Associação Franco-Portuguesa de Ercuis prepara 20° aniversário “à moda de Viana”



Criada há 18 anos pela família Mota, a Associação Franco-Portuguesa de Ercuis prepara um grande evento para festejar, em 2025, os 20 anos da coletividade e quer inspirar-se nas Festas de Viana do Castelo.

A família Mota reside em Ercuis há 25 anos, uma pequena aldeia a norte de Paris, no departamento do Oise (60), e em 2018 criou um grupo folclórico que representa as danças e cantares de Viana do Castelo.

Isabel Pinheiro Mota quase nasceu num grupo de folclore. Mostra com orgulho uma fotografia onde está vestida de folclore, com apenas 5 anos de idade, com a irmã, que na altura tinha 3 anos. Foram os pais, tios, tias, e restante família que criaram a associação ACP Portugal Novo de Colombes. “Sempre gostámos de folclore, são as nossas raízes, tivemos a sorte que os nossos filhos também sempre gostaram de folclore e as nossas netinhas também. Dançam e gostam de vir aos ensaios e vestir os trajes. Isto dá-nos muita motivação”.

Isabel Mota é de Viana do Castelo, e o marido, Artur Mota, Presidente da associação, é de Braga e corresponde “à letra” ao slogan que está num cartaz afixado no muro da associação: “Viana: Quem gosta vem, e quem ama fica”.

Quando a associação criou o rancho folclórico, a escolha de Viana foi evidente! “Nem houve escolha, foi a minha mãe que decidiu” confessa Sébastien Mota, filho do casal.

O casal Mota integrou várias associações à volta de Paris, nomeadamente em Argenteuil e em Franconville. Mesmo depois de terem criado a associação de Ercuis, em 2005, dançavam noutros ranchos folclóricos. “Em 2018, decidimos criar o nosso próprio grupo” explica o Presidente.

Um grupo para representar Viana

“Criar a associação foi fácil, mas criar o rancho foi mais difícil” confessa Artur Mota. “Continuámos a dançar noutras associações e depois achámos que podia ser aqui” acrescenta Sébastien Mota.

Só os membros da família já eram bastantes elementos para o rancho. Entre pais, filhos, netos, tios e tias… o grupo já tinha um bom núcleo duro para começar. Depois juntaram-se pessoas das aulas de português que já funcionavam na associação e, por fim, a associação teve uma ideia inovadora: “em vez de convidarmos as pessoas para integrar o grupo folclórico, criámos um atelier de dança” explica Artur Mota, vestido com um traje de mordomo de S. João.

Os habitantes da aldeia de Ercuis inscreveram-se naturalmente para as aulas de dança, aprenderam danças portuguesas e, no fim de um ano, já havia alguns elementos franceses para constituir enfim o Rancho folclórico.

Cada um foi comprando os trajos, sempre com a supervisão de Isabel Mota. “Tinham de ser trajes de Viana, claro” confessa.

O rancho folclórico de Ercuis pretende representar o Rancho etnográfico da Areosa, mas também tem temas dos Ranchos de Santa Marta, da Meadela e de Cabeço.

“Quando vamos lá em baixo somos sempre muito bem recebidos e, por isso, queremos representá-los bem. Sabemos que é difícil, porque eles é que são os profissionais. Nós nunca chegaremos aos calcanhares deles, mas tentamos fazer pelo melhor para os representar” explica Artur Mota.

O casal vai regularmente a Portugal e apresenta-se sempre para ensaiar com os grupos de Viana. “Por vezes chamam-nos a atenção, nomeadamente o rancho da Areosa, eles notam os erros e ajudam-nos a corrigir. São eles que sabem. E nós damos muitos ouvidos aos conselhos deles” diz o Presidente da associação.

Também o filho do casal, Sébastien, quando lá vai, junta-se ao grupo de tocadores de acordeão, enchendo de orgulho os pais.

