Exposição em Arras mostra visões de três artistas portugueses sobre a Grande Guerra

Um século depois da participação portuguesa na Grande Guerra, a cidade francesa de Arras vai expor obras de um pintor que esteve na frente de batalha, Adriano de Sousa Lopes, associado aos contemporâneos Alexandre Conefrey e Daniel Barroca.

A exposição «Le Portugal au Front: Visions d’artistes (1918-2018)» vai estar patente de 9 de abril a 7 de maio, no Museu das Belas-Artes de Arras, e vai juntar 16 desenhos de Sousa Lopes, 32 desenhos de Alexandre Conefrey e um vídeo de Daniel Barroca.

A mostra é comissariada por João Pinharanda, Conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em França, que quis juntar imagens centenárias do Capitão do serviço artístico do Corpo Expedicionário Português (CEP) a trabalhos de artistas de hoje que «repensaram a Primeira Guerra Mundial a partir de linguagens contemporâneas».

De Adriano de Sousa Lopes (1879-1944), o «oficial-artista» que acompanhou os soldados lusos nos campos de instrução e nas trincheiras, vão ser apresentados 16 desenhos documentais, realizados a carvão, «datáveis de 1917-1918».

Uma parte são desenhos para instrução das tropas que mostram posições de ataque, de defesa, movimentos de manejamento das armas, de lançamento de granadas e técnicas de combate, e outra parte é constituída por obras que retratam «o quotidiano da guerra, nomeadamente, os bombardeamentos do 09 de abril» da Batalha de La Lys, onde o CEP foi destroçado pelos alemães.

De Alexandre Conefrey, que nasceu em 1961 e que «sempre trabalhou muito longamente questões de guerra», vão ser mostrados 32 desenhos inéditos e realizados este ano sobre «episódios da Primeira Guerra Mundial» a partir de imagens tiradas da Internet e que ilustram «momentos da vida quotidiana dos soldados nas trincheiras».

No fundo, são «séries repetitivas sobre imagens idênticas que tornam coloridas imagens que eram a preto e branco» e que se declinam também em termos formais, tornando «mais angustiantes imagens que já são angustiantes porque se repetem muitas vezes», descreveu João Pinharanda.

Daniel Barroca, nascido em 1976 e que também se debruça frequentemente sobre o tema da guerra em vídeos que ilustram «campos de ruína», vai apresentar um vídeo de 2003 que usa arquivos da batalha de Verdun e que «interroga a fiabilidade das imagens na reconstituição e perenidade da memória, no testemunho documental da violência e da morte».

O Comissário da exposição sublinhou, também, que quer «atualizar uma reflexão que hoje não tem ingenuidade nenhuma e que tem de ser muito crítica sobre a questão da guerra e da violência».

«No fundo, não é nada que não tenha sido feito porque o Goya já fez no século XIX uma série chamada ‘Os Desastres da Guerra’, mas às vezes julgamos que a guerra são jogos de guerra, mas não são jogos de guerra, são desastres», explicou.

No catálogo que vai acompanhar a exposição, João Pinharanda acrescenta que a mostra «pretende revelar a ainda pouco conhecida presença e ação das tropas portuguesas no decurso da I Guerra Mundial» e «resgatar a memória desses soldados», realizando-se em Arras que é, ao lado de Lille, uma das «duas cidades homenageadas pelo Estado português com o grau de cavaleiro da Torre e Espada», por terem acolhido os portugueses depois da Batalha de La Lys.

Paralelamente, de 9 de abril a 8 de maio, na Mairie de Lille, vai ser exibida a exposição itinerante «Portugal e a Grande Guerra», uma mostra da Assembleia da República Portuguesa, que explora os factos mais marcantes da participação portuguesa no conflito e o seu impacto na vida política, social e artística em Portugal.

Esta exposição está também presente, desde 8 de março até 25 de maio, no Museu del Tabac, em Andorra, que acolhe, igualmente, a mostra «Arte em Portugal 1850-1960» com 42 obras pertencentes às coleções do MNAC-Museu do Chiado e da Casa Museu Anastácio Gonçalves, incluindo trabalhos de Adriano de Sousa Lopes, que chegou a dirigir o Museu Nacional de Arte Contemporânea.

 

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LusoJornal