Emmanuel Demarcy-Mota diz que Portugal precisa do seu próprio conceito para a Temporada Cruzada

O encenador Emmanuel Demarcy-Mota, Presidente da temporada cultural cruzada entre Portugal e a França 2021/2022, diz que não haverá lógica de “exportação” do conceito francês, e que cabe a Portugal encontrar o seu próprio conceito, nesta iniciativa.

“É evidente que quando se é Presidente de uma temporada cruzada, não se pode aceitar uma dominação francesa. Não se trata aqui de uma exportação de um conceito francês. […] Ao início este é um conceito francês, mas a minha posição é que Portugal também precisa desenvolver um conceito diferente”, afirmou o Presidente desta iniciativa em entrevista à Lusa.

Emmanuel Demarcy-Mota, encenador e Diretor do Théâtre de La Ville, em Paris, foi escolhido pelos dois Governos para liderar o intercâmbio cultural que se vai desenvolver entre França e Portugal, durante 2021 e 2022.

A temporada “é a necessidade de criar uma ligação formal durante um tempo concreto e real onde dois países vão poder trocar e pensar em conjunto questões sobre a cultura, as artes, mas também sobre outros assuntos como educação ou turismo”, definiu o encenador.

A sua escolha como Presidente deste encontro deve-se, segundo o próprio, às mostras dadas na concretização de ideias – há dez anos que organiza o evento Chantiers de L’Europe, que todas as primaveras, reúne em Paris diferentes manifestações culturais europeias, incluindo portuguesas, e dirige igualmente o conceituado Festival de Outono -, mas também à sua dupla nacionalidade luso-francesa, vivida a 100%.

“É evidente que eu tenho o desejo de defender os dois países. Para mim não há oposição nem há dominação. A minha mãe é portuguesa, o meu pai é francês e teve um fascínio por Portugal. A minha educação foi feita pelo desejo de cada um pelo outro. […] Eu sou 100% francês e 100% português, e isso é possível”, referiu, embora admita que são “duas coisas muito diferentes”.

Emmanuel Demarcy-Mota é filho da atriz Teresa Mota e do encenador Richard Demarcy, tendo vivido entre as duas culturas e as experiências dos dois países, chegando a passar alguns anos da sua infância em Portugal, no pós-25 de Abril. No entanto, ao contrário da sua experiência pessoal, considera que ainda há desconhecimento entre os dois países.

“Há uma relação entre os dois países através da História e no tempo presente, mas isso não quer dizer que há um grande conhecimento. Eu não posso dizer que hoje há um grande conhecimento dos Franceses sobre a cultura portuguesa, sobre o que é a história de Portugal, sobre as artes”, afirmou.

O objetivo do Presidente desta iniciativa é assim criar um conhecimento para o futuro. “Há a necessidade de trabalhar uma relação entre os dois países ligada a um conhecimento para o futuro, para trabalharmos juntos dentro de um espaço que se chama Europa”, defendeu.

Este intercâmbio cultural, segundo Demarcy-Mota, irá além de manifestações artísticas, e vai alargar-se à educação e à ciência. “Estamos a falar das artes, mas não só. Estamos a falar da educação, das línguas e do seu ensino. Outro ponto importante é a ciência: qual é o desenvolvimento hoje? Mas também a ligação entre as universidades e a questão do ambiente”, indicou o Presidente da temporada cruzada.

Todas estas disciplinas devem servir para mudar trajetórias no pós-2022. “Temos de deixar marcas que fiquem no cérebro e no corpo de cada um. Tem de haver produções dentro da temporada que vão mudar trajetórias pessoais e coletivas. […] Estamos a perceber neste momento a nível político, no espaço europeu, que é fundamental pensar o que podemos inventar nesta nova década”, concluiu.

A Temporada Cruzada França-Portugal, anunciada em 2018, terá lugar em simultâneo nos dois países, de julho de 2021 a fevereiro de 2022, na sequência da presidência portuguesa da União Europeia, até à presidência francesa, e contará com uma programação comum, pluridisciplinar, nos territórios dos dois países, nas áreas da cultura, da educação, da economia, do desporto e do turismo.

O objetivo do projeto, como foi então anunciado pelos Governos dos dois países, é tornar-se um “motor da aproximação” Portugal/França, e “contribuir para a consolidação da parceria estratégica” entre ambos.

No passado mês de dezembro, o programador cultural luso-descendente Emmanuel Demarcy-Mota foi nomeado para a presidência da Temporada Cruzada, o Curador e historiador de arte João Pinharanda, atual Diretor do Centro Cultural Camões em Paris, para Comissário geral da parte portuguesa, e a historiadora de arte Victoire Bidegain Di Rosa, para a parte francesa da iniciativa.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]