Opinião: A feira de arte contemporânea Art Paris finalmente ‘en presentiel’

Cabendo-me, por mero imperativo de calendário, abrir “a época” das crónicas, vou tentar que esta seja feita de memórias comemorativas, de memórias recentes e propostas para a próxima semana: memórias das férias e informações da rentrée que se constituem como potenciais memórias do futuro.

Faz agora um ano comecei estas crónicas semanais a convite da Rádio Alfa, a convite do Daniel Ribeiro, para ser preciso; e logo fomos convidados, pelo Carlos Pereira, a publicá-las também no LusoJornal. Assim, sem mais, estes textos lidos ou escritos passaram a integrar o círculo perfeito da comunicação social portuguesa em território francófono europeu.

Foi um privilégio poder dar voz a uma área tão minoritária em termos de protagonistas e de públicos, mas tão importante para a difusão a imagem de Portugal em França.

A temporada de 2019-2020 deveria ter sido a de um ano de crescimento das presenças lusófonas e de preparação da grande operação da Saison (Temporada) Croisée (Cruzada) France-Portugal / Portugal-França que, afinal, a crise atirou para 2022. Mas, como todos sabemos, 2020 foi um ano como ninguém adivinhava que pudesse ser, uma ficção difícil de fazer acertar com a realidade, que alterou os nossos ritmos de vida, os nossos modos de vida e mesmo a nossa imagem da vida.

Um ano depois, aqui regresso, esperançado de que as condições de criação e de consumo da cultura possam vir a retomar os ritmos e modos anteriores. Os artistas têm já dado conta das mudanças vividas, embora ainda sem suficiente recuo, mas certamente poderemos vir a ler melhor os sentidos dos novos tempos através das suas obras.

Das férias, guardo a memória de uma passagem pelo Fundão, onde assisti à comemoração do centenário de Amália Rodrigues, numa cerimónia pública promovida pela cidade de onde era originaria a sua família, situada numa região (a Beira Baixa) de onde colheu numerosas e documentadas influências musicais. Estamos sempre a aprender… e o livro, coordenado pelo professor Arnaldo Saraiva, publicado pelo histórico Jornal do Fundão e já comentado nas páginas do LusoJornal, passa a ser um instrumento precioso para sustentar essa tese e colher numerosas outras informações sobre a Diva que, sendo de Lisboa (era afinal também do Fundão) e que, sendo de Portugal foi afinal do mundo (e foi a partir de Paris, e do Olympia que, em larga medida, o fez).

Agora, já longe dos efeitos do sol algarvio e em pelo processo de “débronsage”, visitei, nas grades do jardim da Tour de Saint Jacques, em Paris, os últimos dias da aqui anunciada exposição de fotos organizada pelos Centros culturais europeus (reunidos na associação EUNIC) e onde Portugal se fez representar pelo jovem Tito Mouraz; recebi a feliz notícia de mais um prémio para o cinema português: o cineasta Vasco Saltão (que Camões – Centro cultural português apoiou na sua ida ao Festival de Cinema de Brive) nele ganhou o Prémio de Distribuição com a sua obra Avis Rara; e registei também com o grande prazer o Prémio atribuído a Lídia Jorge, na Feira do Livro de Guadalajara (México), escritora que tantas vezes tem vindo a França onde tem numerosos leitores e que aqui esteve muitas vezes a nosso convite.

Mas, finalmente, esta semana, convido-vos a passarem pela feira de arte contemporânea Art Paris (finalmente ‘en presentiel’, depois de uma edição virtual em maio passado). Tem lugar no Grand Palais, em Paris e, entre 10 e 13 de setembro, nela poderão encontrar um conjunto relativamente restrito, mas ainda assim interessante de artistas portugueses: dos historicamente consagrados Vieira e Arpad (que a história da arte portuguesa “naturalizou”…) a Júlio Pomar ou Julião Sarmento, até consagrados mais novos, como Jorge Queiroz (todos em galeras estrangeiras!) e às revelações trazidas pela jovem galeria portuguesa FOCO ou até aos testemunhos de uma prática artística estabelecida fora dos cânones, como a que nos traz Saint Silvestre através da galeria Lélia Mordoch. Trabalhando em Portugal desde há cerca de seis anos estará também presente o francês Hervé Di Rosa que, nem que seja por usar intensamente os recursos técnicos e artísticos das cerâmicas da Fábrica Viúva Lamego, nos dará também testemunho de Portugal.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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