Comité Francês em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes comemorou 30 anos

O Comité Francês em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes comemorou o seu 30° aniversário.

Sabemos todos que, em cada nascimento, há sempre uma data a lembrar, e uma paternidade a assumir.

É por isso que se revela de uma elementar justiça, mencionar nesta data comemorativa do 30° aniversário do Comité Francês em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, as pessoas que estiveram na sua origem.

Com efeito, o Comité viu a sua origem no mês de outubro de 1987, através do investimento e da ação de três homens, três bordaleses de adoção, com personalidades muito distintas, mas animados por uma vontade comum: dar a conhecer a história extraordinária deste homem, e da sua família, reparando assim, uma grave omissão da história de Bordeaux, de Portugal e da Segunda Guerra Mundial.

Trata-se de Manuel Dias Vaz, do Padre Bernard Rivière e de Joaquim Nogueira.

Manuel Dias Vaz, sociólogo, é um humanista europeu, de França e de Portugal, o seu país natal, apaixonado pela perpetuação das memórias, descobre em 1987, a história de Aristides de Sousa Mendes, Justo entre os Justos, Justo entre as Nações, Cônsul de Portugal em Bordeaux, em junho de 1940, que salvou milhares de pessoas dos campos da morte.

Homem de convicção, Manuel Dias decide abraçar a causa, e lutar pela reabilitação deste notável, que, à sua carreira, preferiu a sua consciência, e realizou a maior ação de salvamento alguma vez realizada por uma só pessoa durante a Shoah.

Homem de paixão e um verdadeiro pedagogo, Manuel Dias partilha sem descanso, os valores excecionais transmitidos por este homem, condenado ao esquecimento e à miséria, por um julgamento iníquo.

O padre Bernard Rivière, padre operário, foi um combatente infatigável do direito dos emigrantes portugueses. Em 1987, com Manuel Dias, vai lançar-se, corpo e alma, com firmeza e determinação neste combate, para reabilitar a memória de Aristides de Sousa Mendes, e da sua mulher Angelina.

Bernard Rivière foi cofundador da Fundação Aristides de Sousa Mendes em Portugal, na qualidade de representante do Comité Francês, e contribuiu para reunificar a família dispersa. Ele cria em 2003 o site internet do Comité, e redige três obras em homenagem a Sousa Mendes.

Em 2004, a Fundação Raoul Wallenberg honra-o com a Medalha da Fundação, em reconhecimento da sua ação por Sousa Mendes. Por iniciativa do Comité, em 2007, a família Sousa Mendes, filhos, netos e bisnetos, homenagearam este grande amigo da família, testemunhando-lhe o seu reconhecimento pelas suas ações em favor do seu antepassado.

Joaquim Nogueira, bordalês de adoção, foi um homem que sempre se associou às grandes causas sociais, sensível aos deserdados da vida, sempre pronto a ajudar com a sua pessoa, e a sua experiência, os movimentos associativos.

Desde o mês de Outubro de 1987, os três homens, pioneiros da revelação à luz do dia, da ação deste cônsul português, cujo nome foi cuidadosamente apagado da história, pela vontade de Salazar, criam o Comité Nacional Francês em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes.

 

A criança cresceu. Festejou agora os seus trinta anos.

Durante estes trinta anos de existência, o Comité cresceu, desenvolveu-se e modernizou-se, contando no seu seio, aderentes e simpatizantes, espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Foi esta memória que foi celebrada, relembrada, saudada e enaltecida, os valores do Comité renovados e aplaudidos no Rocher de Palmer, em Cenon (33), nos arredores de Bordeaux, no dia 28 de outubro, na presença entre outras individualidades, do Cônsul Geral de Portugal em Bordeaux, Marcelo Mathias, do Senador de Gironde Philippe Madrelle, do Presidente do Comité João Lourenço, que, nos respetivos discursos, e em uníssono, recordaram o feito heroico deste homem, que, contra tudo e contra todos, obedeceu unicamente às leis ditadas pela sua consciência…

Ato de coragem, como o sublinhou Philippe Madrelle, que salientou ser nosso dever a todos, sobretudo nos tempos que passam, e na sociedade em que vivemos e evoluímos, revoltarmo-nos contra todas as formas de injustiça, de discriminação, de intolerância e de ódio, uma “révolte éveil des consciences”.

O Cônsul Geral de Portugal, através das suas palavras, voltou a sublinhar a importância, e o trabalho infatigável do Comité, na sua luta incessante contra o esquecimento, pela memória daqueles que, pelas suas ações corajosas e únicas, salvaram tantos, e tantos, e tantos seres humanos, de uma morte certa…

Não deixou o Cônsul de Portugal de sublinhar com enfâse, o papel de Manuel Dias, nesta guerra contra o esquecimento que fez sua, e de que é um dos principais combatentes.

Disse ainda Marcelo Mathias, no final do seu discurso, relembrando palavras proferidas pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa, de que “salvar uma vida é salvar a Humanidade”, que Aristides de Sousa Mendes salvou trinta mil vezes a Humanidade inteira, pelo seu gesto de desobediência.

Ao longo das comemorações do 30° aniversário do Comité, várias conferências, projeções de filmes, exposições, interlúdios musicais, leituras diversas, foram realizadas, suscitando o interesse, a participação e a adesão de um grande número de pessoas.

 

A Fundação Aristides de Sousa Mendes

A 17 de novembro nos Arquivos Departamentais da Gironde, em presença do respetivo Diretor, e de alguns eleitos e conferencistas, foi mais uma vez evidenciado este dever que nos incumbe a todos, de lembrança e de transmissão, prolongando a memória de todos aqueles, que não esqueceram o quão importante é a Dignidade do Ser Humano.

Durante este tempo de comemorações e de reflexão, de espaços de memória, para a memória, foram lembradas algumas figuras eminentes, que sempre apoiaram o Comité Francês em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, nomeadamente Chaban Delmas, Maria Barroso, Mário Soares, António Monteiro, Jaime Gama, Seixas da Costa, e muitos muitos outros…, e, evidentemente, Simone Weil, desaparecida recentemente, que nos dizia num dos seus discursos sobre a importância do dever de memória, que passamos a transcrever porque reflete bem a alma do Comité:

«…Il vous appartient que la vigilance ne soit pas un vain mot, un appel qui résonne dans le vide de consciences endormies.

Si la Shoah constitue un phénomène unique dans l’histoire dans l’histoire de l’Humanité, le poison du racisme, de l’antisémitisme, du rejet de l’autre, de la haine ne sont l’apanage d’aucune époque, d’aucune culture, ni d’aucun peuple. Ils menacent à des degrés divers et sous des formes variées, au quotidien, partout et toujours, dans le siècle passé comme celui qui s’ouvre.

Ce monde là est le vôtre. Les cendres d’Auschwitz lui servent de terreau.

Notre témoignage existe pour vous appeler à incarner et à défendre ces valeurs démocratiques qui puisent leurs racines dans le respect absolu de la dignité humaine, notre legs le plus précieux à vous, jeunesse du XXI siècle…»

 

O dever de memória é o dever de todos!

O esquecimento é uma segunda morte!

Parabéns ao Comité, e um reconhecido obrigada por nos relembrar que nunca devemos esquecer!