Três Portugueses deportados em 1940 vão ser homenageados em Angoulême

No próximo dia 20 de agosto vai ser prestada homenagem, mais uma vez, aos 927 Republicanos espanhóis que foram deportados en 1940 da Gare de Angoulême, para o Campo de Concentração Nazi de Mauthausen, na Aústria. Este ano, pela primeira vez, vão ser evocados três desses deportados, com nacionalidade portuguesa: João Fernandes Ferreira, João Ribeira Sousa e José Nunes Mateus.

A cerimónia vai ter lugar em Angoulême, onde foi inaugurada há 9 anos, um monumento aos ocupantes do primeiro comboio de deportados durante a II Guerra Mundial. Várias personalidades portuguesas já anunciaram que vão estar presentes neste evento.

No dia 20 de agosto de 1940, a Charente estava ocupada pelas tropas alemãs há cerca de dois meses, quando foi levada a cabo uma embuscada num campo onde estavam centenas de famílias de Republicanos espanhóis, que tinham fugido da Espanha franquista.

927 pessoas – entre os quais estavam os três Portugueses – foram levados para a Gare de Angoulême, meteram-nos em vagões de carga e quatro dias mais tarde chegaram ao Campo de concentração de Mauthausen. Foi o primeiro comboio de deportados que seguiu de França para a Áustria.

Praticamente todos os homens morreram. Dos 490 homens (com mais de 13 anos), apenas 73 sobreviveram. Dois deles, na altura com 81 e 83 anos, estavam aliás presentes no dia da inauguração do monumento que está em Angoulême.

Quanto às mulheres e às crianças, foram entregues ao regime de Franco.

Os três Portugueses também morreram em Mauthausen.

João Fernandes Ferreira nasceu em Adaufe, Braga, mas estava a trabalhar nas Minas de Lobios, em Ourense, onde casou com uma mulher espanhola. Aliás, segundo António Muñoz Sanchez da Universidade de Lisboa – especialista nestas questões – a mulher pediu uma indemnisação ao Governo alemão, depois da Guerra, pela morte do marido. João Ribeira Sousa nasceu na Régua, Vila Real, e José Nunes Mateus nasceu em Ferrarias Cimeiras, Castelo Branco.

Os três estão devidamente registados no “Totenbuch”, o registo dos mortos do Campo de concentração de Mauthausen.

Em Espanha, esta página da história do país foi revelada por um documentário intitulado “El convoy de los 927” (2004), realizado por Ricard Belis, com a jornalista da televisão catalã Montse Armengou, que descobriu a informação.

Em Angoulême, as homenagens têm sido coordenadas por Gregório Lazaro, filho de Refugiados espanhóis e Presidente da Associação dos Espanhóis da Charente.

Este ano, pela primeira vez, o Comité francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes está implicado nesta homenagem “para que não sejam esquecidos os três Portugueses que seguiram neste primeiro comboio de deportados” explica Manuel Dias ao LusoJornal.

A placa que está no monumento erguido a poucos metros da Gare de Angoulême diz “Ne les oublions pas, no los olvidemos” e Manuel Dias quer que os três Portugueses também sejam homenageados e que, também eles, não sejam esquecidos.

Também a associação Cívica de autarcas de origem portuguesa em França já anunciou que o Presidente Paulo Marques e o Tesoureiro Jean-Pierre dos Santos, estarão presentes nesta cerimónia.

LusoJornal