Opinião: As escolhas de António Costa para Secretário de Estado das Comunidades

Não vamos ter Ministério das Comunidades, nem da Diáspora, nem coisa parecida. O Governo já está constituído e pronto a tomar posse. Mesmo a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas – aquela que mais diretamente nos interessa.

Com a saída de José Luís Carneiro para número 2 do Partido Socialista, já se sabia que teríamos um novo Secretário de Estado. Ou Secretária de Estado, porque desde Manuela Aguiar que mais nenhuma mulher se tinha sentado na cadeira do “Entresolo” das Necessidades.

Foram dias de suspense! Quem seria? Fizeram-se conspirações pelos corredores, mandaram-se mensagens à procura de algum “furo”, de alguém que soubesse de alguma coisa e se descaísse com a informação. E acabou por descair. A Secretária de Estado foi dada como certa pela comunicação social, antes mesmo do Primeiro Ministro confirmar.

José Luís Carneiro foi um bom Secretário de Estado. É verdade que teve a sorte de ter um Ministro interessado pelas questões das Comunidades. Como o deve invejar José Cesário, a quem saiu, na “roda da sorte” uma Ministra Teresa Gouveia ou um Ministro Paulo Portas… que não ligaram nada a estas questões.

Mas quem poderia escolher António Costa para Secretário de Estado?

Para alguns foram dias de tortura! Sobretudo aqueles que dormiram com o telemóvel debaixo da almofada, não fosse António Costa surpreendê-los durante o sono com um convite esperado. Sobretudo neste mundo bruto ao qual nos habituamos de querer tudo rapidamente, de seguida e sem esperar.

António Costa também é assim, nem esperou pelo fim do processo eleitoral (que só acabou ontem) para constituir o Governo, aliás a pedido do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também ele apressado.

Foi um descuido democrático! Sem importância nenhuma do ponto de vista prático, porque já se sabia que qualquer que fosse o resultado do voto dos emigrantes, não haveria mudanças de contexto político. Mas simbolicamente foi mal feito… Sobretudo quando se apelou, durante semanas, para que os emigrantes votassem, dizendo-lhes que o voto deles também contava!

Demonstrar assim, descaradamente, que o voto dos emigrantes não contou para nada, não foi elegante, nem simbólico. Mas o mal está feito e não se fala mais no assunto.

Voltando à escolha de António Costa: optaria pela competência?

Pelo passado já tivemos Secretários de Estado que conheciam as Comunidades e as suas problemáticas, como por exemplo José Cesário ou Carlos Gonçalves, mas também já tivemos gente que não estava relacionada com esta área de intervenção, como foi o caso de José Lello, de António Braga ou até de José Luís Carneiro.

Não foi por não ter relação com o tema que José Luís Carneiro e José Lello, não foram bons Secretários de Estado, que a verdade seja dita, mesmo se haverá sempre quem conteste, claro.

António Costa tinha sempre na manga Paulo Pisco. Há anos que é Deputado pelo círculo eleitoral da Emigração. Se não é conhecedor dos assuntos, quem poderá ser? Resta saber se depois tinha jeito… Mas isso só saberíamos depois de terminado o mandato, como para qualquer outro membro do Governo.

Paulo Pisco já tinha perdido uma boa ocasião de ser Secretário de Estado em 2015 e voltou a agora a perder uma excelente ocasião para ocupar o posto. Provavelmente nunca esteve tão próximo de o ser. Se já em 2015 não tinha apreciado nada – mas mesmo nada – ter sido trocado por José Luís Carneiro, desta vez não vai certamente apreciar ter voltado a ficar na “valeta”.

Vale-lhe o facto de ter sido candidato, cabeça de lista e eleito Deputado por mais uma Legislatura. Era algo que não estava garantido há ainda poucos meses. E é certo que lhe correu bem a campanha eleitoral, com organização e metodologia.

O seu concorrente mais direto, Carlos Gonçalves, ainda apanhou um “furo” de seis meses, e chegou ao Governo, quando Pedro Santana Lopes foi um efémero Primeiro Ministro. Não lhe serviu de nada para mostrar o quanto a competência na matéria lhe poderia ser útil no desempenho das suas funções, mas acrescentou-lhe uma linha importante no currículo.

Mas quase sempre, a escolha dos Secretários de Estado foge às regras mais básicas. A José Lello foi necessário dar-lhe um posto no Governo e calhou esta função, António Braga sempre sonhou ser Ministro da Educação, mas José Sócrates deu-lhe o “castigo” das Comunidades. E José Luís Carneiro era um “Segurista” que era necessário guardar por perto e calhou-lhe as Comunidades. Foi o lugar mais “chato” que António Costa tinha à mão naquela altura.

Desta vez era necessário recompensar Berta Nunes pelos “bons serviços” durante a campanha eleitoral. Estamos mesmo a imaginar o tipo de diálogo:

– Temos de dar um lugar a Berta Nunes, que deixou a Câmara de Alfândega da Fé para tentar ganhar dois Deputados socialistas em Bragança, mas não foi eleita.

– Só temos as Comunidades…

– Que fique com as Comunidades. Quem foi Presidente de uma Câmara municipal, num dos concelhos mais isolados do país, saberá adaptar-se a qualquer missão!

E se fosse um lusodescendente? Ou uma lusodescendente, claro.

António Costa gosta dos simbolismos. Porque não escolheu Nathalie de Oliveira, por exemplo, que, também ela, ficou às portas do Parlamento? Uma jovem lusodescendente no Governo… era uma mensagem que António Costa poderia ter dado à emigração.

Até porque Nathalie de Oliveira tem ficado à porta de tudo. Ficou à porta do Parlamento francês, numa eleição que ficou marcada pelo “effet Macron” e agora ficou à porta do Parlamento português.

Mas a escolha de António Costa foi outra. Escolheu Berta Ferreira Nunes.

Resta esperar que Berta Nunes seja a melhor das Secretárias de Estado. José Luís Carneiro deixou-lhe uma fasquia alta. E quem sabe se ela se inspira de Maria Manuela Aguiar, a única mulher que ocupou esta pasta e que deixou marcas fortíssimas na sua governação?

Se o mandato lhe correr bem, todos nós ganharemos.

 

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