Biblioteca da Gulbenkian em Paris transferiu-se para a Casa de Portugal na Cidade Universitária

A Fundação Calouste Gulbenkian – Delegação de França mudou a sua biblioteca para a Casa de Portugal André de Gouveia na Cité Universitaire Internationale de Paris, no processo de uma reestruturação da própria Delegação.

Depois de ter saído do Hotel Particulier que pertenceu ao próprio Calouste Gulbenkian, na avenue de Iéna, em Paris 16, a Fundação instalou-se por poucos anos no boulevard de la Tour Maubourg, mas acabou por fechar estas instalações para se instalar na Maison des Sciences de l’Homme, no Boulevard Raspail, enquanto que a biblioteca abriu as suas portas na Casa de Portugal.

“A biblioteca já está a funcionar em pleno nas novas instalações. Como foi anunciado, estava prevista a abertura oficial em meados de março, mas por causa da pandemia de Covid-19 fomos obrigados a suspender essa inauguração” diz o Diretor da Delegação Miguel Magalhães. “Mas já abrimos ao público no dia 1 de junho, com todas as condições previstas e com algumas condições adicionais resultantes da crise. Temos menos lugares disponíveis para os nossos leitores, mas em contrapartida alargámos o nosso sistema de empréstimo de forma a que todos os leitores possam recorrer aos nossos livros”.

Antes de acolher a Biblioteca, em 2019, a Fundação Calouste Gulbenkian assinou um Protocolo com a Cidade universitária, e realizou obras na Residência, adaptando algumas salas para receber os arquivos com todas as condições de temperatura e de controlo de humidade, adaptando também a sala de leitura.

A Biblioteca da Gulbenkian em Paris tem 63.000 volumes. “É uma biblioteca especializada, essencialmente para investigação e as suas áreas são fundamentalmente a literatura, os estudos literários, a história e todas as ciências sociais e humanas que tocam de alguma forma com a história de Portugal, a história da expansão e da emigração, assim como a arte e a arquitetura em termos gerais. Temos também uma coleção de periódicos com um fundo patrimonial importante” explica Miguel Magalhães numa entrevista “live” ao LusoJornal.

A Biblioteca começou a ser constituída logo em 1960, em Lisboa, nos primeiros anos da Gulbenkian, e abriu em Paris em 1965. “Uma parte das coleções chegaram a estar armazenadas no Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, antes de as trazerem para França. Foi o Dr. Azeredo Perdigão que pediu ao professor Coimbra Martins, nosso antigo Diretor, para constituir esta biblioteca em 1965”. Foi inaugurada pelo próprio Azeredo Perdigão e por André Malraux, no dia 3 de maio de 1965.

“Temos cerca de 3.000 leitores por ano, essencialmente universitários em diferentes momentos do seu percurso académico” diz o Diretor da Delegação. “É uma biblioteca aberta a todo o público, toda a gente pode visitar, apenas basta apresentar um documento de identidade e um certificado de residência para poder levar livros para casa”.

 

A Gulbenkian vai continuar a apoiar a arte contemporânea

Com a instalação da Gulbenkian na Maison des Sciences de l’Homme, a Delegação de França da Fundação deixou de ter espaços próprios para organizar eventos e exposições. “Nas novas instalações temos salas de conferências, temos boas condições para acolher o público, mas a grande diferença traduz-se no facto de deixarmos de organizar exposições intramuros” explica Miguel Magalhães ao LusoJornal. “A partir de 2020 passamos a apoiar a realização de exposições com artistas portugueses em instituições francesas, nos museus, nos centros de arte, em festivais”.

A instituição abriu um concurso durante o primeiro semestre deste ano ao qual se candidataram 22 instituições. “Estamos convencidos que a melhor forma de apresentar os artistas contemporâneos portugueses passa pelas instituições francesas” garante Miguel Magalhães. “Recebemos a candidatura de 22 instituições francesas interessadas em realizar exposições com artistas portugueses. Mesmo se não podem ser todos apoiados, estamos a falar de 50 artistas portugueses. Isto é: passamos de 2 exposições por ano, nos nossos espaços, para apoiar 50 artistas que expõem em instituições diferentes, um pouco por todo o território francês”.

Em 2016 a Gulbenkian já tinha organizado uma exposição de Amadeu de Sousa Cardoso no Grand Palais, em Paris e no ano passado, apoiou uma retrospetiva de Lourdes de Castro na Orangerie, em Paris. Estas duas exposições acabaram por “servir de teste para o que agora estamos a tentar implementar. Conversámos com muitos artistas, muitas instituições, muitos curadores, ao longo dos últimos dois anos, para tentar perceber quais eram de facto as necessidades destes artistas destes atores e quais eram as expectativas que o setor esperava do apoio da Fundação”.

A Fundação Calouste Gulbenkian também vai coproduzir duas exposições no quadro da Presidência portuguesa na União Europeia, a serem inauguradas em Bruxelas, e que depois serão apresentadas em França, no quadro da Temporada Cruzada Portugal-França.

“A primeira é uma exposição dedicada às mulheres artistas portuguesas no século XX, até aos nossos dias. É uma exposição importante e que nos chega num momento particularmente importante do debate no papel das mulheres artistas num contexto mais alargado das sociedades” explica o Diretor da Delegação da França da Gulbenkian. “Essa exposição estará primeiro em Bruxelas e só depois viaja para o Centre de Création Contemporaine Olivier Debré, em Tours, desenhada pelos irmãos arquitetos Aires Mateus”.

A segunda exposição chama-se “Europa Oxalá” e é “dedicada aos jovens artistas europeus descendentes da imigração em geral”, em coprodução com o Mucem – Musée des Civilisations de l’Europe et de la Méditerranée – de Marseille e o Museu da África em Bruxelas. Depois de Bruxelas, vai ser apresentada em Marseille.

Em jeito de conclusão à entrevista ao LusoJornal, Miguel Magalhães disse ainda que “uma das questões em que estou a trabalhar agora, é de largar os apoios aos artistas portugueses em contexto de galerias comerciais. Este é um outro recurso para os artistas e nós estamos agora a considerar, a estudar, se faz sentido apoiar”.

 

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