Três lápides substituídas no Cemitério português de Richebourg


Três lápides do Cemitério militar português de Richebourg foram substituídas antes das cerimónias da Batalha de La Lys 2024, que tiveram lugar a 13 de abril.

No Cemitério militar português de Richebourg, 1.831 lápides honram os soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) aí enterrados, lápides que foram colocadas na década de 1930.

No LusoJornal foram publicados diversos artigos sobre este único Cemitério militar português fora de Portugal, destacamos aqui um artigo e reportagem em data de 19 setembro de 2020 (ver AQUI e também AQUI).

Daquela data para cá, algumas obras foram feitas, como aliás no monumento português do Cemitério Est de Boulogne-sur-Mer (ver AQUI e também AQUI).

Aliás, desde 2021, o Cemitério Est de Boulogne-sur-Mer e Ambleteuse também fazem parte dos locais em que as cerimónias em honra dos soldados portugueses têm lugar, a 14 de abril este ano.

Desde 20 de setembro de 2023, o Cemitério de Richebourg faz parte dos 139 locais de memória da primeira guerra mundial do património mundial da Unesco.

Diversos políticos portugueses têm passado por este cemitério, em visita memorial.

A 24 de março do ano transato, no quadro da semana dedicada às Comunidades portuguesas, intitulada “Sentir Portugal”, visitou Richebourg e La Couture, o atual Primeiro-Ministro português, Luís Montenegro.

Na entrevista que concedeu ao LusoJornal (ver AQUI), à pergunta que colocamos a Luís Montenegro sobre se “foi importante para si, ter este encontro com a história de Portugal aqui, no Norte da França?” respondeu: “Homenageamos e evocamos aqui, aqueles que defenderam as nossas causas comuns e sobretudo é uma oportunidade também para perceber como é que nós podemos ajudar a manter viva esta chama e esta representação daquilo que é a nossa história. É por isso que teve uma grande utilidade para mim vir aqui – e confesso que também com alguma emoção – os nossos valores da identidade nacional são uma referência cimeira para aqueles que se dedicam, como é o meu caso, à causa pública, à causa comum. É uma oportunidade estar em contato direto com as nossas Comunidades e com a Comunidade em França em particular, é uma oportunidade também de podermos, no futuro, contribuir para que não se percam estas referências e, pelo contrário, elas se possam preservar, aproveitar…”.

A 29 de março deste ano, o LusoJornal publicou um artigo com o título “Intervenção no Cemitério português de Richebourg antes das comemorações da Batalha de La Lys » (ver AQUI).

Na sequência de informações recolhidas pelo LusoJornal, escreveu-se: “Na sequência da visita de inspeção ao Cemitério Militar Português de Richebourg, realizada a 11 de outubro do ano passado pelo Adido de Defesa junto da Embaixada de Portugal em Paris, Comandante Sérgio da Silva Pinto, foram orçamentadas as obras de beneficiação mais prioritárias, que arrancaram em fevereiro passado, devendo estar prontas a tempo das comemorações do 106º aniversário da Batalha de La Lys… Nesta intervenção, orçada em mais de 15 mil euros, cujo financiamento coube à Liga dos Combatentes, com uma comparticipação do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), foi dada especial atenção à remoção da corrosão dos portões e outras estruturas metálicas, à lavagem de todas as lápides, ao seu alinhamento, bem como à substituição de três que se encontravam partidas… a Unesco obriga o Estado Português, em estreita articulação com o Francês, a uma rigorosa proteção e conservação deste património de valor universal excecional, em benefício de toda a humanidade. Espera-se, por isso, que o sinal muito positivo dado pelas obras iniciadas em fevereiro seja prosseguido de um plano de investimento anual orientado para a beneficiação contínua das infraestruturas… é essa a intenção das autoridades portuguesas e que a futura classificação deste Cemitério militar como monumento histórico francês (processo em curso entre os Governos dos dois países, com a coordenação do Gabinete do Adido de Defesa em Paris) facilitará o financiamento de futuras obras, através de subvenções previstas na legislação francesa”.

Um trabalho de fundo, está a ser executado tanto em Portugal como em França para clarificar certas situações, de forma a melhor se poder preservar o dever de memória.

