Opinião: A ironia de uma campanha de promoção da língua portuguesa em França

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Dizia-me há tempos um amigo que a política é a arte de dizer o que se quer e de convencer toda a gente que temos razão. Se for acompanhada pela eloquência, pode efetivamente convencer qualquer um.

E porque razão falo de política hoje?

É por causa do ensino da língua portuguesa em França.

Quando ouvimos Ministros e Secretários de Estado, dizem-nos sempre que o ensino da língua portuguesa no estrangeiro vai bem, e recomenda-se. Não sei como fazem, mas convencem-nos sempre que o número de alunos está em crescimento, que o interesse aumenta, que cada vez há mais escolas e mais professores a ensinarem a língua de Camões no estrangeiro.

Se ficarmos por aqui, vai tudo bem neste mundo maravilhoso.

Para melhor convencer que está tudo bem, a Coordenação do ensino de português em França anunciou na semana passada que está a preparar o lançamento de uma campanha de promoção do ensino da língua portuguesa.

Se pensarmos bem, vai ser uma campanha para dizer que Portugal está empenhadíssimo a ensinar português em França, que pode enviar para cá professores e certamente que se os resultados não são melhores é porque os pais não inscrevem os filhos… É por isso que se fazem campanhas: para motivar os pais a inscreverem os filhos.

Há muitos anos que se vive por aqui uma estratégia de culpabilização dos pais por não inscrevem os filhos nas aulas de português.

Visto de Portugal, esta campanha passa, claro. Coitadinhos dos emigras, vêm para cá falar emigrês e ainda por cima são terríveis e não inscrevem os filhos nas aulas de português.

Só que nós não estamos em Portugal. Nós, que moramos cá, sabemos que a realidade é outra.

Ainda esta semana veio a público a situação de Groslay, que eu tenho a obrigação de conhecer particularmente bem. Durante muitos anos, os pais pediram aulas de português, nunca obtiveram qualquer resposta, pensavam até que o assunto era bloqueado pela Diretora da Escola ou pela Academia, até que ficaram a saber que o pedido ficava esquecido… na gaveta da Coordenação de ensino. Não por maldade, claro, mas porque a Coordenação não tem professores para responder a todos os pedidos.

Entretanto, em Groslay foram criadas aulas de português, mas a professora engravidou e… estamos em dezembro, e as aulas deste ano ainda não começaram!

Acham que isto é sério? Acham que isto transmite alguma credibilidade aos pais, aos professores, aos alunos e à própria autarquia ou até à Academia?

Estou mortinho para ver o efeito da campanha da Coordenação de ensino junto dos pais desta cidade.

E o caso de Saint Gratien, que também foi conhecido esta semana? O empresário David Alves bate-se há 8 anos para abrir cursos de português na cidade, o compromisso “oficial” de Portugal é que a partir de 15 alunos coloca lá um professor. Em Saint Gratien, é a própria Coordenação que confirma que há 35 alunos inscritos mas… a resposta da Coordenação é que os alunos podem ir às aulas de português numa cidade vizinha.

A Coordenação não responde isto por mal, claro, mas porque não tem professores para responder a todos os pedidos.

Também aqui vamos ver qual é o efeito da tal campanha de promoção do ensino português em França.

Também podíamos falar de Joaquim Morais que há anos que tenta abrir aulas de português em Varennes, sem obter qualquer resposta. Mas vou parar por aqui com os exemplos.

Na verdade, há milhares de alunos que querem aprender português em França e não conseguem. Desafio quem me quiser desmentir.

E aprendem português porque o Instituto Camões não envia para França professores em número suficiente.

E sem ovos… não se conseguem fazer omeletes – mesmo fazendo campanhas de inscrição.

Dizer que está tudo bem, quando há tanta coisa mal, pedirem aos pais para inscreverem os filhos quando os pais que o fazem nem recebem uma simples resposta a dizer que o Instituto Camões não tem professores para colocar,… não deixa de ser uma ironia.

Sobretudo sabendo que é de pequenino que se torce o pepino e que se não houver muitos alunos na primária… basta olhar para as universidades para perceber o impacto!

Mas esta é apenas a minha opinião.

 

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