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Uma associação para animar a aldeia

A associação foi criada para animar Ercuis, baseando-se no princípio de uma aldeia portuguesa. “Inicialmente fazíamos pequenas festas para a gente daqui desta aldeia, mas pouco a pouco, com o decorrer dos anos, fomos crescendo e alargámos as nossas ações” garante Sébastien Mota.

Para além da habitual Festa de Carnaval, em fevereiro, e a Festa das Castanhas, em novembro, a associação organiza, em junho, uma festa maior no estádio de futebol da aldeia, com churrasco e com grupos de folclore e de bombos.

“Desde a criação da associação, organizamos festinhas para animar a aldeia. Isto faz com que as pessoas da aldeia saiam de casa, pelo menos de vez em quando, para beber um copinho, conviver e partilhar” assume Isabel Mota.

Em 18 anos de atividades, já organizaram festas, jantares temáticos, jogos tradicionais, festivais de folclore…

Na sala que ocupam, no subsolo da Biblioteca municipal, a associação criou aulas de português. Por motivo de doença da professora, as aulas estão atualmente suspensas, mas os dirigentes procuram nova solução. “Temos portugueses que querem aperfeiçoar o seu português, franceses que vão trabalhar para Portugal e também franceses que dançam no rancho folclórico e agora também querem aprender português”.

Na sala estão as “coisas” da associação, material que serve para as atividades, cartazes de Viana do Castelo na parede e um quadro de parece para apoio às aulas de português.

A um canto está uma grande maquete de um espigueiro que costuma estar em cima do palco quando o grupo organiza as suas próprias festas. “Foi feito por um senhor do rancho. Eu disse-lhe que gostávamos de ter um espigueiro, e como depois chegou o Covid, ele fez-nos o espigueiro durante essa altura. Foi uma excelente surpresa” sorri Isabel Mota.

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Prepara-se uma “mega festa” para 2025

Ercuis tem cerca de 1.600 habitantes e é conhecida mundialmente pela sua joalharia. Aqui fazem-se os mais reputados serviços de mesa e faqueiros de prata. A igreja da aldeia está inscrita no património nacional e é uma peça central da localidade, ao lado do “pombal” e de um palacete privado.

Em Ercuis não há mais nenhuma associação de outras comunidades. “A criação da associação portuguesa foi muito apoiada pelo Maire da altura, que queria que houvesse associações para animar a aldeia. Ele apoiou-nos muito, estava casado com uma portuguesa, e até tinha casa em Portugal, ia lá de férias, gostava muito de Portugal” lembra Isabel Mota ao LusoJornal, evocando Daniel Texier, já falecido.

Também o atual Maire da cidade apoia a associação portuguesa. “As pessoas daqui gostam muito de nós, acolhem bem a associação”. Ainda recentemente, quando a associação organizou um magusto, teve a sala completa poucos dias depois de ter lançado a informação. “A sala não dá para mais” lamentou Isabel Mota.

Para os 25 anos da coletividade, a associação prepara desde já um “mega projeto”. “Queríamos fazer coisas fora do costume, como vamos sempre às festas da Sra. Da Agonia, o meu filho pôs-nos o projeto à frente e nós concordámos” afirma o Presidente Artur Mota. “O nosso desejo maior é trazer cá o grupo de Areosa”.

“Queremos fazer coisas que não se vêm muito por aqui, como desfiles de gigantones, coisas que saem do ordinário” confessou Sébastien Mota. “Queremos retomar o que se faz em Viana, com desfiles, fogo de artifício, festivais de folclore, cantores populares portugueses e franceses. O princípio é fazer descobrir as nossas duas culturas, a portuguesa e a francesa”.

Mas para Isabel Mota, “o meu sonho é que as pessoas possam ir para casa alegres e que se lembrem por muito tempo da nossa festa, da alegria e do convívio. É o meu maior sonho, é a recompensa mais linda que podemos ter”.