Saúde: Mudança da hora na perspetiva das mulheres_LusoJornal·Saúde·18 Abril, 2025 Para nos sentirmos bem e dormirmos bem é fundamental que o nosso relógio interno (ritmo circadiano) esteja alinhado com o relógio externo. A vida da mulher moderna é repleta de desafios. Entre ser mais produtiva no trabalho, cumprir aquela deadline, levar os miúdos à escola, organizar aquela viagem, sair com as amigas… Há tempo para tudo menos para dormir. Esta mudança da hora na Primavera obriga a mais um desafio que implica termos um dia de 23 horas, agravando o problema da privação de sono preexistente, com mais sonolência nos dias seguintes, menor atenção e concentração, menos rentabilidade no trabalho ou no treino e risco de sonolência ao volante. Por outro lado, nunca gostamos de mudar para pior. E se é verdade que pode parecer simpático termos sol até mais tarde, também é verdade que o horário de verão é o menos saudável para o nosso sono – a exposição tardia à luz inibe a produção de melatonina, atrasando o início do sono e agravando a sua qualidade. A falta de luz pela manhã dificulta o despertar, com mais inércia e pior performance. As pessoas que mais sofrem com a mudança são as que estão mais privadas de sono, as que têm os cronotipos mais vespertinos (“corujas”), os adolescentes e as pessoas que já dormem mal. Sabemos que a insónia (dificuldade em iniciar ou manter o sono) e a síndrome de pernas inquietas (sensações desagradáveis nas pernas piores ao final do dia e com o repouso e que melhoram com o movimento e são causa de despertares noturnos) são doenças que afetam mais as mulheres do que os homens. Por outro lado, embora se pensasse que a apneia do sono era mais prevalente nos homens, sabemos cada vez mais que isto pode não corresponder à verdade. Quando pensamos em apneia do sono imaginamos um homem de meia-idade, com excesso de peso, que ressona durante a noite e que adormece em qualquer lado. Sabemos que o ressonar e a sonolência não são sintomas habituais nas mulheres com apneia do sono. E não apenas porque os maridos durmam tão bem que não reparem no ressonar. Nas mulheres predominam as queixas de sono não reparador, a insónia com muitos despertares e dificuldade em manter o sono, as alterações do humor com maior labilidade emocional e ansiedade ou irritabilidade, as dificuldades de concentração e memória. Estes sintomas menos exuberantes atrasam muitas vezes o diagnóstico. As mulheres com dificuldade em dormir, com sono não reparador, insónia e/ou despertares frequentes durante a noite vão sofrer mais com a mudança de horário, com maior dificuldade em adormecer e manter o sono e mais sintomas no dia seguinte. Estes sintomas podem persistir vários dias após a mudança de hora. Para tentar minimizar os efeitos da mudança vale a pena dormir bem na semana prévia (7 a 9 horas de sono no adulto), garantir uma boa exposição matinal à luz e limitar a mesma à noite (dispositivos eletrónicos incluídos). Uma boa higiene do sono pode ser a arma secreta para se adaptar melhor à mudança, mas é essencial procurar ajuda médica especializada se sente que não dorme bem ou que o sono não é reparador. Dormir melhor pode fazê-la conhecer a melhor versão de si mesma. . Dra. Vânia Caldeira Médica pneumologista e especialista em Medicina do Sono Coordenadora da Comissão de Trabalho de Patologia Respiratória do Sono