Num cemitério do Porto estão enterrados soldados de Napoleão, ali falecidos na sequência da segunda invasão francesa. “Pourparlers” estão em curso para melhor dignificar a memória desses soldados e de quantos faleceram em território português.

O General Chito Rodrigues anunciou no seu discurso, durante as cerimónias do 13 de abril último, que estão em curso negociações para que o Cemitério de Richebourg possa, num futuro próximo, fazer parte dos Monumentos nacionais de França. (ver AQUI)

Por detrás desta questão, estarão a ser abordadas razões financeiras de conservação e remodelação do cemitério português.

Tudo indica que há, pois, boa vontade em se preservar a memória da participação dos Portugueses durante a I Guerra mundial, através do Cemitério militar português de Richebourg.

As necessidades de renovação, de preservação são enormes. João Marques, da Union Franco-Portugaise, principal obreiro das Cerimónias em Richebourg e La Couture desde os anos 1990, em declarações ao Ponto.pt, dizia, no fim das cerimónias deste ano, em Richebourg, que “são necessários cerca de 2 milhões de euros para renovarmos as campas do cemitério, isto feito, ficaríamos descansados para 100 anos”.

A questão que se coloca é se não seria melhor fazerem-se obras de renovação completa das lápides e da entrada do cemitério, em vez de se fazer ajustamentos anuais, tomando como exemplo os cemitérios do Commonwealth, cujas camps estão direitinhas e bem alinhadas? Não será uma das exigências da Unesco?

Para que assim seja, será necessário que orçamento, independente do que anualmente é atribuído pelo Estado Português à Liga dos Combatentes, seja votado. Dignificaria Portugal e a memória dos soldados do CEP.

O atual contexto de guerra da Europa deve-nos fazer lembrar, a todos, os sacrifícios exigidos aos nossos antepassados pela defesa dos valores da liberdade, da justiça e da paz, que tanto queremos preservar.

Ana Isabel Xavier, Secretária de Estado da Defesa Nacional de Portugal, no seu discurso no Cemitério Militar Português em Richebourg disse, no sábado, 13 de abril, que “todas as cerimónias são insuficientes para honrar a memória dos combatentes”.

Para que sejam honrados os três soldados sepultados em Richebourg, cujas lápides foram substituídas, eis o que se sabe sobre eles:

António Fernandes: filho de João Fernandes e Maria de Jesus, originário de Amieso (Sertã), casado com Rogéria Fernandes. Embarcou em Lisboa a 8 de agosto de 1917. Ferido em combate a 9 de março de 1918, acabou por falecer no dia seguinte. Enterrado num primeiro tempo no cemitério de Merville, cova 5, talhão II, os restos mortais encontram-se agora no Cemitério de Richebourg, no quadrado B, linha 3, campa 9.

Joaquim Coelho Pimentel: filho de Domingos Cação Coelho Pimentel e Antónia Pereira, originário de Cova de Lavos (Figueira da Foz), casado com Rosa Martelo Nova. Embarcou a 22 de fevereiro de 1917. A partir de 22 de junho de 1917 até falecer, percorreu diversos hospitais, com algumas altas pelo meio. É julgado incapaz para todo o trabalho a 19 de maio de 1918. A 22 de junho de 1918 entra no hospital inglês de Cherbourg, vem a falecer dois dias depois, de tuberculose pulmonar. Enterrado no cemitério de Tourlaville, cova 9, foi mais tarde transladado para Richebourg onde está no talhão C, linha 18, campa 1.

José Luiz Nobre: filho de João Luís Nobre e Rita de Jesus Ribeiro, solteiro. Nasceu em Redondo (Évora). Embarcou de Lisboa a 20 de janeiro de 1917. Nomeado motorista a 14 de maio de 1917, baixa à Ambulância de 2 a 6 de dezembro de 1918, no dia 20 é evacuado para o HB1, onde vem a falecer no dia 22 de dezembro, de abscesso cerebral. Primeiro foi sepultado em Ambleteuse, na cova n°58, caixão 114 e foi novamente inumado em Richebourg, talhão D, linha 22, campa 8.

LusoJornal