Comptoir Saudade: Dois anos de promoção de Portugal e dos produtos portugueses em Paris

Quem passar pelo número 27 da rue de la Jonquière, no bairro Guy Moquet, em Paris 17, dá de caras com a fachada do Comptoir Saudade. De um lado vê uma varina e do outro um pescador. Basta abrir a porta para entrar… em Portugal.

“O pescador vai para o mar e a varina fica em terra à espera do marido, na praia, no cais, e o marido vai para longe, demora dias, e ela fica melancólica, triste, e daí vem o canto, o fado, a saudade” conta Flora Rodrigues, a proprietária do estabelecimento. “Quando criei estas duas imagens, fiquei com arrepios no corpo e disse whau!, criei duas personagens fantásticas. Quero que toda a gente que passe aqui, veja as imagens do pescador e da varina, que entre, que veja que aqui há um sol que brilha, porque aqui é tudo muito claro, o chão é o mar e que venha até ao fundo da loja para ver os peixinhos e as andorinhas a voar”.

Só esta descrição mostra que Flora Rodrigues criou o Comptoir Saudade com paixão, com poesia e com saudade. “Saudade de Lisboa, a cidade onde nasci, embora seja uma luso-caboverdiana” conta ao LusoJornal.

Flora Rodrigues vive há 22 anos em França e teve um restaurante multicultural em Paris – “Sur un R de Flora” – um restaurante com gastronomia dos diferentes países lusófonos. “Quando ia a Portugal, vinha de lá sempre carregada com uma mala cheia de chouriço, de marmelada, de doce de tomate,…” e foi nessa altura que os amigos sugeriram que descobrisse as lojas gourmet em Lisboa.

Foi assim que nasceu a ideia do Comptoir Saudade. “Isto não nasceu de um momento para o outro, nasceu de uma reflexão, fiz um estudo de mercado, visitei lojas em Portugal à procura de ideias, à procura de produtos, digamos que demorou anos até que a ideia estivesse clara” conta.

No dia 20 de dezembro de 2016 abriu então o Comptoir Saudade, com produtos da saudade, mas também produtos gourmet, “art de table”, decoração, “porque as pessoas hoje interessam-se mais por Portugal, pela cultura portuguesa e pela história de Portugal. O país é maravilhoso” diz emocionada Flora Rodrigues.

Os primeiros produtos que apresentou “foram os produtos da minha escolha pessoal, das memórias da minha infância”, mas depressa percebeu que os clientes também podiam fazer sugestões. “As pessoas vêm cá procurar produtos que viram em Lisboa e isso desperta logo em mim um grande interesse” conta.

Mas nem só de produtos se faz um estabelecimento. Faz-se sobretudo de clientes. “A maior parte dos meus clientes são franceses” diz Flora Rodrigues ao LusoJornal. Mas também tem muitos clientes portugueses e a receita é simples: “quero que os clientes entrem aqui, e se sintam como se estivessem em Lisboa, em casa, em família”.

Logo à entrada está uma grande mesa. “Esta é a mesa da família” diz Alice Magalhães, uma cliente. “Enquanto houver lugar aqui, as pessoas entram e sentam-se. E quando parece que já não há lugar, apertamos um bocadinho e cabe sempre mais alguém”.

Lurdes Fernandes confirma. “As pessoas chegam aqui sem se conhecerem, mas ao fim de poucos minutos, está toda a gente a falar uns com os outros. A Flora foi o que de melhor podia ter chegado a este bairro. Temos aqui 44 nacionalidades diferentes, mas não havia nada português” conta ao LusoJornal.

Flora Rodrigues sorri de felicidade. “O que mais gosto, é mesmo disto. As pessoas sentem-se mesmo como em casa. Olhe só, falam alto como em Lisboa, riem, os portugueses falam de Portugal aos franceses e é isso que é bonito, não é?” pergunta-nos.

“E para as mulheres do bairro, esta loja fez-nos muito bem. As mulheres por vezes têm vergonha de ir a um café, onde só há homens, e aqui sentem-se bem” diz Lurdes Fernandes.

Alice Magalhães é viúva e confessa que a abertura do Comptoir Saudade foi a melhor terapia que podia ter tido para evitar a depressão. “Olhe, venho aqui frequentemente, por vezes almoçar, por vezes lanchar e por vezes estamos aqui tão bem que acabamos por fazer festas que podem durar até às 10 da noite, até à meia noite ou até às quatro da manhã…” diz ao LusoJornal.

Criar este ambiente português em pleno Paris foi um desafio que Flora Rodrigues não podia alcançar sem esta “clientela de bairro” que mais do que simples clientes, ajudam a promover os produtos portugueses, promovem Portugal e promovem a própria loja. “E por vezes deitamos mãos à obra e ajudamos a Flora, coitada. Ela por vezes nem tem mãos a medir e nós, se estivermos por aqui, ajudamos a servir, a laçar a louça,… Ela merece tudo” dizem algumas das clientes mais fieis da loja.

Entretanto, os clientes vão passando, para comprar Pasteis de Nata – o produto mais vendido do estabelecimento – compram conservas ou Bolo Rei, que nesta quadra é sempre “produto vedeta”. Há quem prefira um Porto, um Licor Beirão, um chá dos Açores ou um café “tirado como em Lisboa”.

Flora Rodrigues pensa em eventuais réplicas desta loja noutros bairros da capital, mas para já vai anunciando a realização de eventos pontuais, apresentação de livros, momentos musicais e noites de fado.

“Sou uma mulher de projetos” confessa ao LusoJornal. “Mas o meu projeto é simplesmente de ser feliz”. E já é um vasto programa, sobretudo quando a felicidade é contagiante.

 

Comptoir Saudade

27 rue de La Jonquière

75017 Paris

 

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