LusoJornal | António Marrucho

Primeiras cerimónias da Batalha de La Lys em Boulogne-sur-Mer e em Ambleteuse

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O dia 3 de abril de 2022 ficará na história das comemorações da Batalha de La Lys.

Pela primeira vez, para além das habituais cerimónias no Cemitério Militar Português de Richebourg, e junto ao Monumento ao soldado português em La Couture, realizaram-se também cerimónias no Cimetière de l’Est de Boulogne-sur-Mer e em Ambleteuse, de forma a homenagear todos os soldados do Corpo Expedicionário Português e em particular os 44 soldados sepultados no Talhão Português de Boulogne-sur-Mer. Estes eventos lembraram também que Ambleteuse foi uma localidade por onde passaram milhares de soldados portugueses antes de irem para as trincheiras da linha da frente. Ali estavam localizados hospitais do CEP, não muito longe dos ingleses.

 

Cerimónias em Boulogne-sur-Mer

De realçar, este ano, a presença de numerosos jovens soldados vindos de Portugal, oriundos dos três ramos das Forças Armadas. Foram eles que prestaram as honras militares, orgulhosos de terem sido escolhidos para representar Portugal nestas cerimónias.

Presidiu às cerimónias o General Chito Rodrigues, Presidente da Liga dos Combatentes.

Em todos os discursos da manhã, durante as celebrações, falou-se dos símbolos da paz e da reconciliação dos povos, momentos de paz, momento que se evoca quantos participaram e padeceram na I Guerra Mundial. A Ucrânia também foi lembrada, desta vez como lugar de guerra. Dois terríveis conflitos não serviram de exemplo para evitar tais males.

Em Boulogne-sur-Mer, as cerimónias, em frente do Memorial português, recentemente renovado, iniciaram-se sob um frio excecional para a época.

Discursaram Frédéric Cuvelier, Maire da cidade, o General Chito Rodrigues, Presidente da Liga dos Combatentes, o General José Nunes da Fonseca, Chefe do Estado Maior da Exército e Mady Dorchies, Conselheira Regional Delegada com o pelouro do Dever de Memória. Seguiu-se uma evocação religiosa pelo Bispo D. Rui Valério, Capelão-chefe das Forças Armadas Portuguesas.

Depois da colocação de ramos de flores pelas entidades presentes, os Hinos nacionais de Portugal e França foram entoados pela Orchestre Harmonique de Boulogne-sur-Mer e por músicos-militares portugueses.

 

Cerimónias em Ambleteuse

Saídos do Cemitério de Boulogne-sur-Mer debaixo de chuva misturada com granizo, foi com um bonito sol que, em Ambleteuse, prosseguiram as cerimónias, desta vez em frente do monumento mandado erigir em 1919 pela Cruz Vermelha Portuguesa.

As boas-vindas e primeira evocação coube ao Maire Stéphane Pinto, neto de José Pinto, soldado do CEP. José Pinto casou na aldeia vizinha de Audresselles, em agosto de 1918.

Seguiram-se discursos do representante da Liga dos Combatentes, do representante do Estado Maior das Forças Armadas de Portugal e da Conselheira Regional.

Do primeiro monumento construído em honra dos soldados portugueses da I Guerra Mundial, os participantes caminharam até ao Cemitério da localidade. Ali inauguraram a cruz portuguesa recentemente renovada, e que ali está, oficialmente, desde 17 de outubro de 1930. Trata-se de uma cruz que honra os soldados portugueses falecidos e que ali foram enterrados. Os restos mortais foram posteriormente trasladados para o Cemitério Militar Português de Richebourg.

A cruz que ali permanecia praticamente esquecida durante dezenas de anos, foi pintada com a cor inicial, avermelhada. Duas lápides foram desvendadas pelas personalidades presentes e o texto das mesmas foi lido por uma jovem cujo antepassado português também participou na I Guerra Mundial.

Na lápide colocada no lado direito podemos ler: «Le 17 avril 1930, sous l’égide de Louis Turck, Maire d’Ambleteuse, et à l’initiative de Miguel Fábio, Président des Anciens Combattants Portugais à Boulogne-sur-Mer, cérémonie eut lieu afin d’élever cette auguste Croix du Christ. Elle honorait ainsi 271 Martyrs de la patrie, regroupés à la Division portugaise, dont 146 décédés à Ambleteuse, que l’œuvre de la Commission Portugaise des Sépultures de Guerre, dont la Liga dos Combatentes en est l’héritière morale et dévouée…».

Na lápide da esquerda lemos: «Au cimetière communal d’Ambleteuse ont été inhumés entre 1917 et 1919, 146 Martyrs du Quartier-General et de la base logistique et hospitalière puis, après la terrible Bataille de La Lys, à la date du 9 avril 1918, il y a eu ceux du Quartier Général du Corps Expéditionnaire Portugais et de ses hôpitaux, dont celui de la Croix Rouge Portugaise, qui depuis ont été réinhumés au Cimetière Militaire Portugais de Richebourg-l’Avoué…».

 

Uma exposição em Ambleteuse

O historiador Georges Viaud explicou o contexto de Ambleteuse na participação portuguesa durante a Grande Guerra, lembrando que a presença em solo de Flandres do CEP não terminou com a Batalha de La Lys. Em Ambleteuse, os últimos soldados do Corpo Expedicionário Português partiram quando o ano de 1919 já ia bem avançado.

Evocados durante o discurso de Georges Viaud no Cemitério de Ambleteuse, este confirmou, no momento da inauguração da exposição, concebida pelo mesmo historiador sobre Ambleteuse no quadro da participação portuguesa na I Guerra Mundial, que muito há a dizer e a corrigir sobre certos dados: cerca de 2.652 mártires da pátria portuguesa terão ficado em terras estrangeiras, para além dos que estão sepultados em Richebourg (1.831), em Boulogne-sur-Mer (44) e em Antuérpia (7).

Georges Viaud diz que temos acesso ao boletim militar através da internet, contudo a caderneta militar dos soldados do CEP tem de ser solicitada aos arquivos militares. Nestes arquivos estão armazenadas 2.000 caixas com documentação do CEP, as quais estão longe de terem sido consultadas e exploradas em detalhe, embora estejam repertoriadas.

Georges Viaud lembrou que a Batalha de La Lys começou em 9 de abril, mas só terá terminado a 29 do mesmo mês e – segundo a pesquisa por ele efetuada – 10.271 soldados do contingente português terão sido feitos prisioneiros e não 7.200, como habitualmente evocados.

As cerimônias da Batalha de La Lys lembram os que partiram e que participaram na I Guerra mundial, mas também lembram que ainda muito está por fazer, para se conhecer melhor a participação portuguesa no conflito armado.

Observámos durante as cerimónias José Pinto, filho do soldado José Pinto, emocionado por tudo o que se passou em Ambleteuse durante o domingo 3 de abril. O filho, Stéphane Pinto, Maire da cidade – também pescador, como o pai, interlocutor do Sindicato dos pescadores franceses aquando do Brexit -, diz-se com vontade que outros momentos fortes sobre Portugal tenham lugar na sua cidade, apoiado pela municipalidade e muito especialmente pela Maire-Adjointe com o pelouro da cultura, Catherine B’Aheu, que muito contribui para que o dia 3 de abril de 2022 fique na memória de quantos ali estiveram.

 

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