Casa de Santa Marta de Portuzelo de Pantin reconstituiu uma feira portuguesa em Chessy

O grupo folclórico da Casa de Santa Marta de Portuzelo de Pantin organizou o seu 10° aniversário no domingo passado, dia 10 de novembro, numa sala do grupo escolar Cornélius, em Chessy (77).

Foi um festival com um conceito novo, posto em prática pelos dirigentes da associação, reconstituindo uma feira do início do século passado, com tendas de venda de pão, frutos e legumes, enchidos, chouriços, salpicões e presuntos. Também havia quem vendesse castanhas, chapéus de palha, tecidos e tamancos. “Queríamos fazer uma coisa diferente. Os festivais são sempre em cima de um palco. Nós quisemos reconstituir uma feira e dançar aqui no meio da feira, recriar um ambiente de feira e tentar fazer participar os grupos” explica Vítor Peixoto, Presidente do grupo organizador.

Até o pelourinho de Santa Marta de Portuzelo estava representado. “Com a ajuda da Comissão de festas de Santa Marta de Portuzelo, eles emprestaram-nos uma cópia do cruzeiro”.

Para além do grupo da casa, participaram também os grupos EmCanto de Levallois Perret, Cravos Dourados de Pavillons-sous-Bois, Etnográfico Povo da Nóbrega de Créteil, assim como dois grupos de outros países: O Ribatejo de Bruxelas e o Grupo Etnográfico do Alto Minho do Luxemburgo.

Embora o grupo seja de Pantin, foi organizar o Festival em Chessy “porque temos elementos que moram aqui e o Maire desta cidade emprestou-nos esta sala. É difícil ter salas na região parisiense” explica Vítor Peixoto.

O grupo foi criado por três amigos – Ana Maria Costa, Ana Cerqueira e Olivier da Silva Ferreira – que já não estão no rancho. Atualmente o grupo tem 57 elementos, que ensaiam todas as sextas-feiras. O mais novo tem apenas dois anos. “Eu sou uma das mais antigas” diz ao LusoJornal a cantadeira Emília Faria. “O ambiente é muito bom. Temos de respeitar todas as pessoas porque todos temos defeitos e qualidades. É verdade que num grupo há sempre contos e ditos, mas temos de passar por cima e temos sabido gerir as situações”.

O ensaiador é Mickael de Araújo, jovem nascido em França. “Fizemos muitas procuras em arquivos, algumas pessoas do nosso grupo nasceram lá e conhecem bem” explica ao LusoJornal. “Realmente eu nasci dentro do folclore, é uma paixão que me foi transmitida pelos meus pais. Não podemos conhecer tudo, mas ajudamo-nos uns aos outros e tentamos desenvolver os nossos conhecimentos”.

Mickael de Araújo explica que “o grupo representa hoje um povo que existiu há muitos anos, queremos recriar autenticamente a forma como viveram. Nós sabemos que é complicado, sabemos também que nunca vai ser perfeitamente autêntico, mas vamos tentando”.

O ensaiador confessa que o mais difícil é encontrar trajos de época. “Graças a Deus conseguimos algumas peças mas está a ficar complicado. Os lenços autênticos estão a desaparecer ou já não os vendem. Para os tecidos, tentamos sempre ir ao mais próximo”.

O grupo participa em festivais na região parisiense, “mas temos aproveitado para participar em Festivais noutras regiões de França e no estrangeiro” explica Vítor Peixoto. O grupo da Casa de Santa Marta de Portuzelo já atuou na Bélgica, no Luxemburgo, na Suíça,…

Regularmente o grupo organiza atividades para recolha de fundos. No sábado 9, no dia anterior ao Festival, o Serão de Rusgas, na mesma sala, foi também um sucesso.

“As pessoas de Santa Marta são vaidosas, nós temos de mostrar vaidade, sorrir para dar um bom aspeto” argumenta Emília Faria, cujo grupo foi o primeiro a atuar no domingo.

Vítor Peixoto diz que o grupo ainda não está em condições para ser federado, mas anuncia que vão organizar, com a Delegação de França da Federação do Folclore Português, um desfile de trajes.

“Há muitos grupos de folclore portugueses, em toda a França, têm muita juventude, mas há muito trabalho a fazer para melhorar as coisas, para representar melhor o Portugal daquela altura” diz Vítor Peixoto. Depois, acrescenta com motivação que “as coisas estão a mudar, os jovens estão a atuar bem. Um amigo diz-me muitas vezes que ‘o bonitinho é inimigo do folclore’ e é verdade. Nós não devemos mostrar só as saias com brilhinhos, não são só trajos de ricos, há também os trajos de pobres. Devagarinho, os grupos têm estado a mudar e nós estamos a tentar fazer mudar as ideias”.