Intervenção de Paulo Pisco na Comissão Nacional do PS: “O partido falhou o compromisso de desenvolver uma relação com as Comunidades”


Paulo Pisco, o Deputado cessante do Partido Socialista pelo círculo eleitoral da Europa e que ficou de fora das escolhas de Pedro Nuno Santos nas últumas eleições legislativas, dircursou no sábado passado, dia 24 de maio, na Comissão Nacional do Partido Socialista, em Lisboa.

Este foi um momento para balanço do resultado das eleições legislativas de 18 de maio – ainda sem se conhecerem os resultados da emigração. Esta reunião marcou também a saída do líder Pedro Nuno Santos, o Presidente Carlos César garante interinamente a liderança do partido e José Luís Carneiro assumiu a candidatura (por enquanto única) a Secretário Geral do Partido.

É importante saber o que foram dizer à Comissão Nacional os Socialistas da diáspora, e também o Deputado que nos representou nos últimos anos.

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“Caro Presidente, caras e caros Camaradas,

O PS teve uma derrota muito pesada nas últimas eleições, o que nos coloca perante grandes desafios e exige redobrada energia militante. Uma derrota que nos empurra para o terceiro lugar nas forças partidárias, uma vez que a extrema-direita terá, no mínimo, mais um Deputado do que o PS e pode mesmo vir a ter mais três, segundo os resultados que falta apurar nas Comunidades.

O momento que vivemos é crítico e exige de nós unidade, coesão e uma liderança que inspire confiança, coragem, estabilidade e moderação. Alguém verdadeiramente empático, que saiba ouvir e contar com todos, fazendo a necessária inclusão sem ressentimentos pelo passado. E estas são qualidades que encontro no nosso camarada José Luís Carneiro.

Nós não precisamos de discutir apenas como foi possível o PS perder duas eleições seguidas e ficar atrás da extrema-direita, que tanto precisamos de combater com determinação para desmontar e desfazer a sua retórica absolutamente odiosa. Teremos tempo para essa discussão. As estruturas do partido precisam de ter discussões sobre a vida política nacional e internacional em permanência e de forma aberta e para todos. O partido tem de existir para além das reuniões das concelhias e das distritais e dos momentos em que é necessário mobilizar os militantes para eleições.

O PS tem uma longa história e já passou por todo o tipo de situações, com grandes vitórias e também com grandes desaires, mas soube sempre levantar-se e recuperar. Não será diferente desta vez, se estivermos unidos.

Trata-se de escolher rapidamente a liderança do partido para melhor enfrentar os desafios que temos pela frente, como a organização do Grupo Parlamentar e as eleições autárquicas, essa base fundamental do poder socialista. Para mim esta é a melhor forma de inverter a fuga de votos que se perderam para o PSD, Chega e Iniciativa Liberal e não deixar durante meses o PS num vazio de liderança enquanto o palco estaria todo nas mãos do PSD e do Chega.

Na minha opinião, um dos grandes contributos que podemos dar para fortalecer a nossa democracia é para que se crie no país uma nova cultura política. Não podemos passar a vida em eleições e a interromper ciclos políticos. A essência da democracia é fazer tudo para dar um futuro às pessoas e previsibilidade nas suas vidas, é valorizar o país pela sua estabilidade para que as empresas prosperem e os investidores queiram criar riqueza em Portugal. Com esta instabilidade permanente, sem diálogo nem capacidade para gerar consensos e estabelecer compromissos estamos a condenar o país.

Estamos a criar um país frustrado que não vê progressos, porque os partidos não conseguem sair da sua bolha, sempre a disparar uns contra os outros enfiados nas suas trincheiras, sempre a viver da suspeição e a pessoalizar a vida política, quando aquilo que as pessoas querem é que os líderes partidários se entendam. Há um sentimento de abandono no país e na diáspora a que temos absolutamente de dar resposta.

É preciso criar uma cultura de compromisso político, para que as legislaturas cheguem sempre até ao fim, e pensar sempre nas pessoas, que o que querem é estabilidade, dinheiro no bolso, bons serviços públicos e transportes regulares, pagarem a renda de casa sem ficarem sem dinheiro para comer, irem ao médico quando precisam ou saírem das universidades e encontrarem trabalho.

Uma palavra ainda sobre as Comunidades. O partido falhou o compromisso de desenvolver uma relação com as Comunidades, com as Secções e com os militantes. Não foi cumprido o compromisso de criar o Departamento de comunidades e de estruturar uma relação com as Secções e os militantes no estrangeiro e o resultado, como cheguei a alertar, é que fomos apanhados com as calças nas mãos, o que pagaremos caro, estou convencido.

Mas a importância das Comunidades não é apenas pelos quatro Deputados que elege. É pelas pessoas. Repito, pelas pessoas, pelos milhões de portugueses que têm um imenso amor por Portugal e a que nós não podemos responder com negligência, como se fossem um apêndice chato a que de vez em quando temos de dar atenção.

Tenho a certeza que no novo ciclo que se vai abrir, as Comunidades vão ser tratadas com o devido respeito e que o PS voltará a ser uma referência. Creio que, quando percebermos por que razão os Portugueses continuam a emigrar e adotarmos as medidas certas para que isso não aconteça, aí sim, vamos ter um país completo e orgulhoso.

Viva o PS!”