e o perfil da cabeça é reto ou côncavo. Tem a sua origem no Ibérico pré-histórico de pequena estatura que era característico das regiões montanhosas do norte da Península Ibérica, sendo considerado por vezes um pónei.

Numa nota enviada à imprensa, o socialista José Maria Costa “lamenta a exclusão e ausência da devida menção ao Garrano, no pedido de inscrição da Equitação Portuguesa, defendendo a imperiosa reformulação da referida candidatura”.

“A candidatura Equitação Portuguesa reflete somente o objetivo de valorização de uma única raça e uma região. Não foram convidadas a contribuir municípios detentores de valioso património equestre”, reforçou o autarca, apontando como exemplos os municípios de Alter do Chão, Vila Franca de Xira, Ponte de Lima e Alpiarça.

“Sustentamos a necessidade de uma proposta mais ampla, mais inclusiva, de maior interesse nacional, mais justa, mais rigorosa e adequadamente fundamentada do ponto de vista cultural e científico”, defendeu.

“O cavalo de montanha ou Garrano está associado à mais antiga equitação de Portugal, conforme estudos científicos recentes, publicados nas Actas do Seminário do projeto internacional Percursos do Homem e do Garrano” assume por seu lado Carlos Pereira. “O conjunto Cavalo Garrano – Passo travado é, provavelmente, o património equestre mais antigo, com evidências providenciadas pela investigação arqueológica recente”.

 

Marca está registada em França

Carlos Henriques Pereira é certamente um dos investigadores mais dinâmicos nesta área e destaca na carta que agora enviou que a marca “Equitation Portugaise” foi registada em França, no Institut National de la Propriété Intelectuelle (INPI) “pela Embaixada de Portugal em França, no ano de 2004, para uso e benefício do Institut du Cheval et de l’Equitation Portugaise, criado com o apoio do Embaixador António Monteiro. Maria Isabel Barreno, na altura Conselheira para o ensino de português em França junto da Embaixada de Portugal integrou o Conselho de Administração do Instituto.

Carlos Henriques Pereira presidiu mesmo a Comissão de Equitação Portuguesa na Federação Francesa de Equitação entre os anos 2000 e 2004, e atualmente é professor associado titular na Universidade Sorbonne Nouvelle e responsável do único programa internacional para o estudo e conservação da Equitação Portuguesa.

 

Único organismo habilitado para fazer formação

Aliás, o Institut du Cheval et de l’Équitation Portugaise “é o único organismo que se dedica, simultaneamente à promoção do conhecimento, através da investigação científica, e à conservação da Equitação Portuguesa, assim como, o único organismo habilitado a formar professores de equitação com certificação de grau de monitor do Ministério do Desporto francês, desde 2013. Foi o primeiro certificado enquanto professor e fundador da disciplina em França, em 2005, pelo Ministério do Desporto de França” escreve na carta.

Por tudo isto, o investigador denuncia a “ausência de consulta ou convite para participação no processo de candidatura ao Institut du Cheval et de l’Équitation Portugaise e à Universidade Sorbonne Nouvelle”.

“A Universidade Sorbonne Nouvelle Paris III, a Universidade de Quioto, a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Viana do Castelo desenvolvem desde 2016 um extensivo trabalho de investigação interdisciplinar e de divulgação científica, visando a preparação de uma candidatura cientificamente fundamentada, do ponto de vista histórico-arqueológico, antropológico, zootécnico, ecológico, entre outros, da Equitação Portuguesa a património imaterial da Unesco” afirma Carlos Henriques Pereira. “A Universidade da Sorbonne Nouvelle Paris III, no quadro do departamento Estudos Lusófonos e do Programa Equinologia, é a única universidade a nível internacional a realizar um trabalho de conservação e de estudo das raças equinas portuguesas e práticas equestres em Portugal”.

O pedido de inscrição da Equitação Portuguesa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi encetado há 2 anos, por iniciativa da Câmara Municipal da Golegã, da Associação Portuguesa Criadores Cavalo Puro Sangue Lusitano, da Escola Portuguesa de Arte Equestre (Parques de Sintra – Monte da Lua) “sem auscultação do consórcio luso-franco-japonês, ignorando o trabalho desenvolvido por esta parceria internacional de investigação e desenvolvimento” lê-se na carta que Carlos Henriques Pereira enviou esta semana ao Ministério da cultura.

 

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