LusoJornal | Mário Cantarinha

25 de Abril: 50 anos / 50 testemunhos – João Heitor


O 25 de Abril representa para mim a Liberdade. Foi como se um alicate tivesse cortado uma corrente que amarrava Portugal. Amarrava Portugal à pobreza que obrigava os seus filhos a partirem à procura de pão. Amarrava os Portugueses ao analfabetismo, à ignorância, ao servilismo. Atava às nossas mãos sangrentas, metralhadoras para matar irmãos africanos que tinham direito à independência. Uma corrente que encaixava no aloquete que fechava as portas dos partidos políticos, as portas dos sindicatos, as portas da imprensa livre, as portas que davam direito à educação, à saúde, à Liberdade.

Andava por estas Europas e frequentava o mundo espanhol contestatário e português contestatário. Ouvi na rádio, não havia telemóveis nem internet, não sabia se era sonho ou realidade. As festas, a vinda de Capitães de Abril, o Zeca Afonso, o Fanhais, o José Mário Branco, avivavam a nossa alma e acreditávamos num Portugal melhor. Começámos a bater às portas dos Portugueses para abrirmos aulas de Portugueses e cantávamos “Uma gaivota voava, voava… Somos livres, somos livres”.

Hoje, apesar da democracia instalada no nosso país, não posso estar completamente contente, a pobreza, a corrupção, o êxodo dos jovens, não são mais do que manchas negras numa praça que espera os cravos plantados por jardineiros honestos e competentes.

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João Heitor

Livreiro

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“25 de Abril: 50 anos / 50 testemunhos” é uma iniciativa do fotógrafo Mário Cantarinha, em parceria com o LusoJornal.

Mário Cantarinha escolheu 50 personalidades da Comunidade portuguesa de França, 25 homens e 25 mulheres. Alguns destes testemunhos já foram utilizados para uma exposição há 10 anos. O LusoJornal publica agora os 50 testemunhos, um por dia, até ao dia 25 de abril de 2024.