Opinião | Congresso da Cívica: a afirmação política da Comunidade portuguesa residente em França

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No passado dia 23 de maio tive a honra de participar no Congresso da Associação de Autarcas de Origem Portuguesa – Cívica.

Uma reunião magna que teve também como objetivo comemorar duas décadas de atividade desta instituição cujo trabalho marca de forma distinta a participação cívica da Comunidade portuguesa residente em França.

Um conclave que ocorreu em tempos de dificuldade e que, para além dos temas habituais associados à participação cívica e política, teve como ponto transversal das intervenções as respostas locais à pandemia da Covid-19.

A primeira conclusão a retirar dos trabalhos deste Congresso é o sucesso do caminho percorrido pela Comunidade franco-portuguesa na sua afirmação política em França.

Se há vinte anos a expressão política da nossa Comunidade era diminuta, os resultados das últimas eleições municipais, que viram a eleição de mais de 8.000 autarcas de origem portuguesa, são a prova inequívoca de que a realidade mudou. Uma mudança que está também traduzida nas mais de 200 candidaturas às próximas eleições departamentais e regionais.

Mas para além das candidaturas e dos sucessos eleitorais convém destacar que são vários os políticos de origem portuguesa que hoje exercem cargos de Presidentes de Câmara, de Conselheiros Regionais ou Departamentais ou até de Deputados à Assembleia Nacional Francesa.

Esta afirmação política, sucede a uma integração conseguida e a um papel de destaque já há muito tempo assumido na sociedade francesa tanto no plano social como no plano económico.

Mas este caminho teve muitos obstáculos. Desde logo, porque estamos a falar de uma comunidade emigrada que não teve, no seu país, acesso a uma cultura democrática e que se viu confrontada durante muitos anos com impossibilidade legal de poder participar nas decisões políticas do país que a acolheu e, como sempre nestes casos, alguma resistência por parte da sociedade local.

Com a entrada de Portugal na União Europeia e, em consequência dos direitos políticos associados à cidadania europeia, tudo mudou. Uma mudança que a Cívica soube alavancar através da realização de campanhas inteligentes de sensibilização da nossa comunidade para a participação política.

Ao mesmo tempo, a Cívica percebeu também, em devido tempo, a importância e a necessidade de formar quadros para capacitar a nossa comunidade de elementos capazes de no plano técnico poderem também fazer a diferença numa eventual candidatura.

Este Congresso teve o seu momento alto no debate que se instalou entre os autarcas participantes sobre as respostas dos respetivos municípios aos efeitos da pandemia, tendo revelado o enorme dinamismo e capacidade dos mesmos perante os enormes desafios que a Covid-19 trouxe para as suas comunas e para todos nós.

Todos temos a noção que, tanto em Portugal como em França, o papel das autarquias foi essencial no apoio às populações. Contudo, durante o Congresso da Cívica foi possível confirmar através de vários testemunhos que os municípios realizaram um trabalho notável de forma a atenuar os efeitos da crise sanitária.

A Cívica reúne autarcas de diversos quadrantes políticos, de várias confissões religiosas e de origens bem diferentes. No entanto, não podemos esquecer que o principal elo de ligação de todos estes agentes políticos é a língua portuguesa.

Podemos ter projectos políticos diferentes e até sermos nos respectivos territórios adversários mas há uma preocupação comum a todos: o ensino da língua portuguesa.

Assim, apelei aos participantes que ao seu nível de intervenção militassem em prol deste interesse comum que é o aumento da oferta do ensino de língua portuguesa em França.

Alguns, talvez mais entendidos do que eu nesta matéria, encontram sempre problemas técnicos e administrativos para condicionar essa oferta, o que que culminou com a perda de estatuto do português no último ciclo do ensino secundário francês.

Mas para mim este é um problema político. Foi uma decisão política que retirou o português das línguas de especialidade aquando da reforma do “Baccalauréat”. Assim, considero ser necessário haver uma resposta no plano político. Seria muito importante que fosse assumida uma posição de conjunto em defesa da língua portuguesa.

No final deste Congresso que comemorava também o 20 aniversário da Cívica todos os seus dirigentes comungavam do sentimento de dever cumprido. Permito-me destacar o seu incansável Presidente Paulo Marques que lutou pela criação daquela que hoje é a instituição de referência na sensibilização para a participação cívica, da nossa comunidade.

Infelizmente, um trabalho que alguns tentam ignorar ou menorizar o que, em minha opinião, terá enormes custos para um país que se devia rever nas nossas comunidades.

Finalmente, quero endereçar os meus parabéns à Cívica e através desta grande associação a toda a comunidade portuguesa residente em França.

 

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