LusoJornal | Francisco Martins CamposClermont-Ferrand: Um Consulado Honorário para servir 30.000 cidadãos de 7 departamentosFrancisco Martins Campos·Comunidade·20 Junho, 2024 Quem já foi ao Consulado de Clermont-Ferrand, em Cébazat, a nordeste da capital da Auvergne, viu certamente a fachada do grupo Titel, mas viu também o escudo português, a calçada interior e a oliveira no hall de entrada, lembrando as paisagens transmontanas. Cada cidadão é acolhido pela hospitalidade duma empregada do grupo, lembrando à Comunidade que está “em casa”. Depois de passar a porta do Consulado, no fundo do hall chegará a uma sala cheia de referências à cultura portuguesa, a começar por um mural de azulejos sobre as “Descobertas”, a bandeira de Portugal e o retrato do Presidente da República. Os dois escritórios onde os utentes são atendidos têm o nome de Porto e de Lisboa, lembrando novamente aos cidadãos portugueses espalhados pela região que estão em Portugal. Uma realidade, várias histórias Atualmente em Cébazat, a 7 km de Clermont-Ferrand, o Consulado honorário passou por várias fases e instalações. O recrutamento massivo da empresa Michelin nos anos setenta do século passado gerou uma imigração portuguesa massiva para a cidade e para a região, necessitando então da implantação do primeiro Consulado português na zona central de Clermont-Ferrand de maneira a tratar dos atos administrativos essenciais da Comunidade. Desde esse período, o Consulado permaneceu no 1 rue Philippe Grangeaud, no ‘centre-ville’ de Clermont-Ferrand, até que o Estado português decidiu reconfigurar o mapa dos Consulados e França e encerrou o de Clermont-Ferrand. Durante mais de um ano e meio, o então Presidente da Câmara de comércio e da indústria do Puy-de-Dôme da época, Isidore Fartaria, mobilizou-se contra o encerramento das instalações. O Estado português nomeou-o então Cônsul Honorário em 2011 e, por sua iniciativa, acolheu as instalações do Consulado na sede da sua empresa, ou seja, na zona industrial de Ladoux, na rue bleu, em Cébazat. “O Secretário de Estado das Comunidades da época, José Cesário, pediu-me para dar uma ajuda nesse sentido devido às dificuldades do Estado” afirma ao LusoJornal Isidore Fartaria. O Estado pôs à disposição do recém Cônsul honorário uma funcionária sob tutela do Consulado Geral de Portugal em Lyon. Com efeito, o Governo português decidiu atribuir “poderes alargados” a alguns Cônsules honorários entre os quais o de Clermont-Ferrand. “O selo branco, é da competência dos Consulados gerais, mas neste caso foi atribuído ao nosso Consulado honorário de Clermont-Ferrand” confirma o Isidore Fartaria. Mas antes de se instalar na zona industrial de Ladoux, em Cébazat, o Consulado passou temporariamente por Chamalières (Oeste de Clermont-Ferrand) na Casa das Associações, com ajuda do Maire Louis Giscard d’Estaing. Em 2020, Isidore Fartaria propõe um projeto de renovação da sede da sua empresa e com isso, também do Consulado honorário, oferecendo ao Estado português um espaço novo. Em 2022, o posto consular passou a ter duas funcionárias, dado o fluxo administrativo crescente. Uma autoridade central A área geográfica do Consulado honorário de Portugal em Clermont-Ferrand abrange sete departamentos – Puy-de-Dôme (63), Creuse (23), Nièvre (58), Corrèze (19), Cantal (15), Allier (03) e Haute-Loire (43) – assegurando os atos administrativos essenciais da Comunidade. “O que representa mais de 30.000 cidadãos simplesmente porque também recuperamos o fluxo dos outros Consulados que têm menos vagas para atender os utentes” assegura o Cônsul honorário. A questão eleitoral Em 2023, quando ouve as eleições dos representantes das Comunidades portuguesas em França, a abertura duma mesa de voto em Clermont-Ferrand foi posta em causa pelo Cônsul-Geral de Portugal em Lyon, André Sobral Cordeiro. A partir daí, a pressão mediática da Comunidade foi crescendo, obrigando o Governo a exigir a abertura da mesa de voto. Em entrevista ao LusoJornal, o Cônsul Honorário explicou que “aquela situação aconteceu porque o número de votantes a cada eleição não justificava a abertura de uma mesa de voto que necessita de 5 a 6 pessoas, ou seja, os funcionários de Clermont-Ferrand, mais alguns de Lyon”. Mas a democracia, quando nasce é para todos e o Governo português entendeu que a fraca participação eleitoral não deve ser razão para encerrar a mesa de voto, mas deve ser estímulo para motivar os Portugueses a participarem mais civicamente. Esse trabalho de motivação ainda está por fazer. “A Comunidade tem de compreender uma coisa: se querem manter o Consulado em Clermont-Ferrand têm de declarar uma morada em França, pelo simples facto que se não o fazem, os números de beneficiários não justificam a presença de um Consulado. E isso é grave tendo em conta o número de portugueses e de lusodescendentes no território”. Uma localização na periferia As críticas atuais da diáspora a propósito do Consulado não se referem tanto aos serviços propostos, mas sobretudo à localização do mesmo. Estando a 7 quilómetros a nordeste da cidade, o Consulado é difícil de acesso para aqueles que vivem no centro, sem viatura. O Cônsul ouve essas críticas, mas afirma que “quem se queixa é sobretudo quem vive na cidade de Clermont-Ferrand, porque quem vem de fora, tem aqui mais facilidade de estacionamento. E se os cidadãos tivessem de tirar dias de folga para ir ao Consulado de Lyon, seria ainda pior”.