A Ministra portuguesa da Cultura, Dalila Rodrigues, inaugurou esta sexta-feira uma exposição na Unesco, em Paris, no âmbito do 500º aniversário do nascimento de Luís de Camões com o objetivo de o apresentar “em diferentes contextos” e atualizar as suas temáticas.
“A melhor forma de celebrar o grande poeta nacional é mostrar a universalidade da sua obra. Luís de Camões foi o homem da viagem e hoje nós assistimos a movimentos migratórios, a viagens, à intersecção entre culturas, também aos conflitos entre culturas e a obra de Camões, valorizando a sua perspetiva, responde ao contexto cultural do século XVI, mas mantém-se através desta revisitação”, disse Dalila Rodrigues à imprensa.
Segundo a Ministra, através da exposição “Onde terá segura a curta vida? Camões e a vida como viagem”, que reúne obras de autores nacionais e internacionais sobre “o lado universal da obra poética e épica do maior poeta português”, é possível fazer um paralelo entre a atualidade e as temáticas e vida do poeta, nomeadamente com “a dimensão da diáspora e da viagem”.
“Não posso deixar de reconhecer que esta exposição é, desde logo, uma espécie de homenagem à diáspora portuguesa e ao mundo que os portugueses colocaram entre si e os outros”, referiu, defendendo que é sempre possível “revisitar os temas da História e ter um novo olhar sobre eles”.
A exposição, com curadoria de Anísio Franco, Filipa Oliveira e Paulo Pires do Vale e arquitetura de Francisco Aires Mateus, estará aberta ao público entre os dias 14 e 18 de abril na sede da Unesco, em Paris.
Os curadores procuraram mostrar que as obras do poeta, que falam de viagens, partidas e chegadas, retratam “a vida do humano desde sempre até à contemporaneidade”, de acordo com Filipa Oliveira, curadora e Diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
“O que nós queríamos, quando pensámos nesta exposição sobre Camões, que era uma grande responsabilidade a forma como íamos tratar desta figura tão mítica da nossa cultura, era exatamente perceber qual é a relevância que ele tem para os dias de hoje”, disse à Lusa Filipa Oliveira.
Para Filipa Oliveira, “é uma enorme honra” estar na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), sublinhando que é um local simbólico para pensar sobre a contemporaneidade e questões de educação, da cultura, da paz e de migrações.
“O extraordinário dos grandes escritores (…) é precisamente serem uma fonte que está sempre a jorrar novidade, e é essa a sua grandeza. A cada época, ao olhar para trás, descobre-se coisas que outras épocas não tinham descoberto”, disse à Lusa Paulo Pires do Vale, curador, docente e comissário do Plano Nacional das Artes.
Os textos expostos no átrio da Unesco são acompanhados de trabalhos de artistas como Alberto Carneiro, Graça Castanheira, Horácio Frutuoso, José Almeida Pereira, Mário Linhares, Adrian Paci e Domingos Sequeira, numa exposição que pretende que o público se interesse pelo poeta de uma maneira diferente.
Também está exposta “a porta de uma casa que dizem em Moçambique, que foi onde viveu Camões”, uma obra da artista de origem moçambicana Ângela Ferreira, que aborda a questão pós-colonial, revelando assim a universalidade do poeta que “é do mundo inteiro”, segundo Paulo Pires do Vale.
Além disso, também existe uma sala onde é projetado um filme que remete para as migrações. Aqui pode ouvir-se o poeta Jorge de Sena a dar voz a poemas e ainda ver a fadista Carminho a cantar um soneto de Camões em homenagem a Amália Rodrigues, num momento filmado por Graça Castanheira.
Esta exposição, que “abre um conjunto de interrogações acerca de dados objetivos, mas também de dimensões da vida, do percurso biográfico e da obra de Camões” desconhecidos, constituirá um dos núcleos da “grande exposição dedicada a Luís de Camões”, a inaugurar no dia 10 de junho, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, segundo a Ministra da Cultura, Dalila Rodrigues.
“Fizemos uma antecipação, neste importantíssimo lugar, que é o Ségur Hall na Unesco, por forma a dar início a uma dimensão, simultaneamente nacional e internacional, do programa celebrativo”, acrescentou.
A Ministra da Cultura salientou ainda que além deste ciclo celebrativo de Camões, este ano são assinalados também os 500 anos da morte de Vasco da Gama, “o responsável pela dimensão universal, ao chegar à Índia, por via marítima e não por via terrestre”, facto que é louvado na obra “Os Lusíadas”.