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25 de Abril: 50 anos / 50 testemunhos – Deolinda Oliveira


Em 1974 tinha eu 18 anos e trabalhava numa fábrica quando se deu o 25 de Abril.

Para mim não representava muito porque não estava consciente nem ouvia muito as informações visto que não tínhamos televisão. Ouvia apenas rádio e de repente veio o alvoroço das canções. A que mais me marcou foi a “Grândola, Vila Morena”.

Começava a compreender o que se estava a passar. O meu patrão, com medo do que viria a acontecer, refugiou-se no Brasil, deixando o barco à deriva. Tomei consciência que tudo iria acabar em banho de sangue.

Foi pena que o 25 de Abril não tivesse ocorrido mais cedo, porque assim não teria perdido o meu irmão morto em combate na Guiné-Bissau. Chegou a Portugal dois meses depois de ter morrido, fizeram-lhe uma cerimónia e desde então, silêncio total. Sinto-me revoltada.

Para mim, o 25 de Abril representou a Liberdade.

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Deolinda Oliveira

Presidente da Casa dos Arcos de Saint Maur

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“25 de Abril: 50 anos / 50 testemunhos” é uma iniciativa do fotógrafo Mário Cantarinha, em parceria com o LusoJornal.

Mário Cantarinha escolheu 50 personalidades da Comunidade portuguesa de França, 25 homens e 25 mulheres. Alguns destes testemunhos já foram utilizados para uma exposição há 10 anos. O LusoJornal publica agora os 50 testemunhos, um por dia, até ao dia 25 de abril de 2024.